Apolo e Jacinto em versão acadêmica

Professores e alunos da Música e da EBA montam ópera de Mozart para celebrar aniversário da UFMG

Itamar Rigueira Jr.

Aos 11 anos, Mozart compôs a ópera Apolo e Jacinto, que é considerada uma obra completa do ponto de vista artístico, mas que também permite uma produção menos complexa. Por esses dois motivos, ela foi escolhida como atividade do primeiro ano da disciplina Ópera Studio, da Escola de Música da UFMG.

Alunos de regência, canto e piano, que cursam a disciplina optativa, a Orquestra Sinfônica e o Coro de Câmara de Escola vão apresentar o espetáculo no dia 3 de dezembro, às 20h30, no Teatro Sesc Palladium. A produção conta com a parceria da Escola de Belas-Artes (EBA), encarregada de cenários, figurinos, iluminação e maquiagem.

Depois de algumas experiências com a montagem de óperas, a Escola de Música resolveu criar uma disciplina específica. “A rotina da produção organizada em uma disciplina permite aos alunos vivenciar os aspectos mais variados de uma montagem operística, que pode incluir até, como neste caso, a produção de legendas”, justifica o professor e maestro Charles Roussin, coordenador da disciplina. Ele vai reger a ópera no dia 3, mas os dois alunos de regência – Lucas Viana e Lucas Ellera – dividirão a batuta por trechos em apresentação marcada para esta quinta-feira, dia 29, às 19h (com entrada franca) no auditório da Escola, no campus Pampulha.

A orquestração vai contar com dois oboés, duas trompas, cordas e cravo, em total de 25 instrumentistas. O Coro de Câmara também terá 25 integrantes. Com duração de cerca de 80 minutos, sem intervalo, esta versão de Apolo e Jacinto terá direção cênica de Henrique Passini, que nos últimos anos esteve à frente de montagens de Aída e La bohème, no Palácio das Artes. “É bacana lidar com alunos que ainda encontram dificuldades, mas que demonstram dedicação e vontade de aprender e fazer”, destaca Passini.

Arte interdisciplinar

Aberta ao público, com entrada franca, a apresentação integra as comemorações dos 85 anos da UFMG. E mostra a força da Universidade, na visão do diretor da Escola de Música, Maurício Freire. “Esse trabalho revela a capacidade da instituição de produzir um espetáculo completo e que envolve artes e especialidades diversas”, afirma Freire, que ressalta o ineditismo da parceria com a Belas-Artes e o custo baixo para um empreendimento do gênero – a previsão é de gastos em torno de R$ 25 mil, sem contar, naturalmente, recursos humanos e materiais das unidades envolvidas. O Sesc cedeu sem ônus o Palladium, localizado na área central de Belo Horizonte.

A participação de professores e alunos da Escola de Belas-Artes revela as possibilidades de atuação interdisciplinar das artes, que se materializam na cenografia, envolvendo ambientação, objetos, iluminação, figurinos e maquiagem, como destaca a professora Conceição Bicalho, do Departamento de Desenho. De acordo com o vice-diretor da Escola, Evandro Lemos, a experiência sinaliza positivamente para o futuro. “Já há estudos sobre uma forma de sistematizar parceria com a Escola de Música em torno de trabalho ­integrado”, ele informa.

Refinamento e inocência

Wolfgang Amadeus Mozart escreveu Apolo e Jacinto em 1767, por encomenda da Universidade Beneditina de Salzburgo, sua cidade natal. Era tradição que o curso de Latim encerrasse suas atividades com uma apresentação teatral nesta língua. De acordo com Charles Roussin, a obra, composta a partir do modelo conhecido por Mozart, de estética barroca, “ainda surpreende pelo refinamento de sua escrita vocal e harmônica, e pela indescritível pureza e inocência de expressão”.

O enredo está ligado ao mito de Apolo e Jacinto, e a história é contada nas Metamorfoses, de Ovídio. A adaptação feita pelo monge Rufinus Widl, da Universidade Beneditina, ganhou do diretor Henrique Passini nova versão ambientada em uma família de uma máfia imaginária. “Minha intenção foi tornar a história mais compreensível, e o poder do deus Apolo, por exemplo, corresponde ao de um chefe da máfia”, explica Passini.