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Nº 1818 - Ano 39
29.4.2013
Da redação
Steferson Faria/Banco de Imagens Petrobras |
Navio-plataforma da Petrobras no campo de Tupi na bacia de Santos: projeções até 2030 |
O impacto do aumento da oferta de petróleo e gás natural gerado pela exploração das reservas da camada do pré-sal será positivo para o Produto Interno Bruto (PIB) e para a balança comercial. É possível apontar, ainda, impactos setoriais contrastantes, com efeitos positivos para setores de suporte à indústria do petróleo e do gás natural e desfavoráveis para áreas especializadas em atividades extrativas minerais, siderúrgicas e metalúrgicas, de perfil eminentemente exportador.
É o que se conclui da tese de doutorado defendida este ano na Faculdade de Ciências Econômicas (Face) pelo pesquisador Leonardo Marcos Valladares. Ele efetuou análises comparativas entre os efeitos econômicos da expansão da oferta doméstica de petróleo e gás natural com e sem a contribuição do pré-sal, a partir de informações contidas no Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, do Ministério de Minas e Energia.
“Considerei, como pressuposto básico, a formação de excedentes crescentes de produção de petróleo para exportação ao longo da presente década, associada a orientações de expansão limitada do parque nacional de refino, para atendimento focado no mercado doméstico”, explica Valladares. “Como a análise da tese se estendia até 2030, e as projeções do Ministério se limitavam a 2020, parti da premissa de que o volume de exportações de petróleo se estabilize a partir de 2020.”
A metodologia de investigação baseou-se em simulações com um modelo de Equilíbrio Geral Computável (EGC), especificamente concebido para a análise de questões energéticas, que o pesquisador batizou de Bridge-Energy (Brazilian Recursive Dynamic General Equilibrium Model – Version for Energy Analysis).
Outra contribuição original do trabalho, segundo Valladares, envolveu a adaptação de base de dados referenciada na matriz insumo-produto do IBGE de 2005. Como a matriz original não privilegiava a questão energética, o pesquisador introduziu adaptações destinadas a evidenciar fluxos específicos de energia, que resultaram em expansões no número de setores (de 55 para 58, com seis setores energéticos) e de bens (de 110 para 125, com 24 bens energéticos).
Dentre os impactos setoriais do pré-sal, destacam-se a intensificação de níveis de atividade e elevações do investimento favoráveis a setores vinculados à indústria do petróleo e do gás natural, marcada por vinculações complexas com indústrias de suporte de naturezas diversas (naval, mecânica, eletrônica etc.). Por outro lado, a expansão da oferta de petróleo e gás natural exerceria, de acordo com o trabalho, impactos de longo prazo pouco significativos sobre o emprego agregado.
Os resultados das simulações com o modelo Bridge-Energy mostram, ainda, efeitos generalizados de substituição energética direcionada para o consumo de derivados de petróleo e de gás natural. “Nesse contexto, o gás natural desponta como o bem energético com a mais significativa evolução relativa de participação na demanda doméstica por energia”, afirma Valladares. Mas ele ressalva que essas projeções estão condicionadas ao estímulo ao desenvolvimento da infraestrutura nacional de transporte e distribuição do gás e à destinação efetiva da produção para o mercado consumidor doméstico.
No caso específico dos setores energéticos, as simulações evidenciaram impactos positivos não apenas para os setores de petróleo e gás natural, mas também para o de refino de petróleo – em função da elevação da demanda por derivados de petróleo, associada a quedas nos custos de refino –, o de distribuição de gás natural e o de energia elétrica, em decorrência da expansão da atividade econômica e do incremento da demanda por energia termelétrica gerada a partir de derivados de petróleo e do gás natural. O modelo revela impactos negativos para o setor de álcool, de acordo com o pesquisador, “em decorrência de retrações nas exportações do produto e de efeitos substituição impostos por derivados de petróleo e pelo gás natural”.
Leonardo Valladares recomenda novos estudos que contemplem análises regionais dos efeitos econômicos da expansão da oferta de petróleo e gás natural do pré-sal. “Análises como essas poderão evidenciar as repercussões espaciais desses impactos, como os efeitos de critérios alternativos de distribuição de royalties e as dinâmicas de reestruturação de matrizes energéticas regionais”, diz o pesquisador, que é engenheiro da Petrobras e atua na área de estudos e marketing da Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig).
Valladares enfatiza ainda a relevância de reflexões sistemáticas sobre o ritmo de exploração das reservas de petróleo e gás natural do pré-sal, “de modo a conciliar o estímulo ao crescimento da economia brasileira com medidas fundamentais de natureza econômica e ambiental, como a atenuação de impactos setoriais negativos e a preservação de recursos energéticos não renováveis”.
Tese: Efeitos econômicos da expansão da oferta de petróleo e gás natural provenientes do pré-sal brasileiro
De: Leonardo Marcos Valladares
Orientador: Edson Paulo Domingues
Programa de Pós-graduação em Economia
Defesa em 20 de fevereiro de 2013