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Nº 1818 - Ano 39
29.4.2013

Um ofício, uma instituição

Historiador (e ex-veterinário) publica livro que “constrói memória” sobre a profissão e a Escola de Veterinária da UFMG

Itamar Rigueira Jr.

Os ferradores e alveitares, considerados os antecessores dos médicos veterinários, tinham suas atividades fiscalizadas diretamente pelas câmaras que faziam as funções legislativa e executiva nas vilas coloniais. O olhar cuidadoso sobre o exercício desses profissionais revela muito sobre a importância econômica, cultural e social de seu trabalho, que representa a força imemorial da relação do homem com o animal e da produção de alimentos.

O esforço de interpretar essa história marcou a produção do livro Uma história da Veterinária: exercício e aprendizagem de ferradores, alveitares e veterinários em Minas Gerais e a Escola de Veterinária da UFMG, publicado em comemoração aos 80 anos da Escola. O autor é o professor do Departamento de História – e ex-professor da Veterinária – José Newton Coelho Meneses, que aliou sua trajetória e seus conhecimentos nas duas áreas para celebrar ao mesmo tempo o ofício e a instituição.

“Complementei a pesquisa nos arquivos da Escola com a investigação do papel formador da atuação dos práticos nas Minas Gerais dos séculos 18 e 19. O livro se propõe a construir memória, em vez de apenas valorizar nomes, datas e feitos”, afirma o autor. Ele lembra que os práticos, tratados por muitos como “charlatães”, deixaram de atuar em Belo Horizonte há não mais de uma década, e ainda têm presença forte no interior do estado. E ressalta que a Escola de Veterinária “sempre procurou responder à demanda – que é típica da cultura nacional – pela formação técnica, preparando profissionais aderidos à realidade brasileira”.

No início do século 20, a necessidade de formação técnica para um país essencialmente agrícola uniu governo e entidades privadas em torno do projeto de criação de escolas de veterinária e agronomia. “As políticas da República Velha puseram foco no ensino técnico e no melhoramento genético animal e vegetal. Nesse aspecto, um marco foi o investimento nos zebuínos na terceira década do século 20. A abordagem estava ao mesmo tempo na intervenção e na produção”, conta Meneses, que coordena o Programa de Pós-graduação em História, na Fafich.

Com ênfase na formação profissional e na produção científica, foi instalado, em 1932, o Curso Superior de Veterinária, vinculado à Escola Superior de Agricultura de Minas Gerais, sediada em Viçosa. Dez anos mais tarde, o curso foi desmembrado e transferido para Belo Horizonte. Depois de passar pela Gameleira e de ser federalizada e incorporada pela Universidade de Minas Gerais, a Escola ganhou seu prédio no campus Pampulha, para onde se mudou em 1974.

“A vinda para a Pampulha favoreceu fortemente a pesquisa e a pós-graduação. A Escola abriga mais de cem laboratórios, um hospital muito bem equipado e área e instalações adequadas para animais de pequeno, médio e grande portes”, afirma Meneses, que se dedica, sobretudo, a pesquisas sobre a cultura material no mundo rural.

Ciência e extensão

O livro enfatiza ainda a importância da extensão, historicamente muito valorizada na Escola de Veterinária. O Centro de Extensão – primeiro da UFMG – foi criado em 1965, mas muito antes disso a instituição vivia intensa interação com a realidade fora de seus muros. “Professores e alunos estiveram sempre em contato estreito com criadores e se envolvem em exposições desde que se valiam da proximidade com o parque da Gameleira”, revela o autor. Projetos relacionados a diversas disciplinas levam grupos a desenvolver trabalhos sob demanda em cidades do interior de Minas e até em estados próximos como a Bahia e o Rio de Janeiro.

A forte tradição de unir pesquisa à intervenção na realidade certamente inspirou a opção pela linha editorial da obra comemorativa. “Conto uma história construída com o trabalho de todos os profissionais da Veterinária e, no caso da Escola, no dia a dia de professores, técnicos e alunos”, conclui José Newton Meneses.

Livro: Uma história da Veterinária: exercício e aprendizagem de ferradores, alveitares e veterinários em Minas Gerais e a Escola de Veterinária da UFMG
De José Newton Coelho Meneses
Editora UFMG
183 páginas / R$ 89 (preço sugerido)