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Nº 1671 - Ano 36
12.10.2009

Voando alto (e de ponta-cabeça)

Centro de Estudos Aeronáuticos apresenta seu
primeiro avião de acrobacias

Igor Lage

CEA/UFMG

Você é daqueles que têm medo de avião? Se decolar e pousar já lhe provoca um frio na barriga, é melhor se preparar para as piruetas, loopings e rasantes que a aeronave CEA-309 Mehari realizará em seu lançamento oficial nesta quarta-feira, dia 14 de outubro, a partir de 16h, no Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica (CIAAR), localizado no Aeroporto da Pampulha.

Projetado e construído pelo Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA) da UFMG, o Mehari é o primeiro avião brasileiro capaz de voar na chamada classe ilimitada, a categoria mais elevada das competições de acrobacias aéreas, algo similar ao que a Fórmula 1 representa para as corridas automobilísticas. O coordenador do projeto e professor de Engenharia Aeronáutica da UFMG Paulo Iscold explica que o Mehari foi projetado para executar manobras extremamente complexas, atingindo até 400º por segundo e 430 km/h. “É um protótipo desenvolvido para competições internacionais”, afirma.

Porém, para essa primeira apresentação, Iscold ressalta que a aeronave não voará no seu potencial máximo. “O Mehari está em uma fase de ensaios que chamamos de ‘abertura de envelope’. Nos primeiros voos de teste, eram impostos alguns limites, como velocidade, aceleração e manobras, e agora é hora de expandir esses valores”, diz o professor, esclarecendo que na etapa atual, de desenvolvimento do avião, esses limites são testados aos poucos.

O piloto e principal financiador do Mehari, Marcos Geraldi, afirma que a construção de um avião de categoria ilimitada é um processo complexo e dividido em diversas etapas. “Ainda falta muito para completarmos o projeto, mas estou bem confiante que alcançaremos nossas metas”, conta Geraldi, que, como piloto de testes, acompanha de perto a evolução do protótipo e sente os avanços do trabalho desenvolvido. Tanto que, em um voo de exibição realizado na pista do CEA em Conselheiro Lafaiete no dia 5 de outubro e acompanhado pela reportagem do BOLETIM, Marcos demonstrou toda a sua surpresa pelo sistema de comunicação assim que saiu do solo: “Vocês mexeram em alguma coisa no avião? Ele está voando bem melhor”.

Custo em queda livre

O projeto do Mehari – o avião recebeu esse nome em alusão a uma raça de camelos conhecida por sua grande resistência – teve início há cerca de seis anos, quando Paulo Iscold apresentou a Marcos Geraldi a proposta de construir um avião de categoria ilimitada com o custo operacional da categoria intermediária. “Minha primeira resposta foi: ‘Mas isso é impossível”, recorda o piloto. “Depois que ele me explicou melhor o projeto, eu achei a proposta interessante e resolvi financiá-la”.

Como a redução do custo operacional era uma das diretrizes do projeto, o uso de um motor de quatro cilindros no lugar do de seis, tradicionalmente utilizado em aeronaves de categoria ilimitada, permitiu que os gastos com o desenvolvimento do protótipo caíssem quase 70%. Além disso, a estrutura de fibra de carbono normalmente empregada nesse tipo de avião foi substituída por outros materiais como aço cromolibdênio e madeira freijó, reduzindo o custo sem prejudicar o desempenho.

Igor Lage Iscold (em pé), Rafael (à frente) e Geraldi: aeronave projetada para participar de competições internacionais

O desenvolvimento da aeronave conta também com a participação dos alunos do curso de Engenharia Mecânica desde o início do projeto. Coordenados pelo professor Paulo Iscold e pelos outros membros do CEA, os alunos colaboram na concepção da aeronave realizando cálculos, fazendo desenhos e construindo sua estrutura. “A participação dos alunos é muito importante tanto para a formação acadêmica deles quanto para o andamento do projeto. Aqui, eles desenvolvem responsabilidade técnica, capacidade de administrar recursos e de trabalhar em equipe, senso de empreendedorismo e criatividade”, avalia Iscold.

Um dos principais colaboradores do projeto Mehari e professor substituto do curso de Engenharia Mecânica da UFMG, Antônio Rafael conta que ingressou no CEA em 2005, quando ainda era aluno de graduação. Desde então, acompanhou todos os voos de teste e participa ativamente do processo de aprimoramento do avião. “Participei da instalação do motor, da montagem e do acabamento. Nosso objetivo agora é completar 50 horas de ensaio e realizar pequenos ajustes para melhorar a performance”, antecipa.