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Nº 1819 - Ano 39
6.5.2013

Duplo desafio

Tese da Enfermagem analisa perfil de médicos gestores de serviços de saúde

Amanda Matos*

As disciplinas do curso de medicina não preparam os futuros médicos para atuar como gestores de operadoras de saúde, mas muitos constroem uma sólida carreira em duas frentes paralelas de atuação – a gestão e a assistência. Tese recém-defendida junto ao Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem analisa a configuração da identidade de médicos que atuam como diretores executivos de cooperativa da área e revela que o exercício da função contempla conjunto expressivo de habilidades, inseridas em cinco componentes da perspectiva integrada de análise: cognitiva, funcional, comportamental, ética e política.

Professora do curso de bacharelado em Gestão de Serviços de Saúde da Escola de Enfermagem, a autora do estudo, Fátima Ferreira Roquete, procurou compreender o perfil dos médicos que entram no mundo da gestão de cooperativas de trabalho e que competências mobilizam no exercício dessa função. Para trabalhar a temática, foram entrevistados 29 profissionais com função gerencial em uma cooperativa de trabalho situada em Minas Gerais. Segundo a professora, os médicos foram divididos em dois grupos, já que a metodologia de pesquisa adotada “considerou como esses profissionais se veem e como aqueles que compartilham com eles o cotidiano do trabalho os veem”.

Em abordagem biográfica e relacional foram desveladas temáticas como formação, experiência anterior e trajetória dos diretores; exercício profissional atual; e expectativas relacionadas ao trabalho que realizam na função. A pesquisadora explica que os resultados mostraram que a identidade e as competências profissionais dos diretores executivos da cooperativa “são construídas no cotidiano do trabalho de forma imbricada, caracterizando, portanto, uma relação dinâmica e processual”.

A pesquisadora ressalta que os profissionais se percebem de forma positiva, apesar de reconhecerem que a formação em medicina não os prepara para as atividades de gestão. Justamente por isso, nas equipes de trabalho da cooperativa, cenário do estudo, predominam profissionais das áreas de administração, ciências contábeis e direito. “O que pude perceber foi a complementaridade de saberes em um clima de ajuda mútua”, observa Fátima Roquete.

Outro aspecto decisivo para o sucesso da atuação dos gestores é a sua permanência na prática médica: “Eles continuam a trabalhar na assistência, e isso faz com que conheçam de perto as necessidades dos colegas médicos e dos usuários”, diz Fátima Roquete, lembrando que esses profissionais também se sentem felizes como gestores.

Sucessão

A bagagem acumulada pelos médicos nas duas áreas facilita a condução das cooperativas médicas, mas pode significar dificuldades quando há necessidade de renovação de quadros na diretoria. A autora comenta que o estatuto social das cooperativas determina que haja revezamento dos associados nas instâncias colegiadas de administração, o que significa um desafio, já que o cooperado não é preparado formalmente para o exercício da gestão, particularmente para cargos da direção executiva.

Segundo Fátima Roquete, tal sucessão poderia ser planejada, com a substituição gradual de membros, já que as competências para esse tipo de atividade são adquiridas também com a prática. “A situação guarda similaridade com empresas familiares, que criam conselhos de administração, com o intuito de garantir a continuidade e a sustentabilidade”, compara a pesquisadora.

Tese: Identidade e competências profissionais: um estudo com diretores executivos de uma cooperativa de trabalho médico de Minas Gerais
Autora: Fátima Ferreira Roquete
Defesa: dezembro de 2012, junto ao Programa de Pós-graduação da Escola de Enfermagem
Orientadora: professora Maria José Menezes Brito

*Estagiária da Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem