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Nº 1819 - Ano 39
6.5.2013

Experiência na bagagem

Balanço aponta UFMG como a segunda universidade que mais envia estudantes de graduação ao exterior pelo Ciência sem Fronteiras

Ana Rita Araújo

A primeira leva de intercambistas da UFMG que deixou o Brasil pelo programa Ciência sem Fronteiras está retornando ao país com entusiasmo renovado para concluir seus cursos de graduação. “Não poderia ter sido melhor”, resume Tiago Alvim Jota, estudante de Engenharia Civil que procurou o intercâmbio na alemã Ruhr-Universität Bochum para aprimorar a segunda língua.

Ele comenta que a convivência com pessoas de diversas nacionalidades ofereceu “imensa carga cultural”, além de oportunidades nos campos acadêmico e profissional. “As disciplinas que cursei me mostraram a maneira como os alemães veem e aplicam conhecimentos de engenharia civil nas construções, obviamente, muito diferente da brasileira, principalmente devido ao clima e à cultura”, comenta.

Dados divulgados recentemente pelo governo federal revelam que a UFMG é a segunda universidade que mais envia estudantes de graduação para o exterior pelo programa, superada apenas pela Universidade de São Paulo (USP). Nada menos que um terço dos seus 615 alunos selecionados desde o final de 2011 seguiram para os Estados Unidos, país que recebeu, junto com França e Portugal, a metade do contingente de estudantes da Instituição. A outra metade foi para países como Reino Unido, Alemanha, Canadá, Espanha e Austrália, seguidos por outros dez destinos. Também rumaram para o exterior 228 pós-graduandos.

Nos Estados Unidos, alunos da UFMG foram para instituições como University of Wisconsin at Madison, California State University of Fullerton e Florida Atlantic University. Na França há estudantes da Instituição nas universidades Pantheon Sorbonne, Paris I, Lille I, II e III e Rennes I e II. Já na Alemanha, pontificam instituições como Fachhochschule Schmalkalden, Universitat zu Koln e Universitat Potsdam.

O estudante Luccas Campos, do curso de graduação em Engenharia Química, explica que se inscreveu de última hora, quando já não havia prazo para o teste de proficiência em inglês. Acabou optando pela Universidade de Aveiro, em Portugal, onde ficou de agosto de 2012 a fevereiro deste ano. “A experiência foi incrível. Pude treinar o inglês, pois praticamente nenhum intercambista com quem convivi falava português, e fiz disciplinas que não constam no currículo da UFMG, ligadas à simulação e eficiência de processos e à gestão de projetos”, conta.

A opção de Luccas, a mesma tomada por 20% dos alunos da UFMG aprovados até o momento e por número expressivo de estudantes brasileiros participantes do Ciência sem Fronteiras, não mais será possível. Há poucos dias, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, anunciou que universidades portuguesas estão fora da lista de instituições de graduação do programa neste semestre. A mudança teria o objetivo de estimular a aprendizagem de outras línguas pelos estudantes.

“Um dos pontos positivos do programa é paradoxalmente sua capacidade de trazer à tona uma série de problemas que urge enfrentar, a começar pela proficiência linguística”, avalia o diretor de Relações Internacionais da UFMG, Eduardo Vargas. Ele comenta que o modo como o governo tem lidado com o assunto pode suscitar “estranheza e preocupação, pois frustra os estudantes e causa sérios embaraços diplomáticos com as universidades portuguesas”, mas era necessário fazer algo a respeito. Em sua opinião, a enorme procura pelas instituições daquele país no contexto do programa resulta “mais de nossas deficiências linguísticas do que de mérito das universidades que lá existem”. Vargas avalia que teria sido mais adequado não abrir o último edital para Portugal, “em vez de frustrar aqueles que nele se inscreveram”.

Ainda que a exclusão de Portugal do rol de países conveniados possa reduzir as inscrições, uma vez que o número de alunos que dominam uma segunda língua é insuficiente para garantir escala ao Ciência sem Fronteiras, o diretor avalia que “está mais do que na hora de enfrentarmos o desafio do monoglotismo que prevalece no Brasil”. Atenta ao problema desde o início do Programa, a Diretoria de Relações Internacionais (DRI) criou assessoria para proficiência linguística, que desenvolve ações que favoreçam a internacionalização, como o curso de Inglês para fins acadêmicos, e a divulgação entre seus alunos do Inglês sem Fronteiras, recentemente lançado pelo governo federal. “Nossos alunos precisam se conscientizar de que a mobilidade internacional não dispensa proficiência em língua estrangeira, e os exames devem ser feitos antes mesmo do lançamento dos editais”, ressalta Vargas.

Problema na volta

A grande participação da UFMG na iniciativa – que abrange atualmente 2% de seus alunos de graduação – também traz desafios que têm mobilizado instâncias acadêmicas e administrativas, como a integralização dos créditos ao final do intercâmbio, alerta Eduardo Vargas. Esse problema foi previsto pela DRI já na liberação dos estudantes selecionados em 2011, pois à época não houve tempo para a elaboração de programas individuais de trabalho que deveriam ter sido aprovados pelos respectivos colegiados dos cursos.

“Houve açodamento por parte do governo federal para enviar as primeiras turmas. Em outras iniciativas que gerenciamos ou participamos, como o Minas Mundi e o Escala Estudantil, o aluno não viaja sem esse plano, porque nele há um compromisso com relação às disciplinas que serão reconhecidas no seu retorno”, explica o diretor.

Segundo ele, no caso das primeiras turmas do Ciência sem Fronteiras, o governo não informou às universidades quais alunos haviam sido selecionados nem para onde estavam sendo enviados. “A prática de balcão é uma das coisas que põem em risco o sucesso do programa”, afirma Vargas. Ele acredita que a iniciativa seria mais bem-sucedida se, em vez de privilegiar o relacionamento direto com os alunos, valorizasse as instituições.

Para minimizar a dificuldade de integralização de créditos dos alunos que agora começam a retornar à Universidade, a DRI realizou em meados de abril reunião com os coordenadores de colegiados para esclarecer a situação e solicitar compreensão e flexibilidade no reconhecimento das disciplinas cursadas nas instituições estrangeiras. Com o intuito de evitar a repetição de situações como esta, no encontro ficou decidido, segundo Vargas, “que daqui para a frente, mesmo que o aluno tenha bolsa, não sairá da UFMG sem o plano de trabalho”.

A estudante Gabriela de Amorim Soares, do 10° período de Engenharia Química, acaba de retornar da Katholieke Universiteit Leuven (Bélgica). Em sua opinião, embora o Ciência sem Fronteiras tenha falhas, “a experiência com os primeiros alunos servirá para melhorá-lo continuamente, de forma a alcançar seus propósitos”.