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Nº 1787 - Ano 38
27.8.2012

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Germes para o futuro

Livro de pesquisador do Cedeplar mostra como o capitalismo pode contribuir para sua própria superação

Itamar Rigueira Jr.

O pensador e ativista Roman Rosdolsky (1898-1967) lembrava que Karl Marx procurava, na sociedade de seu tempo, os germes para o mundo do futuro. E ele mesmo, Rosdolsky, desenvolve, em seu livro mais conhecido (Gênese e estrutura de ‘O Capital’ de Karl Marx, editado postumamente, em 1968), a ideia de perceber na história vivida as possíveis heranças para a sociedade que virá. Essa dupla inspiração guiou tese do professor Eduardo da Motta e Albuquerque, submetida em concurso de professor titular da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), que acaba de se transformar no livro Agenda Rosdolsky, publicado pela Editora UFMG.

A proposta de Albuquerque – que lança a obra no dia 29 de agosto, durante o Seminário de Economia Mineira, em Diamantina – é buscar no desenvolvimento do capitalismo mudanças que podem orientar a construção de um novo modelo. E ele identifica quatro aspectos resultantes de dinâmicas comunitárias e de lutas sociais: o sistema de bem-estar social, o sistema de inovação, mudanças no sistema financeiro e a democracia.

“Meu objetivo foi articular o entendimento das metamorfoses sofridas pelo capitalismo com a possibilidade de sua própria superação, na direção de uma sociedade democrática e socialista”, afirma o pesquisador, que é doutor em economia pela UFRJ.

Eduardo Albuquerque abre seu trabalho explorando o diálogo de Marx com autores contemporâneos, como Freeman e Nelson (guru da economia da tecnologia), que estudaram os fenômenos que também mobilizaram o pensador alemão. A intenção é investigar as transformações do capitalismo em momentos diferentes. O autor visita também nomes como Keynes, Minsky e Chesnais, que escreveram sobre a evolução no sistema financeiro.

Capitalismo terá fim?

O passo seguinte foi a sistematização dessas mudanças (ligadas, sobretudo, a tecnologia e finanças) para a compreensão das metamorfoses do capitalismo. “Nessa altura, a análise recai com mais ênfase no desenvolvimento histórico dos Estados Unidos, o caso clássico, e especulo sobre a perspectiva de mudança de hegemonia, a partir da ascensão da China”, conta Eduardo Albuquerque.

Essa parte do livro é encerrada com a pergunta crucial: o capitalismo, com seus ciclos e as crises que se repetem, terá um fim? Segundo o autor, o sistema se alimenta de sua própria dinâmica, tem enormes flexibilidade e capacidade de se transformar. “A resposta, portanto, é que não há limite para o capitalismo. Muda o país hegemônico, e as mudanças têm sempre custo alto, porque surgem problemas novos, como os danos ambientais e à saúde das populações. Mas isso faz parte dessas transições”, comenta Albuquerque.

Agenda Rosdolsky oferece também elementos para a discussão em torno de alternativas ao capitalismo, inserindo-se em um debate acadêmico sobre caminhos possíveis, como o “socialismo de mercado”. O livro faz uma resenha desse debate e um balanço das experiências socialistas, concentrado no emblemático totalitarismo stalinista. “É preciso reforçar que o sonho virou pesadelo, para que possamos nos distanciar dessa experiência”, ressalta Albuquerque, professor de economia da ciência e da tecnologia e de economia política contemporânea.

Os sistemas de inovação são mencionados pelo autor como germes visíveis do socialismo porque não surgem a partir do mercado, dependem mais de arranjo complexo envolvendo empresas, governos, universidades e outras instituições. Quando cita aspectos da evolução do sistema de finanças que permaneceriam, Albuquerque lembra o debate emergente sobre nacionalização de bancos, abrigado por veículos como o The New York Times, e o fato de que quase metade das ações das empresas dos Estados Unidos está nas mãos dos fundos de pensão de trabalhadores.

Os outros germes são o sistema de bem-estar social e a própria democracia. “Parto do princípio de que 200 anos de lutas e conquistas sociais certamente deixarão heranças para um futuro que só poderá ser fruto de uma decisão global e democrática”, completa o professor da Face e do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Cedeplar).

Livro: Agenda Rosdolsky
De Eduardo da Motta e Albuquerque
Editora UFMG
265 páginas
Lançamento: 29 de agosto, em Diamantina