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Nº 1784 - Ano 38
6.8.2012

opiniao

O Reuni novamente entra em cena

Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus*

Neste ano de 2012 está previsto o encerramento do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que tem como principais objetivos a ampliação do número de vagas, sobretudo dos cursos noturnos, o aumento da diversidade de cursos e a garantia do acesso e permanência dos alunos nos cursos de graduação por meio de programas de inclusão e assistência estudantil. O Reuni foi implantado pelo Decreto nº 6.096 de 24 de abril de 2007, como parte do Programa Nacional da Educação (PNE) lançado pelo Governo Federal, e a UFMG aderiu a essa “novidade” em 2008, o que gerou muitos questionamentos e receios manifestados pelos diversos setores da academia.

As preocupações daquele momento foram em torno de como manter a qualidade do ensino e da tríade ensino, pesquisa e extensão, dado o aumento do número de alunos e cursos. Questões como infraestrutura (prédios, estacionamentos, restaurantes), aumento da carga horária e das atividades dos professores e servidores também entraram em pauta, embora já estivesse previsto no referido decreto o apoio financeiro às universidades que aderissem ao plano.

Passados alguns anos e solucionadas, em parte, algumas dessas preocupações por meio da construção dos centros acadêmicos com amplas instalações, da contratação de bolsistas de pós-graduação Reuni para atividades de apoio aos cursos e da realização de concursos públicos para entrada de mais professores e servidores técnico-administrativos, os questionamentos sobre o Reuni novamente entram em cena, só que desta vez em um cenário mais estável, após a ampliação do número de vagas em cursos que já existiam e a criação de mais de 20 cursos, “filhos” do Reuni, que, somados aos existentes, totalizam 76 cursos superiores na UFMG.

Assim, neste momento, retoma-se a discussão quanto à necessária interdisciplinaridade, que foi pouco explorada no texto das diretrizes gerais do Reuni, mas não é menos importante por conta disso. A propalada interdisciplinaridade, vista como condição necessária ao desenvolvimento da ciência, assumiu posição central no primeiro ciclo de seminários A Universidade do Futuro, promovido pelo reitorado com a parceria do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat), e realizado no dia 27 de junho. Nessa direção, a abertura, sob o título “A interdisciplinaridade na graduação: impacto do Reuni na UFMG”, marcou o início de uma série de eventos a serem realizados no segundo semestre deste ano.

A fim de compartilhar algumas das ideias apresentadas e debatidas por personalidades envolvidas com a universidade, é mister continuar discutindo tais questões para que mais pessoas possam refletir, particularmente, sobre as dificuldades ou mesmo impedimentos para o exercício de uma efetiva interdisciplinaridade nos cursos de graduação da UFMG. Ao que tudo indica, parece que os entraves para a realização de uma interdisciplinaridade iniciam-se com o sistema de entrada “disciplinarizado”, que obriga o vestibulando à escolha por um curso específico. Todavia, as dificuldades não param com a sua entrada em um curso de graduação de nível superior.

A elevada quantidade de disciplinas obrigatórias nos currículos dos cursos impede que os discentes cursem outras disciplinas em outras escolas. Além disso, as escolas e departamentos priorizam as matrículas de seus alunos, deixando o restante, quando sobram vagas nas disciplinas, para uma minoria de outros alunos de outros cursos. Essa lógica “disciplinarizada”, aplicada também ao currículo, relaciona-se, de modo estreito, com as normas superiores que fixam elevada carga horária, o que impossibilitaria maior autonomia e flexibilidade aos cursos. Ademais, ao concluir um curso, o discente depara-se, na maioria das vezes, com um mercado de trabalho que privilegia o profissional com formação mais tradicional, exigindo também, quando regulamentada a profissão, sua inscrição no conselho específico da área.

Desse modo, parece não haver saídas, ou melhor, entradas para a interdisciplinaridade. Os caminhos para a superação desses entraves ainda parecem distantes, mas acredita-se que estão lançadas algumas direções, como o modelo de vestibular por áreas, em que a escolha do curso é possibilitada ao aluno após a conclusão de uma espécie de ciclo comum, em que seriam apresentadas as diversas possibilidades; um sistema de matrícula que possibilitaria a previsão de interessados nas disciplinas, o que permitiria planejamento e interação dos professores, colegiados e seções de ensino para a oferta de vagas futuras; a ampliação do reconhecimento de créditos com atividades diversificadas (eventos, produção científica, cursos realizados, atividades de iniciação científica, monitoria etc.) que contribuiriam para a flexibilização do currículo.

Em suma, após 11 anos de aprovação das diretrizes de flexibilização dos cursos da UFMG, pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), acredita-se que essa flexibilização não foi consumada com eficácia em todos os cursos. Dessa forma, convoca-se a comunidade acadêmica a refletir sobre a importância e os caminhos para uma efetiva e eficaz interdisciplinaridade nos cursos de graduação da UFMG.

* Mestranda em Ciência da Informação na UFMG, bolsista Reuni/Museologia