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Nº 1680 - Ano 36
14.12.2009


‘Campo gravitacional’ atrairá a inovação

Diogo Domingues Sá Barreto: BH-Tec será referência internacional em nano e microssistemas Sá Barreto: BH-Tec será referência internacional em nano e microssistemas

Os recursos necessários para a instalação da maior sala limpa da América Latina e os impactos na economia nacional podem, à primeira vista, parecer desmedidos. Não é o que pensam o professor Francisco César de Sá Barreto, diretor-presidente do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, a comunidade científica e dirigentes do governo mineiro.

Contas feitas, conversas entabuladas, e a decisão não demorou mais que cinco meses. A rapidez na aprovação talvez seja o mais claro sinal da dimensão do empreendimento. Laboratórios similares, que movimentam bilhões de dólares ao ano, estão presentes apenas nos Estados Unidos, Europa, Austrália, Japão, Coreia, China e Índia. “Precisamos mudar de patamar nesse segmento”, defende o professor Sá Barreto, nesta entrevista ao BOLETIM.

Por que investir em sala limpa?

O país precisa de laboratório do gênero nessas dimensões. Não nos interessava construir instalações de 200 metros quadrados. Ou mudamos de patamar ou ficamos do jeito que estamos. E mudar de patamar significa erguer uma sala limpa com características internacionais. Além de prestar um serviço novo à comunidade, o espaço será a referência internacional do Brasil na área de micro e nanossistemas. No futuro, toda e qualquer cooperação internacional do país para o desenvolvimento desses dispositivos vai levar em conta esse espaço. Nele, estarão operando pesquisadores e empresas nacionais, mas também os estrangeiros, quando fecharem algum contrato.

A adesão do governo mineiro ao projeto surpreendeu?

Na exposição que apresentei ao governo do estado, mostrei que existem uma longa história e competência, dentro da UFMG, em nanociência e nanomateriais. Com os colegas da Física, montamos uma proposta levada este semestre à Secretaria de Ciência e Tecnologia e ao gabinete do vice-governador Antônio Anastasia. Eles gostaram muito, mesmo porque um dos fatores estruturadores do estado é a economia do conhecimento. A proposta se encaixou e a resposta foi muito positiva.

O financiamento é todo do governo do estado?

Não, mas era importante trazer o projeto para Minas Gerais e obter o apoio do governo. Com ele, poderemos agregar recursos de outras fontes – federais, internacionais e empresariais. Temos um orçamento para cada ano – de 2010 a 2013. Para o primeiro ano, 2010, o governo mineiro aprovou integralmente o orçamento que foi pedido: R$ 6 milhões.

Não há risco de o projeto sofrer uma paralisia?

Como o projeto possui unidade, o que se espera é que ele se transforme em um programa do estado de Minas Gerais e que os próximos governos o assumam também. Mas espero que o governo mineiro não fique sozinho nesse financiamento.

Já há repercussões?

Essa proposta evoluiu muito rapidamente e tivemos contato com o Imec (Interuniversity Microelectronics Center), da Bélgica. É o Centro Interuniversitário para Microeletrônica, o maior na Europa. Assinamos um acordo bilateral em novembro. O objetivo é discutir uma possível parceria no campo de microssistemas, incluindo apoio no estabelecimento de um plano de negócio – eles já têm as informações do mercado brasileiro e latino-americano. Devemos definir em quais áreas do conhecimento o CMinas vai atuar, tendo em vista questões de estratégias e de negócios. Esse acordo deverá ser consolidado e, em fevereiro, espero ir ao Imec com dirigentes do governo de Minas para abrir oportunidades de investimento no CMinas. Além do Imec, recebemos convite da Universidade de Dresden, na Alemanha, para conhecermos a infraestrutura local. A cidade conta com diversos parques tecnológicos, e essa abertura ao BH-Tec pode enriquecer a montagem de nossa rede.

A sala limpa pode atrair outras empresas?

Tenho usado uma imagem da física que, às vezes, as pessoas acham engraçada. Como num campo gravitacional, ela pode criar propriedades no espaço vazio e, em torno dele, atrair diversos elementos. Isso significa que, no momento em que for instalada, a sala vai produzir mudanças e repercussões na região capazes de induzir as empresas a pensar: por que não inovar? Bastará então procurar o BH-Tec. A sala limpa tem esse aspecto de abrir possibilidades. O Brasil terá retorno e, por estar instalada aqui, o estado poderá provocar colaborações de todo o tipo.

Como as empresas podem participar do BH-Tec?

Há dois modos. A empresa apresenta um projeto aos conselhos científico e de administração do Parque. Se aprovado – como é o caso único da Fiocruz/CDTS, ela pode construir seu próprio prédio. Ou pode participar de chamada para ocupação, por aluguel, do prédio institucional. Provavelmente, será aberta chamada em janeiro próximo, para áreas como biotecnologia e tecnologia da informação. Queremos que até julho o resultado seja conhecido e que as empresas já estejam ocupando o prédio.