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Nº 1800 - Ano 39
26.11.2012
Jaqueline Corradi
A possibilidade de conhecer outro país e conviver com culturas diferentes é motivo que leva estudantes a enriquecer sua formação acadêmica no exterior. Com os alunos Alice Gontijo e Agesilau Neiva Almada, do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFMG, não é diferente. Eles acabam de retornar de Roma, na Itália, e Guadalajara, no México, onde participaram de intercâmbio de seis meses.
O que talvez seja pouco usual é o interesse em compartilhar com os colegas o aprendizado de novas técnicas, materiais e ferramentas de restauração. Isso ocorrerá durante o I Seminário experiências de intercâmbio internacional em conservação e restauração, que será realizado no próximo dia 4 de dezembro, a partir de 9h, na Escola de Belas-Artes. A empreitada uniu a professora Marilene Maia, do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, e os alunos Agesilau Almada, Giulia Giovani e Leandro Gonçalves de Rezende. “A área de Conservação e Restauração exige uma abordagem internacional, e o seminário é uma oportunidade de incentivar essa troca e de mostrar os resultados obtidos”, explica a professora Marilene.
Para Alice, o intercâmbio incrementou sua formação acadêmica e ampliou seus horizontes de vida. A estudante passou seis meses em Roma, onde estudou na Università Degli Studi di Roma “Tor Vergata”. Especializada em restauração de papel, ela garante que o intercâmbio foi extremamente proveitoso. “Consegui comparar os valores e os critérios que guiam os trabalhos realizados aqui e lá e entender que, em muitos aspectos, não estamos tão atrasados quanto imaginamos”, comenta.
O acesso a documentos muito mais antigos do que aqueles com os quais normalmente se lida no Brasil chamou a atenção da estudante, que trabalhou na restauração de dois livros, em latim, datados dos séculos 17 e 18, e de uma gravura também do século 17.
A oportunidade de trabalhar com outros materiais orientou a escolha de Agesilau. O estudante frequentou a Escuela de Conservación y Restauración de Occidente (Ecro), em Guadalajara. Durante a estada, Agesilau teve a oportunidade de trabalhar com cerâmica, modalidade não oferecida pelo curso de Conservação da UFMG, que é dividido em escultura, pintura, papel e conservação preventiva.
Ele restaurou uma peça de cerâmica com datação estimada entre 300 anos antes de Cristo e 400 anos depois de Cristo. “Aqui, quando a gente pega uma escultura do século 18, morre de felicidade e medo, ao mesmo tempo. Lá, quando me entregaram uma peça tão antiga, simplesmente enlouqueci, não queria nem tocá-la”, comenta.
Segundo ele, o objeto, com dimensões de 15 x 15cm, foi resgatado em 19 fragmentos. Como estava enterrado, também apresentava problemas típicos do resgate. “Tinha uma resistência muito grande em trabalhar com objetos arqueológicos, não me interessava, mas foi um aprendizado muito bom. O que a escola fez foi nos oferecer um suporte teórico para entender como essas peças estavam acondicionadas antes, como ocorreu a retirada dela e o seu processo de deterioração. Agora, quando vejo uma peça tento entender as razões que levaram à sua degradação”, analisa.
Durante o evento também serão apresentados os resultados dos estudos de caso de Gerusa Radicchi, Marcela Oliveira, Eliana Ursine, Beatriz Silva, Ana Carolina Montalvão e Dolores Belico, que realizaram intercâmbio na Itália e em Portugal.