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Nº 1787 - Ano 38
27.8.2012

Na categorização pediátrica, a ­adolescência se ­estende dos 10 aos 20 anos de vida.

Tradição e Antena

Em sua 15ª edição, Seminário de Diamantina reafirma seu desafio de transcender as fronteiras da economia

Ana Rita Araújo

Minas não há mais? Acrescida de um ponto de interrogação, a frase de Carlos Drummond de Andrade no poema José tornou-se um marco da primeira edição do Seminário de Economia Mineira, em 1982, ao ser discutida, em mesa-redonda, por expoentes das áreas de artes, sociologia, história e economia. Hoje, 30 anos depois, o evento volta-se para o passado, analisa o caminho percorrido e define que muito mais há de vir. Com o mote Diamantina+30, mantém a tradição de uma agenda repleta de temas relevantes para o presente e para os próximos anos, com destaque para a área cultural e a presença de convidados nacionais e estrangeiros.

Segundo o coordenador, professor João Antonio de Paula, o Seminário de Diamantina é um testemunho da vitalidade institucional do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) e tem funcionado como um permanente desafio: organizar cada edição diferente da outra, sem deixar de motivar professores, pesquisadores e estudantes a verem “enormes possibilidades para além da sua disciplina específica”. Em sua opinião, o diálogo e a interdisciplinaridade são o legado do seminário para as próximas gerações.

João Antonio destaca o caráter único do evento, sobretudo por se tratar de iniciativa no campo da economia, tido por muitos como “gelado e inóspito”. “A ideia é mostrar que é possível fazer uma coisa que vai ficar como semente para renovação de olhares e de perspectivas”, analisa. Além dos trabalhos submetidos por autores de instituições de todo o país, a serem apresentados em sessões temáticas nas quatro áreas que compõem o evento – História Econômica e Demografia Histórica, Economia Mineira, Demografia e Políticas Públicas –, a programação é composta por discussões sobre temas mais amplos, distribuídas em oito mesas-redondas, sete sessões temáticas especiais e três conferências.

A agenda cultural inclui vesperata e show com integrantes do Clube da Esquina, em comemoração aos 40 anos do álbum homônimo, e exposição que presta homenagem aos 50 anos de morte do artista Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), aos 30 anos de morte do professor Eduardo Frieiro (1889-1982), um dos criadores da revista Kriterion, e aos 85 anos de fundação da UFMG. Todas as atividades serão realizadas de 29 a 31 de agosto, em Diamantina, que sempre sediou o evento, realizado a cada dois anos. O papel da cidade, aliás, é fundamental para o sucesso do seminário, afirma João Antonio. “Diamantina é, ao mesmo tempo, o passado, a tradição e também antena, lugar a partir do qual se pode descortinar ao longe”, define o coordenador.

Agenda

Entre os temas que ultrapassam a abordagem disciplinar estão as mudanças geopolíticas contemporâneas, que serão discutidas em mesa-redonda com a presença de representante do Ministério da Defesa e de pesquisadores das universidades de Brasília (UnB), de São Paulo (USP) e da UFMG. João Antonio explica que a discussão perpassa aspectos como o fenômeno do nomadismo forçado por guerras, doenças e questões políticas; o movimento migratório intermitente decorrente dos precários vínculos de empregos; a formação de novos blocos de países com protagonismo e como eles influenciam o panorama internacional do ponto de vista de preponderância política, de hegemonia econômica e cultural. “Queremos atualizar essa discussão para o nosso público”, diz.

De acordo com o diretor do Cedeplar, professor Hugo da Gama Cerqueira, o assunto é central, sobretudo em uma instituição que desenvolve pesquisas sobre temas como migrações e relações econômicas internacionais. “O Seminário é momento de reunirmos pessoas que trabalham com esses assuntos para refletir sobre a agenda dos próximos 30 anos”, resume.

Outra mesa-redonda vai abordar modernismo e historiografia brasileira, em alusão aos 90 anos da Semana de Arte Moderna. João Antonio de Paula, que coordena o debate, faz referência à importância do modernismo na cultura brasileira e à presença dos historiadores naquele movimento. “É impossível não pensar no papel do modernismo na renovação dos estudos sobre o Brasil”, afirma. As outras mesas-redondas vão discutir temas como história do pensamento econômico brasileiro, perspectivas da economia e a economia de Minas Gerais e a experiência brasileira de financiamento ao desenvolvimento. Do debate sobre metrópoles e seus desafios participam como convidados os pesquisadores Dominique Duprez e Paul Cary, respectivamente das universidades de Lille 1 e 3 (França). Outro convidado internacional, Peter Skott, da Universidade de Massachusetts (EUA), participa da mesa sobre crise e pensamento econômico.

Atividades pensadas para reunir todos os cerca de 700 participantes do seminário, as conferências focalizam os temas Indústria, ciência e tecnologia no Brasil, por Wilson Suzigan (Unicamp); Democracia e república do Brasil, por José Murilo de Carvalho (UFRJ e ABL); e A crise econômica e situação norte-americana, por Gary Dimsky (Universidade da Califórnia).

Inquietação

Hugo Cerqueira lembra que o Seminário surgiu no final do regime militar, em ano de eleições para governo do estado, contexto de “inquietação e interesse em discutir o futuro de Minas Gerais”. Desde as primeiras edições, o evento ultrapassou os temas estritamente econômicos, abrangendo também demografia, história e políticas públicas. “No Cedeplar, as pesquisas acadêmicas sempre estiveram associadas a essa preocupação em formular propostas e avaliar políticas públicas, o que tem gerado muitos trabalhos”, explica, ao acrescentar que ao longo do tempo o Seminário se abriu para temáticas universais, sem abandonar a preocupação em refletir sobre esses aspectos em Minas. O viés cultural manteve-se nos últimos anos, quando apresentações musicais e teatrais, além de exposições temáticas, foram incorporadas à agenda.

Outra característica do evento é a formação que ele propicia aos alunos de graduação e de pós, ao colocá-los em contato com pesquisadores reconhecidos em suas áreas. “Eu mesmo participei da primeira edição como aluno de graduação, e vários de nós, professores, fizeram dele o lugar de apresentação do seu primeiro trabalho acadêmico”, relata Cerqueira. Ele explica que o clima do encontro favorece o diálogo “cordial, respeitoso, ainda que crítico”, durante as sessões temáticas, em que cada trabalho apresentado é comentado por um acadêmico experiente, indicado pelo Cedeplar.

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