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Nº 1449 - Ano 30 - 12.8.2004


Arapuca de mosquito

Pesquisadores do ICB desenvolvem tecnologia que
impede a reprodução do Aedes aegypti , causador da dengue

Andréia Hespanha

Álvaro Eiras: software trabalha informações coletadas sobre a incidência do Aedes
Foto: Eber Faioli

odos os anos, no período de chuvas, a história se repete: o famoso mosquito da dengue prolifera e a doença, que pode ser fatal, volta a atacar milhares de brasileiros. Com a intenção de sanar a questão, o governo promove campanhas de conscientização e de combate à larva do Aedes aegypti. Tais medidas, no entanto, revelam-se pouco eficazes no controle da enfermidade. Pesquisadores do Laboratório de Culicídeos do ICB desenvolveram nova tecnologia que promete ajudar na solução do problema. Suas pesquisas culminaram com a criação dos produtos MosquiTRAP e AtrAEDES, que, juntos, formam uma armadilha contra o mosquito.

O MosquiTRAP é uma espécie de vaso preto, com água ao fundo, que imita o criadouro do mosquito. Nele, é depositado o AtrAEDES , fabricado em forma de pastilhas, que liberam um odor que atrai o mosquito. "Ao entrar na armadilha, o inseto fica preso a um cartão adesivo, colocado na parede do vaso, e não consegue depositar seus ovos", explica o professor e biólogo Álvaro Eiras, coordenador do projeto. Através da análise do cartão, é possivel contar os mosquitos e coletar dados para detectar a concentração do inseto na região onde a armadilha foi instalada.

As informações, recolhidas em planilhas eletrônicas pelos agentes de campo, são transferidas para um software elaborado pelos pesquisadores. "A ferramenta cria tabelas com índices entomológicos e mapas georreferenciados, que mostram as regiões afetadas", diz o professor. Segundo Álvaro Eiras, eles buscaram desenvolver uma tecnologia inovadora, eficiente, de baixo custo e que agisse no foco do problema: "Ao atacar diretamente o mosquito, impedimos que a fêmea deposite seus ovos. As larvas não se desenvolvem e a doença pode ser controlada", afirma o biólogo.

No ano passado, a equipe do professor Eiras realizou o primeiro teste com a armadilha em Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Comparados com a tradicional inspeção realizada pelo Ministério da Saúde, os resultados revelaram que a nova tecnologia demonstrou-se mais sensível na detecção de locais infestados. "Nosso método é mais eficaz porque acompanha a população dos insetos durante todo o ano.

Realizamos leituras semanais, enquanto o método utilizado atualmente determina os locais infestados, por meio da contagem de larvas, apenas quatro vezes ao ano", diz Eiras, ressaltando a necessidade da agilidade do processo.

Comercialização

Patenteado pela UFMG, o método foi licenciado para desenvolvimento e comercialização através da empresa Ecovec, com sede em Belo Horizonte. "Depois de desenvolvida a tecnologia, nosso desafio foi transformar o experimento acadêmico em produto comercialmente viável", afirma o pesquisador.

O projeto da armadilha já foi enviado ao Ministério da Saúde, que apresentou parecer técnico favorável. "Para que o Ministério possa efetivamente utilizar essas ferramentas como padrões de controle da dengue, é necessário, primeiramente, que a tecnologia seja validada.Temos ainda uma etapa política à frente", afirma Álvaro Eiras. Para isso, os equipamentos serão testados em dez cidades brasileiras, duas por região. Os testes começaram a ser feitos nas cidades do Rio de Janeiro e Santos. "Mas os produtos já estão sendo comercializados, e podem ser adquiridos por qualquer pessoa na empresa Ecovec", aponta Eiras.

O MosquiTRAP e o AtrAEDES estão, ainda, sendo exportados para Alemanha, Cingapura, Austrália, Panamá e, futuramente, para os Estados Unidos. O governo italiano também manifestou interesse em absorver a tecnologia, como forma de afastar a ameaça da doença, que vem atingindo algumas regiões do país.

Legenda (Foto 2): Vaso que imita criadouro e substância que atrai o mosquito formam a armadilha