Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 1 - nº. 3 - Agosto de 2003 - Edição Vestibular


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O alicerce da opinião

Ciências Sociais

Complexidade do mundo contemporâneo põe sociólogo no centro do debate, exigindo do profissional aptidão para interdisciplinaridade e distância de “pré-conceitos”

Gina Nogueira

As Ciências Sociais têm papel relevante e garantido num cenário em que a demanda impulsiona políticas e programas sociais, num quadro em que a sociedade civil pressiona e responde com sua própria organização, o debate político avança e faz-se presente a compreensão do ser humano nos aspectos socioculturais e biológicos. Esse é um curso no qual o aluno se prepara para trabalhar em quatro grandes áreas, que, mesmo com aspectos muito distintos, têm forte elo entre si: Antropologia e Arqueologia, Sociologia, Demografia e Ciência Política.

“Quem escolher as Ciências Sociais tem que se despir de “pré-conceitos”, ter cabeça aberta para entender o outro e os valores arraigados ou que estão surgindo, aceitar a interdisciplinaridade e gostar de se relacionar com diferentes comunidades”, avisa o sociólogo Maurício Alexandre Moreira, há 17 anos batalhando na profissão. Nesse tempo, ele já fez de tudo um pouco, ocupando espaço em órgãos públicos, em empresas privadas e, também, exercendo papel de consultor.

O sociólogo é um mediador na construção das relações entre os diferentes agentes da trama urbana ou rural, trabalha na compreensão e na análise dessas relações, na identificação dos conflitos e no estímulo a soluções. “O mercado é muito disputado, mas o profissional da área social tem sido requisitado o tempo todo”, diz Maurício, lembrando que nem sempre foi assim. Felizmente, a prática na administração pública e nas empresas mudou bastante; dificilmente, investimentos são feitos sem que haja planejamento e bons projetos que contemplem as questões sociais.

Maurício foi conquistado pelas Ciências Sociais quando estava no segundo ano de Engenharia Civil. O interesse pelas discussões políticas e sociais colocou em suas mãos o livro O que é sociologia, um clássico de Florestan Fernandes, e, desde então, foi impossível continuar no mesmo caminho. Porém, em meio à Engenharia, ele encontrou espaço para o sociólogo, avaliando o impacto ambiental sobre as comunidades afetadas pela construção de hidrelétricas.

“Fazia o perfil socioeconômico das comunidades e trabalhava junto às reivindicações dessas populações”, conta Maurício, recordando um tipo de atividade que se repetiria muitas vezes em sua trajetória profissional – como quando acompanhou o processo de organização de condôminos de conjuntos habitacionais da Caixa Econômica Federal ou, ainda, como Coordenador municipal do Orçamento Participativo, na Urbel. Hoje, consultor, envolvido especialmente com a formulação de projetos financiados por organismos internacionais, Maurício destaca que sua formação diversificada, apesar do enfoque em Sociologia, lhe permitiu ocupar espaços diferentes.

Eber Faioli
O cientista político Malco Camargos mantém atuação na área social

Para o cientista político Malco Camargos, essa característica do curso de Ciências Sociais é uma vantagem enorme, porque o aluno terá a oportunidade de desenvolver várias habilidades. Mas ele ressalva: “Um pouco de especialização é fundamental”. Doutor pela Universidade de Yale, Malco estreou na pesquisa conquistando a vaga de assistente num projeto desenvolvido no Departamento de Ciência Política, quando estava no terceiro período. “Eu não tinha os requisitos que o professor pedia, mas me ofereci assim mesmo, fiz propostas e ele acabou aceitando. Os alunos não podem ser passivos”, salienta Malco. Muito incentivado, ele passou, inclusive, a escrever trabalhos junto com o professor Olavo Brasil, a quem atribui grande importância na sua carreira como pesquisador e professor.

Com os estudos em Demografia e Estatística realizados durante a Graduação na UFMG e a experiência adquirida no Mestrado e no Doutorado, Malco montou um instituto de pesquisa, com metodologias diferenciadas, privilegiando a análise georreferenciada. Em vez de o resultado da pesquisa ser visualizado em tabelas, são mapas que localizam as diferentes questões investigadas. Apesar de ter escolhido as Ciências Políticas como foco de seus estudos, Malco não se distanciou da área social e coordena parte do projeto Criança Esperança, da Rede Globo, numa das maiores favelas da Capital mineira.

O embasamento teórico e a atualização tornam-se essenciais para a atuação profissional, diz o professor Geraldo Hélvio, Coordenador do Colegiado de Graduação, para quem qualquer uma das áreas escolhidas exige do aluno muita disciplina nos estudos. A carga de leitura do curso é intensa, confirma Mariana Campos Vilela, a aluna do sexto período. “É um curso muito completo. Eu adoro e indicaria para qualquer pessoa”, assinala Mariana. Ela planeja atuar em departamentos de recursos humanos de empresas. “Interesso-me pela ética no trabalho”, diz Mariana, que já teve a oportunidade de pesquisar o tema durante um projeto de Iniciação Científica. O escopo amplo das Ciências Sociais possibilita a presença do profissional tanto em instituições governamentais, trabalhando no planejamento e na execução de políticas públicas, quanto em instituições privadas e no chamado terceiro setor, que, nos últimos anos, assimilaram as preocupações sociais às estratégias de atuação.

“Tem-me chamado a atenção a visibilidade que os cientistas sociais estão tendo na mídia”, diz Geraldo Hélvio. Para ele, isso está acontecendo porque esse profissional tem mesmo muito a contribuir para o momento pelo qual passam o Brasil e o mundo. As demandas por análises políticas e sociais são permanentes, assegura o Professor, lembrando questões antropológicas que também movimentam os profissionais. O debate étnico-racial e a análise da formação e atuação de grupos estão, cada vez mais, ganhando relevância para se compreender a sociedade em que vivemos, segundo o Professor.

Eber Faioli
Para Geraldo, o cientista social tem muito a contribuir para Brasil

Foi essa característica das Ciências Sociais que atraiu a cabo-verdiana Analiza Maria Évora Lima, que veio estudar na UFMG amparada por um convênio. Na época em que deixou Cabo Verde, o curso não existia lá. “Não tinha muita idéia do que seria, mas estou satisfeita. Pretendo dar aulas e trabalhar com pesquisas na área social, especialmente com questões relativas a preconceitos”, planeja Analiza. Ela voltará para a África no início do próximo ano e quer centrar sua atuação em Sociologia e Ciências Políticas.

Geraldo Hélvio explica que, nas Ciências Sociais, não existe uma separação entre as áreas, ou seja, o aluno não vai se formar exclusivamente como sociólogo, antropólogo/arqueólogo, cientista político ou demógrafo, mas terá que encaminhar sua formação para uma dessas linhas de concentração do curso. Isso não impede que ele, depois de formado, atue nas quatro áreas, pois, com o currículo flexibilizado, o aluno tem a chance de cursar um grande número de disciplinas optativas, que ele escolhe entre as oferecidas, e de tentar a formação complementar, que privilegia áreas afins das Ciências Humanas.

O curso tem as modalidades de Bacharelado e Licenciatura, esta destinada à formação de professores do Ensino Médio. O tempo mínimo de integralização do curso de Ciências Sociais é de oito semestres.