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Nº 1390 - Ano 29 - 03.04.2003


Os anos de chumbo em quadrinhos

Livro do cartunista LOR sobre o regime militar é relançado por editora carioca

Maurício Guilherme Silva Júnior


tempo não passa em vão". As palavras do jornalista Márcio Moreira Alves resumem bem os últimos acontecimentos na vida do cartunista e professor da UFMG, Luiz Oswaldo Rodrigues, o LOR. Uma de suas histórias em quadrinhos, escrita em 1979, acaba de ser redescoberta e reeditada por um colega de ofício da nova geração. O esforço pessoal do jovem desenhista carioca André Diniz culminou com o resgate de um relato sui generis dos trágicos anos do regime militar brasileiro. Narrativa dramática das 24 horas que antecederam a implementação, em 1968, do Ato Institucional no 5, a história em quadrinhos Retrato falado foi recebida com euforia pelos leitores do século 21. Publicada inicialmente na Internet (www.nonaarte.com.br), a história foi "baixada" por cerca de dois mil internautas em apenas dois meses.

Não é à toa que a frase de Márcio Moreira Alves foi escolhida para figurar na contracapa da nova edição de Retrato falado. O relançamento da obra não só revela ao público atual o tenso clima dos anos 60 e 70, como promove o encontro entre novas gerações de artistas. Cartunista reconhecido no país, LOR não poderia imaginar que sua obra pudesse interessar à juventude do novo século. "Tinha a sensação de que minha história era datada. Quando lançamos o livro, eu fazia parte de um grupo muito engajado politicamente", conta o cartunista, que também é professor de Fi-siologia do Exercício da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Ambientado no fictício país de Rosário, Retrato falado aborda com crueza a vida nos tempos de chumbo. Certos de que as semelhanças entre ficção e realidade nada têm de mera coincidência, os leitores atuais poderão se transportar para os anos 60, através do roteiro "cinematográfico" escrito por LOR, capaz de misturar o destino de inúmeros personagens. Escrito em um mês pelo autor, o livro, além dos diálogos tradicionais das revistas do gênero, apresenta recursos extraliterários, como possíveis notícias de jornal ou descrição de depoimentos de fitas cassetes.

Sebo e Internet

A primeira versão da história em quadrinhos de LOR foi descoberta por André Diniz em um sebo do Rio de Janeiro. Fascinado pela descoberta, o jovem desenhista comprou a obra imediatamente. "Li toda a história assim que cheguei em casa. Os desenhos eram ótimos, e o roteiro, perfeito. Um relato completo em cem páginas daquela mesma luta armada sobre a qual pesquisei em tantos livros", relata Diniz no prefácio da segunda edição. Seu passo seguinte foi entrar em contato com LOR, que recebeu a idéia da republicação com surpresa e alegria. Antes de chegar à versão de papel, Diniz, com o aval do "mestre", lançou a história na rede mundial de computadores.

A trajetória artística do autor de Retrato falado começa em 1974, quando LOR publica sua primeira charge no Jornal do Brasil. Curiosamente, o desenho, bastante atual, tratava de certo conflito entre Iraque e Estados Unidos, motivado pela crise do petróleo. O livro reeditado por André Diniz integra uma série de histórias lançadas por LOR à época. "As outras trataram de questões referentes à Amazônia e à inflação. Mas não faria sentido reeditá-las hoje em dia", diz o professor. Além de Retrato falado, que deverá levá-lo a participar, em Belo Horizonte, do projeto Sempre um papo, o artista lançará em julho, pela Editora Lê, o livro infantil O segredo do Águas Virtuosas Futebol Clube, em que tenta demonstrar às crianças a importância de consumir água.

Livro: Retrato falado
Autor: LOR
Vendas e download: pela página eletrônica www.nonaarte.com.br