Veterinária vai ao mercado

e um lado, imperam a limpeza, a higiene dos utensílios, o pequeno número de reclamações quanto à qualidade, a ausência de roedores e de insetos e uma peixaria considerada modelo. De outro, sobressai a falta de padrões para procedimentos sanitários e de manipulação e manutenção dos animais e de seus produtos derivados. Esses foram alguns dos resultados do diagnóstico sobre origem, chegada, permanência, venda, destino e aspectos econômicos e sanitários de animais e produtos de origem animal comercializados no Mercado Central de Belo Horizonte, um dos principais pontos de encontro da capital mineira.

O diagnóstico foi elaborado a partir de questionários aplicados por alunos do curso de Veterinária da UFMG aos funcioná-rios e proprietários de lojas do Mercado Central. "Os resultados foram surpreendentes" afirma o professor José Ailton da Silva, coordenador do levantamento. "O Mercado está em muito melhor situação que o esperado. O ambiente é limpo, e, apesar de o fluxo de pessoas ser muito grande, os lojistas são preocupados com a higiene; a maioria da carne comercializada sai de frigoríficos fiscalizados pelo poder público; e o índice de mortalidade dos animais é muito baixo", detalha o professor.

Em contrapartida, o estudo revelou que a falta de padrões é a principal deficiência do Mercado. Alguns problemas isolados foram encontrados, como a ausência de termômetros em determinados balcões, exposição inadequada dos queijos, tempo excessivo de exposição dos ovos e ausência de um controle estatístico e de causas das mortes dos animais. Mas, segundo os professores que orientaram o levantamento, a maioria das falhas deve-se à falta de informação por parte dos lojistas. "O diagnóstico pode levantar deficiências e ajudar a evitá-las", garante o professor Claret Torres, que também participou do projeto.

O diagnóstico produzido pelos alunos e professores da Escola de Veterinária apresenta sugestões de melhorias para cada segmento analisado. Segundo os professores, pequenas adequações, como o treinamento de funcionários, podem trazer benefícios visíveis à população. A equipe que executou o projeto sugere a padronização dos procedimentos sanitários e de limpeza, a diminuição da densidade populacional dos viveiros e o controle mais apurado sobre o fluxo de animais e aves. Os estudantes propõem, ainda, que os lojistas desenvolvam um cadastro de fornecedores e se reúnam periodicamente com o veterinário do Mercado Central para discutir problemas sanitários.

Metodologia

A intenção da equipe da Escola de Veterinária é avaliar todo o percurso dos produtos vendidos no Mercado Central - da origem ao consumidor. Na etapa que acaba de ser concluída, trabalharam sete grupos, formados pelos alunos do 10^O período do curso de Veterinária da UFMG. Cada equipe concentrou-se na elaboração do diagnóstico de uma das seguintes categorias: carnes e produtos derivados, queijos, ovos, pescado, animais para consumo, animais de companhia, aves e pássaros ornamentais. Além disso, os grupos prepararam diagnósticos sobre a comercialização desses produtos e animais no Mercado. O levantamento foi realizado durante quatro meses, entre novembro de 2002 e fevereiro de 2003, dentro da disciplina Planificação em Saúde Animal. As próximas etapas do projeto prevêem contatos com fornecedores e consumidores.

O presidente do Mercado Central, Ercílio Caldeira, vê com bons olhos a realização de pesquisas capazes de detectar os pontos vulneráveis da estrutura de comercialização do estabelecimento: "O mercado funciona como uma cooperativa. Dificilmente conseguiríamos recursos para pagar por uma pesquisa tão completa como essa". A lojista Wilma Amaral de Paula acredita que a divulgação dos resultados pode ajudar a quebrar o preconceito contra animais e produtos ali comercializados: "A divulgação pode contribuir para o esclarecimento do público. Tentaremos adotar as sugestões de acordo com nossas possibilidades".

Projeto: Diagnóstico de animais e produtos de origem animal vendidos no Mercado Central
Unidade: Escola de Veterinária
Equipe: professores José Ailton da Silva (coordenador), Antônio Maria Claret Torres, Celina Maria Modena, Elvio Carlos Moreira, Francisco Viana, Pedro Lúcio Light Pereira e alunos do 10^O período do curso de Veterinária.