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Nº 1680 - Ano 36
14.12.2009

Tradição e modernidade, lado a lado

Valorização da memória e inovação são os eixos do projeto de implantação do campus de cultura de Tiradentes

Tatiana Palhares

A UFMG acaba de dar um grande passo para concretizar a implantação do campus avançado de cultura em Tiradentes, a 225 quilômetros de Belo Horizonte. No início deste mês, comissão constituída pela Reitoria apresentou projetos para os quatro prédios que vão constituir o espaço físico do campus: a Casa do Padre Toledo, o antigo Fórum, onde funciona a Câmara Municipal, a antiga cadeia pública e o Centro de Estudos.

Os edifícios, que integram o patrimônio da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, pertencente à UFMG, são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “São construções muito importantes para a história de Tiradentes e de Minas Gerais”, analisa o professor João Antônio de Paula, presidente da Fundação.

De acordo com a vice-reitora Heloisa Starling, à frente dos trabalhos da comissão, o projeto prevê a realização de atividades de ensino e difusão cultural, capazes de aliar tradição e modernidade. A ideia é que a Universidade aprofunde vocações da comunidade local e expanda oportunidades para a formação de profissionais na área cultural. Segundo a vice-reitora, a cidade abrigará o primeiro campus de cultura do país, devendo estar em pleno funcionamento até o final do ano que vem.

A Casa do Padre Toledo será totalmente restaurada para abrigar o Museu Casa do Inconfidente Padre Toledo. Heloisa Starling salienta que a construção tem grande valor histórico. “Lá foram discutidas importantes questões da Inconfidência Mineira, como o posicionamento sobre a abolição da escravatura e a elaboração de estratégias para o fechamento tático do Sul do estado”, conta.

Na opinião da vice-reitora, Padre Toledo é um dos personagens mais interessantes da Inconfidência Mineira. “Era um homem culto, apreciador de música e muito polêmico. Durante a Inconfidência, Padre Toledo planejou montar um batalhão para impedir os portugueses de entrar nas minas. Foi também um homem muito rico, dono de uma tecelagem clandestina, já que as indústrias eram proibidas na colônia”, lembra.

Já a casa onde funciona a Câmara Municipal abrigará o Centro de Pesquisa e Experimentação em Sistemas Multimodais, núcleo avançado de estudo e produção de novas mídias. No local, serão disponibilizados equipamentos de ponta destinados a trabalhos audiovisuais tradicionais, como filmes e documentários, mas também experimentos com celulares, produção de jogos, arte computacional, instalações, entre outros campos inovadores. Segundo o professor da Escola de Belas-Artes Francisco Marinho, que coordena a implantação do Centro, o objetivo é integrar a cidade às pesquisas desenvolvidas no laboratório, por meio da promoção de cursos de introdução e aperfeiçoamento ministrados por pesquisadores, professores e artistas.

O projeto também se baseia numa moderna concepção museológica. “O visitante poderá mirar sua câmera digital para uma obra de Aleijadinho e ter acesso a diversas informações sobre aquela escultura”, exemplifica Francisco Marinho. O local será usado para atividades do curso de museologia, oferecido pela primeira vez no Vestibular 2010 da UFMG.

Devoção e biblioteca

No edifício da antiga cadeia pública será instalado, em regime de comodato, o Museu de Santanas, iniciativa do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, em parceria com a UFMG. O Museu abrigará acervo composto por mais de 200 imagens de Sant’Ana – mãe da Virgem Maria e avó de Jesus Cristo –, confeccionadas entre os séculos 17 e 19. Originárias de várias regiões do país, especialmente de Minas Gerais, as obras materializam vários estilos e técnicas, com grande riqueza de entalhes. A devoção a Sant’Ana constitui, no Brasil colonial e imperial, um dos pontos mais significativos da religiosidade popular.

Em troca do comodato do Museu de Santanas, o Instituto Flávio Gutierrez vai instalar, no Centro de Estudos, a Biblioteca Referencial sobre o Século 18 em Minas Gerais, o quarto projeto estruturante do campus de Tiradentes.

A vice-reitora Heloisa Starling explica que a criação do campus avançado de cultura em Tiradentes é respaldada por estudos sobre as vocações da cidade, aliadas aos interesses da UFMG. Ela ressalta que, no novo campus, não haverá cursos regulares da Universidade, mas laboratórios avançados de pesquisa e museus. “Tiradentes vai ganhar muito com a presença da UFMG na cidade”, assinala.

Quanto aos impactos sobre a cultura e o turismo, Heloisa Starling espera que o campus atenda toda a população de Tiradentes – os novos moradores, que atualmente ocupam a área histórica da cidade, e os turistas –, mas que, principalmente, sirva a quem vive na periferia e nos municípios em volta, uma vez que a população original de Tiradentes não está mais na área histórica. “Queremos alcançar as pessoas, fazer com que a presença da UFMG na cidade faça diferença na vida delas”, diz a vice-reitora.

Tiradentes possui cerca de sete mil habitantes e é tombada como patrimônio histórico e artístico nacional desde 1938. A implantação do campus avançado de cultura conta com o apoio de órgãos públicos e da iniciativa privada, entre eles o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o próprio Instituto Cultural Flávio Gutierrez.

Eber Faioli A Casa do Padre Toledo vai se transformar em museu para preservar a memória de um dos mais importantes inconfidentes A Casa do Padre Toledo vai se transformar em museu para preservar a memória de um dos mais importantes inconfidentes