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Nº 1449 - Ano 30 - 12.8.2004

 

 

Uma escola em movimento

Tânia Margarida Lima Costa *

 

nfrentamos, em pleno século XXI, uma série de questionamentos e conjecturas sobre o que vem acontecendo com a educação, principalmente com a educação básica no país. O sentimento que temos é o de que todos nós, educadores, trabalhamos muito, mas as soluções para os problemas da área não correspondem ao nosso investimento. E estamos trabalhando muito mesmo! Todos nós, educadores, temos consciência de que mudanças são necessárias, pois vivemos em um mundo que gera, com muita rapidez, novos fenômenos sociais, econômicos, psicológicos, antropológicos e biopsicossociais.

A Escola Fundamental da UFMG vem desenvolvendo um dos seus principais objetivos: constituir-se como espaço de novas experimentações pedagógicas, que subsidiem avanços e reflexões sobre a prática educativa, a partir das experiências que realiza com seus alunos da educação básica e a partir da participação de seus professores na orientação dos alunos da graduação e no desenvolvimento profissional de professores das diferentes redes de ensino.

Na última década, desenvolvemos coletivamente muitas ações pedagógicas internas e externas à Escola. Como exemplo de atividade externa, temos proposto projetos com outras unidades, principalmente com a Faculdade de Educação (FaE). No âmbito interno, podemos elencar: 1. organizar as 24 turmas (três de cada ano escolar) em ciclos de aprendizagem; 2. modificar a carga horária das disciplinas; 3. incluir na grade escolar o Grupo de Trabalho Diferenciado (GTD), em que os alunos são agrupados segundo demandas detectadas, independentemente do ano escolar que estejam freqüentando; 4. criar Grupo de Trabalho Intensificado (GTI) que retira alguns alunos de sua turma de origem para formar um novo grupo, cujas atividades específicas são desenvolvidas, possibilitando o seu retorno para a turma em outras condições de aprendizagem; 5. elaborar projetos coletivos de ensino; 6. trabalhar constantemente na construção de um projeto político-pedagógico que leva em consideração o perfil dos seus alunos; 7. criar espaços de discussão para avaliar e monitorar o trabalho realizado, fazendo intervenções; 8. realizar reuniões semanais com todos os responsáveis pelo processo de aprendizagem dos alunos; 9. manter, com a família dos alunos, uma relação de cumplicidade e de responsabilidade pela formação dessas crianças e adolescentes.

Não tem sido tarefa fácil conviver com uma rotina de discussões de idéias, de confronto de concepções sobre ensinar e aprender, na busca de um consenso entre nós, professores.

Outra ação pedagógica da Escola Fundamental é a promoção de seminários que antecedem o início das atividades semestrais. Nos dias 2 e 3 de agosto, realizamos um seminário em Diamantina (MG), na Casa da Glória, com o objetivo de pensar sobre as fichas de avaliação individual dos alunos, repensar a forma como registramos o seu desenvolvimento nas diversas áreas do conhecimento e a relação que eles estabelecem com os colegas e com a escola. Nossa meta era aprimorar os registros das informações que levantamos, tanto para comunicar aos pais a situação de aprendizagem de seus filhos, como para servir de referência para nossa própria intervenção pedagógica junto ao aluno.

Nesse encontro, vivenciamos, de forma intensa, outras faces do processo de ensinar e aprender que merecem uma reflexão. Entretanto, realizar esta atividade em um espaço físico diferente foi, para nós, como sair um pouco do nosso isolamento. Experimentamos emoções espontâneas, choramos juntos, rimos juntos, comentamos sobre nossos sonhos, desejos, mágoas, alegrias e frustrações.

Motivados, avançamos, com criatividade e serenidade, para buscar soluções para as questões sobre os registros da avaliação dos nossos alunos, o foco do seminário. Compartilhamos momentos, pensamos antes de reagir e decidir, expusemos as idéias e não as impusemos, questionamos o tempo todo, superamos o medo, resolvemos conflitos, dialogamos, ouvimos, fomos solidários, estabelecemos metas e ficamos com a nossa auto-estima bem alta.

Não temos, hoje, as respostas para as questões que envolvem a educação, mas estamos enfrentando os problemas.

Pensando sobre tudo isso e não querendo ser reducionistas ou simplistas, acreditamos ter vivenciado tudo o que desejamos desenvolver em nossos alunos. Precisamos penetrar um no mundo do outro, conhecer cada vez mais o mundo em que estamos e o que somos, para ajudar nossos alunos a entender o seu próprio mundo.

* Professora da Escola Fundamental do Centro Pedagógico e doutoranda em Educação Matemática na PUC/SP

 

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