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Nº 1784 - Ano 38
6.8.2012

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Imagens do Brasil

Livro revela o país e seu povo extraídos das lentes de fotodocumentaristas da segunda metade do século 20

Itamar Rigueira Jr.

Não faz muito tempo a escrita era a única forma de linguagem respeitada pela sociologia. Nos últimos tempos, esse quadro tem mudado com a proliferação de trabalhos que se valem da linguagem visual como instrumento de produção e disseminação do conhecimento.

Essa tendência é comemorada pela pesquisadora Maria Beatriz Coelho, que transita pelos universos da sociologia e da fotografia, e lançou recentemennte o livro Imagens da nação: Brasileiros na fotodocumentação de 1940 até o final do século XX (Editora UFMG, Edusp e Imprensa Oficial de São Paulo).

A obra apresenta o trabalho de quatro gerações de fotógrafos para revelar a visão que eles constroem do Brasil e dos brasileiros. Como informa Maria Beatriz em seu texto de introdução, o estudo prioriza “a obra de autores que atingiram sua maturidade profissional entre as décadas de 1940 e 1990” e elege trabalhos que “tratam de algum aspecto da vida social brasileira”.

A autora preteriu os retratos e as fotografias de natureza e de cidades, e procurou revelar a narrativa criada sobre determinados temas pelo conjunto da obra de cada fotógrafo. “Minha intenção foi descobrir os principais autores e temas, entender como o campo da fotodocumentação se estruturou por aqui e esboçar a imagem da nação construída por eles”, escreve Maria Beatriz Coelho. Graduada em sociologia pela UFMG, ela iniciou os estudos sobre o assunto para o desenvolvimento de tese defendida em 2000 na Universidade de São Paulo.

Olhar estrangeiro

Segundo a autora, em meados do século passado, a difusão da imagem do Brasil e de seu povo ficou a cargo, sobretudo, de europeus influenciados pela experiência da fotografia etnográfica e pela lembrança de guerra – é o caso da alemã Hildegard Rosenthal, cujas fotos abrem o livro. “Éramos o diferente, o país da convivência pacífica entre etnias, um país marcado pela presença negra, onde as pessoas viviam em paz”, analisa Maria Beatriz Coelho, em seu texto.

Mais tarde, segundo ela, os fotodocumentaristas brasileiros promovem “uma virada na representação visual da nação”. Entram em cena os problemas sociais do campo e da cidade, a crítica política, os cidadãos destituídos de direitos. Dessa fase, ela destaca a abertura para a criatividade dos fotógrafos e a preferência pela foto em preto e branco. Maria Beatriz analisa a produção de nomes como Walter Firmo, Sebastião Salgado, Rogério Reis, Claudia Andujar, Nair Benedicto, João Urban e Orlando Brito – e alguns deles contribuíram com depoimentos.

Depois da introdução em que aborda tópicos como a linguagem da fotografia e a fotodocumentação, a autora parte para análises que associam a construção de narrativas visuais a aspectos como a participação do Estado, identidade da nação, integração nacional, migrantes e populações tradicionais na Amazônia, diversidade e metrópole.

Fotógrafa profissional nas décadas de 1970 e 80, em Belo Horizonte, Maria Beatriz tem parte de seu acervo desse período – cerca de 14 mil negativos – disponível sob o título Coleção Mana Coelho no Museu Histórico Abílio Barreto, da capital mineira. A experiência de fotodocumentarista é realçada em Imagens da nação pela apresentação da pesquisadora Heloisa Pontes, que destaca ainda a obstinação de Maria Beatriz pela recuperação dos nexos da história da fotografia no Brasil com a do próprio país. Conforme escreve Heloisa, “nada escapa ao seu olhar: das filiações ideológicas às redes de relações, passando pelos patrocínios recebidos, pelos constrangimentos enfrentados, pelos temas escolhidos, pelos desafios perseguidos, pelas concepções que nutrem pelo trabalho fotográfico, próprio e dos pares”.

Livro: Imagens da nação: Brasileiros na fotodocumentação de 1940 até o final do século XX
De Maria Beatriz Coelho
Editora UFMG, Edusp e Imprensa Oficial de São Paulo
398 páginas / R$ 190 (preço sugerido)