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Nº 1787 - Ano 38
27.8.2012

Entrevista

Recuar para enxergar o futuro

Atualizar o debate sobre a produção científica nas áreas de História Econômica e Demografia Histórica, Economia Mineira, Demografia e Políticas Públicas, além de estabelecer diálogo com temas amplos da cultura brasileira são alguns dos objetivos perseguidos no Seminário de Economia Mineira, que esta semana realiza sua 15ª edição.

“É como se a cada dois anos fizéssemos o movimento de recuar e olhar para a história com perspectiva de futuro”, resume o coordenador, professor João Antonio de Paula, que nesta entrevista ao BOLETIM conta um pouco da história do evento e aborda as metas presentes no tema deste ano, Diamantina+30.

Qual foi o sentido da criação do Seminário de Economia Mineira?

Ele nasceu de uma forma muito modesta, como atividade interna, para uma reflexão coletiva sobre os rumos do Cedeplar. A inspiração foi o Seminário de Estudos Mineiros, que a Reitoria realizava, sem periodicidade muito definida, desde meados dos anos 1950. Esse seminário foi um marco porque reunia pessoas ligadas à Universidade e convidados externos para discutir assuntos referentes à história, à cultura e à economia de Minas. Suponho que esse tenha sido o mote mais remoto do evento que hoje comemora 30 anos. Participei da coordenação do primeiro, em 1982, e uma novidade que introduzimos foi sempre ter uma mesa ou mais atividades voltadas para a questão cultural. Desse modo, todas as edições têm uma marca cultural forte, que dá um pouco a diretriz conceitual do seminário.

Ele nunca foi puramente de economia...

Não, desde o início. Porque o Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) nasceu há 45 anos como centro de economia regional, depois teve um segundo núcleo de pesquisas, que é a demografia, e sempre teve a história, por conta de professores como o Francisco Iglésias. E com o tempo incluímos as políticas públicas. Depois, fomos ampliando para receber pesquisadores do exterior, o que tem sido uma marca do seminário. Ou seja, não é uma reflexão apenas para questões mineiras, tem esse lado também de olhar para fora, para questões contemporâneas no sentido amplo, e de promover o diálogo da Universidade com o setor público. Este ano vamos ter mesas sobre questões do envelhecimento, questões demográficas, enfim, problemáticas contemporâneas.

Esta edição trabalha com o tema ­Diamantina+30...

É muito raro uma iniciativa dessas durar 30 anos. As pessoas desistem, cansam, porque de fato é algo complexo e custa caro fazer do jeito que fazemos, temos que nos mobilizar muito, no sentido puramente pragmático. Por outro lado, para o Cedeplar, funciona como um momento para recarregar baterias. É como se a cada dois anos fizéssemos o movimento de recuar e olhar para a história com perspectiva de futuro. O seminário tem funcionado para nós como um permanente desafio de sempre organizar um melhor do que o outro e deixar como um legado para os que vêm, os que já estão lá e que vão ficar mais 30 anos. Uma herança interessante, que provavelmente vai ser modificada, e é assim mesmo, cada geração imprime a sua marca. Nem sempre foi fácil, mas o que explica um pouco a capacidade do Cedeplar de resistir às dificuldades naturais de uma instituição pública, sujeita a orçamentos e a restrições de todo tipo, é um pouco essa ideia de que há alguma coisa que nós construímos que vai além do burocrático, do formal. Há um compromisso político, moral e ético com uma certa ideia de universidade, de fazer coisas que tenham esse sentido pedagógico e educativo mais amplo, não pragmático, utilitarista, limitado.

Por que Diamantina?

Foi sugestão do Paulo Paiva, então diretor do Cedeplar, e a intenção era levar as pessoas para um lugar que ficassem blindadas das solicitações exteriores. Atribuo muito do sucesso do evento à cidade, também por um aspecto que não é menos importante: o seminário como festa. Eu mesmo, às vezes, me refiro a ele como festival, porque tem um lado lúdico, que é o de aproveitar o ambiente musical e a programação cultural em uma cidade muito acolhedora.