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Nº 1686 - Ano 36
15.3.2010

“A UFMG tem uma força muito grande”

Itamar Rigueira Jr.

A hora é de balanço. O que foi realizado, o que não foi possível fazer e o que não foi concluído mas ficou bem encaminhado? Em entrevista ao BOLETIM, dias antes de transmitir seus cargos, o reitor Ronaldo Pena e a vice-reitora Heloisa Starling revelam o que consideram mais relevante de sua gestão e contam o que têm ouvido sobre a UFMG e como passaram a ver a Universidade.

Quais foram as realizações mais importantes de sua gestão?

Ronaldo – No campo da infraestrutura, concluímos o projeto Campus 2000, construindo a Faculdade de Ciências Econômicas e o Complexo da Escola de Engenharia, que têm enorme importância para essas duas comunidades e para a Universidade como um todo. No campo acadêmico, houve excepcional expansão resultante do Reuni. Aumentamos as vagas em cerca de 45%. São mais 2200 vagas, cerca de 70% delas no horário noturno. Nossa universidade agora tem vida noturna. Foi um projeto nascido nas congregações das 20 unidades acadêmicas e desenvolvido pela administração central. Significativos aportes de recursos para a infraestrutura, custeio e pessoal vêm sendo feitos nas unidades acadêmicas. Houve crescimento de cerca de 500 professores, 600 funcionários e 2200 alunos. Nunca a Universidade teve a oportunidade de fazer isso, o que foi possível porque o governo Lula é genuinamente preocupado com a educação. Também fizemos modificações importantes no vestibular, que passou a ter maior potencial de inclusão, tanto pelo programa de bônus quanto pelas modificações na estrutura do concurso.

Aumentamos o acesso das pessoas a espetáculos e eventos, por meio, por exemplo, do projeto Sentimentos do Mundo, que nasceu do entendimento de que a Universidade deve impactar a vida das pessoas além da atividade de sala de aula. Ninguém vai esquecer que assistiu ao Grupo Corpo, Maria Bethânia, Arnaldo Antunes.

Orgulha-nos ainda a história da Umei Alaíde Lisboa, a creche da Universidade que era privatizada no sentido de que só alguns professores conseguiam utilizá-la. O estudante, o funcionário e a maioria dos professores não tinham condições de colocar seus filhos na creche. Era um espaço muito qualificado, mas com pouca participação da nossa Faculdade de Educação. A Prefeitura assumiu a operação da unidade e nós entramos com a infraestrutura, e a FaE passou a participar mais ativamente do trabalho pedagógico. A população de Belo Horizonte ficou com metade das vagas, e a outra metade com a comunidade interna, que é selecionada por meio de sorteio. A creche tornou-se muito melhor, preenchendo todas as vagas disponíveis, sem custo algum para as famílias.

Ronaldo: “O trabalho em uma Reitoria é aditivo. Nós continuamos o que nossos antecessores fizeram, criamos projetos que os nossos sucessores, espero, vão continuar”

Há pouco tempo, a UFMG recebeu ótima notícia na área de patentes...

Ronaldo – Tivemos avanço significativo. Somos a universidade mais importante do Brasil em patentes – nacionais e internacionais – e no licenciamento delas. A CTIT faz um trabalho modelo para o Brasil. Nesse último ano, fomos uma das duas únicas instituições e empresas no Brasil incluídas em lista da Organização Mundial para a Propriedade Intelectual. É um resultado importante, e sempre digo que o trabalho numa Reitoria é aditivo. Nós continuamos o que nossos antecessores fizeram, criamos projetos que os nossos sucessores, espero, vão continuar.

O que os senhores destacariam na área das relações institucionais?

Ronaldo – Nosso programa de internacionalização tem sido muito bem-sucedido. Hoje recebemos cerca de 300 estudantes de diferentes países, e enviamos número equivalente ao exterior. Temos convênios ativos com perto de 200 universidades estrangeiras.

Heloisa – A Universidade tem sido muito procurada pelos diversos níveis de governo para parcerias. Mantivemos bom relacionamento com os governos federal e estadual, e com a Prefeitura de Belo Horizonte. Desenvolvemos com a Presidência da República um curso a distância para conselheiros nacionais, que mobilizou três ou quatro projetos da UFMG. A TIM e o Governo do Estado nos procuraram para a parceria no Espaço do Conhecimento. O Governo Estadual também procurou a Universidade para parceria no Hospital Risoleta Neves.

Ronaldo – Recebemos um prédio que praticamente não funcionava e hoje temos um hospital com 300 leitos ativos, de altíssima qualidade, para urgências, traumas, com maternidade de risco comum. É um modelo de hospital, fruto de trabalho do nosso pessoal da área da saúde, com apoio muito próximo da administração central. Lá temos 1.800 estudantes.

Heloisa – É ali que a população carente chama a UFMG de “a nossa universidade”.

Ronaldo – Quando estávamos perto de assumir a gestão do hospital, houve um debate lá, e uma senhora da comunidade falou: “agora não tem problema porque a nossa universidade vem pra cá”. Ser chamada assim por uma pessoa que não está aqui, que não tem filhos aqui, é algo que qualquer instituição deseja.

O que não foi possível realizar?

Ronaldo – Gostaria de ter feito um programa realmente ativo e qualificado com a África de língua portuguesa, e o que conseguimos foi pouco. É difícil dizer por quê, simplesmente não engrenou. Pretendíamos ter projetos em educação a distância, transferindo programas para universidades africanas, que aplicariam nosso material.

Avançamos muito no projeto do Museu de História Natural e Jardim Botânico. Ficou faltando a certificação para que o espaço seja oficialmente classificado como Jardim Botânico, mas a solicitação foi feita e todas as condições técnicas exigidas estão atendidas. Também no Museu será construído um portal para a avenida José Cândido da Silveira, projetado pelo arquiteto Gustavo Pena. O prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda assumiu o compromisso de construí-lo.

Heloisa: “Vemos a Universidade noutra escala de grandeza. Conhecemos padrões de excelência, de captação, de ensino que são praticados nas diferentes áreas, tudo é colocado em outro patamar”

Heloisa – É preciso lembrar também do campus de Tiradentes, onde temos quatro prédios. Estruturamos e regularizamos a Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade para ser a fundação de cultura da UFMG. Recebemos financiamento do BNDES para reforma e restauração da Casa de Padre Toledo, fizemos reformas no prédio da Câmara e concebemos a ideia de um complexo de cultura reunindo os prédios da UFMG.

Não terminamos os restaurantes universitários, mas o projeto do novo restaurante no local do antigo Setorial 1 está pronto e os recursos, garantidos.

Depois de quatro anos à frente da UFMG, como vocês veem hoje a Universidade?

Heloísa – Eu venho da área de humanas, e enxergava o mundo daquele ponto. O giro é de 180 graus, porque passamos a colocar as coisas em perspectiva, talvez isso tenha sido o mais novo para mim. Quem passa por aqui amadurece demais. Vemos a Universidade noutra escala de grandeza. Conhecemos padrões de excelência, de captação, de ensino que são praticados nas diferentes áreas, tudo é colocado em outro patamar. E aí se aprende a ter grande dose de humildade. A Universidade é muito grande, forte e poderosa. Por outro lado, também muda o seu padrão porque você enxerga a Universidade dentro do país. Isso também muda o seu olhar. Eu não tinha ideia de como é poderosa, no sentido mais forte da palavra, a nossa universidade. Ela tem um significado em Brasília, tem um significado em Minas Gerais. Desperta competição, mas também respeito, admiração, confiança. E claro que se ganha muita experiência. E aí se entendem certas coisas, como a enorme importância dos conselhos superiores da Universidade, o funcionamento do Conselho Universitário e do Cepe. Este lugar põe tudo em perspectiva. Dele, você vê tudo com muita intensidade, em detalhe. E ver em detalhe é algo muito doloroso, porque se enxerga vício e virtude. Na nossa comunidade, o terceiro andar do prédio da Reitoria {onde estão os gabinetes do reitor e da vice-reitora} é este lugar.

Ronaldo – O que posso afirmar é que a UFMG dá muita satisfação ao gestor. O reitor colhe muitos resultados, porque a Universidade é muito dinâmica, de alta qualidade. Temos certamente, em várias áreas, funcionários que passam experiências para seus pares de outras instituições que nos visitam. No lado acadêmico, a UFMG cresce em quantidade e qualidade. Na pesquisa, o país cresce mais que a média do mundo, e a UFMG evolui mais que a média do Brasil. O tempo todo eu ouço de outros reitores, ministros e secretários: “eu admiro muito a UFMG”.