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Nº 1738 - Ano 37
16.05.2011

Pelo FIM das TREVAS

Com pesquisa, extensão e reflexão crítica, UFMG contribui com a luta antimanicomial no Brasil

Zirlene Lemos*

O ano era 1961. Enquanto no Brasil a revista O Cruzeiro denunciava as péssimas condições de atendimento dos manicômios de Barbacena, Michel Focault defendia, na França, sua tese de doutorado em Filosofia, que mais tarde se transformaria no livro A história da loucura, uma das principais inspirações do movimento antimanicomial no Brasil.

Cinquenta anos depois, a obra seminal de Foucault é um dos motivos centrais das celebrações do 18 de maio – Dia Nacional da Luta Antimanicomial – em Minas Gerais. Numa alusão ao caráter de ficção do livro, o desfile de 18 de maio celebra uma sociedade sem manicômios, com base nas reflexões do filósofo francês. Tradição no calendário cultural de Belo Horizonte, o desfile congrega numa única agremiação, a Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tan Tan, cerca de 3 mil componentes, em sua maioria portadores de sofrimento mental.

Articulado a essa data, o Programa de Extensão em Saúde Mental da UFMG, em parceria com unidades acadêmicas, preparou diversificada programação que inclui debates, oficinas e exposições (mais informações no site www.espacosaudemg.blogspot.com). “A UFMG tem raízes profundas nas questões vinculadas à saúde mental, com um conjunto de professores que trabalham na área desde os anos 60, e foram fundamentais, nos anos 70, para os processos de reforma e indução de uma cultura crítica sobre o tema”, afirma a professora Maria Stella Brandão Goulart, do Departamento de Psicologia da Fafich. Ela é a autora do estudo As instituições universitárias e a construção da Reforma Psiquiátrica Mineira nos anos 60, 70 e 80, em que parte dessa história é recuperada.

Em artigo publicado em 2009, no Caderno Brasileiro de Saúde Mental, a professora Izabel Christina Friche Passos, do Departamento de Psicologia da Fafich, também destacou a atuação da UFMG no movimento da reforma no estado. "Tinha ali me graduado em psicologia e participado, nos anos iniciais da reforma psiquiátrica mineira [final da década de 1970 e início de 1980], de um intenso e histórico movimento de crítica aos manicômios, que trouxe Franco Basaglia ao III Congresso Mineiro de Psiquiatria, em 1979. Foi esse evento que desencadeou a reforma mineira", ressaltou.

Psiquiatra italiano, Franco Basaglia (1924- 1980) liderou a reforma no sistema de saúde mental da Itália, que resultou, no final dos anos 70, em legislação responsável pela abolição dos hospitais psiquiátricos.

Visibilidade

De lá para cá, a UFMG contabiliza iniciativas de extensão na área de saúde mental, entre projetos, programas, eventos, prestação de serviços e outras ações. Em abril iniciou a implantação do Programa de Extensão em Saúde Mental, que integra docentes, estudantes e usuários de várias unidades, entre as quais Enfermagem, Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Fafich e Medicina. "O objetivo é articular ações de extensão universitária, ampliar as iniciativas existentes por meio da cooperação e dar visibilidade ao tema da saúde mental", destaca o professor João Antonio de Paula, pró-reitor de Extensão.

Aberto à participação de outras unidades da UFMG, o programa também articula parcerias interinstitucionais com o Fórum de Formação em Saúde Mental de Minas Gerais, Escola de Saúde Pública de Minas Gerais, PUCMinas, Fumec, Newton Paiva, Faculdade de Ciências Médicas e Movimento Estudantil Espaço Saúde.

Apesar do know-how da UFMG, há defasagem entre currículos, necessidades dos usuários e contexto social, na avaliação de Áquila Bruno Miranda, aluna do 7º período de Psicologia da UFMG. “Existe um descompasso entre a abordagem de nossa formação e a política nacional, pois a nova política, orientada pela lei federal 10.216, ainda não foi incorporada aos nossos currículos”, lamenta a estudante. A legislação determina a abolição dos hospícios no país, deslocando o foco da assistência para a desospitalização e reintegração social dos pacientes.

Maria Stella Brandão engrossa o coro, mas acredita que o novo programa de extensão poderá ajudar a desatar alguns nós. “Ele poderá fomentar a articulação, criar pontos de intercessão para ajudar na formação profissional e sintonizar as instituições formadoras com as discussões sobre os direitos humanos”, analisa.

*Jornalista da Pró-reitoria de Extensão

Programação

• Até 20/05: exposição, no ICB, de poesias, fotos e fantasias da Escola de Samba Liberdade Ainda Que TanTan;

• 17/05: Oficinas de confecção de fantasias – às 17h30, no Centro Acadêmico da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional;

• 18/05: desfile da Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tan Tan. Concentração na Praça Sete, às 13h. A partir de 14h, os participantes percorrerão várias ruas do Centro da Capital.

Mais informações no blog Espaço Saúde: www.espacosaudemg.blogspot.com