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Nº 1852 - Ano 40
17.02.2014


Encarte
17.02.2014

Em busca dos mitos de origem

Grupo Linha, da Escola de Belas-Artes, procura imagens e ideias que são referência para artistas, criadores e pensadores contemporâneos

Itamar Rigueira Jr.

Como os artistas do passado influenciaram a arte contemporânea? Que movimentos políticos e estéticos foram responsáveis pelo controle das imagens apresentadas na atualidade? Que momentos e imagens da história da arte inspiraram pensadores, artistas, escritores e cineastas?

A busca por respostas a essas questões conduz parte dos trabalhos ligados ao Linha – Grupo de Pesquisa sobre o Desenho e a Palavra, da Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG. Produções artísticas, exposições, livros de artista, dissertações e teses escavam locais e momentos da história da cultura para encontrar os mitos de origem, textos e outras manifestações fundadoras.

“Estudamos a memória como categoria retórica, vinculada a toda formação no mundo das imagens. Esse é o tema principal que congraça a maioria das pesquisas no grupo”, afirma a professora Maria do Céu Diel, coordenadora do Linha, fundado em 2003.

Maria do Céu lembra que a imagem sempre foi uma obsessão de grupos políticos, religiosos ou laicos. “Acreditamos que imagens, textos, tratados, afrescos e outros lugares que contêm a ‘imagem agente’ portam a pedagogia visual, ou seja, um programa político e estético para condução dos pensamentos, sendo repetido pelas curadorias de exposições, páginas de livros, filmes e as artes visuais em seu todo.”

Sempre em interação com grupos interinstitucionais e internacionais, o Linha agrega estudos individuais dos professores-artistas-pesquisadores em artes, produzindo imagens a partir de pesquisas sobre tradução e entrelaçamento das diversas linguagens artísticas, verbais, visuais e audiovisuais – e daí se produzem exposições de pesquisa.

Alguns dos estudos em curso perscrutam desde as obras do artista italiano Alberto Giacometti (1901-1966) e do diretor de cinema Peter Greenaway, como também as imagens apocalípticas dos campos de extermínio, dos locais da memória, dos afrescos restaurados de Andrea Mantegna, das formas de encadernação e de difusão dos livros e das bibliotecas. Também são estudadas as maneiras como as imagens da contemporaneidade se apresentam na pintura, no desenho, na gravura e na escultura. A intenção é resgatar as origens e configurações primordiais dessas imagens e os grupos que estavam no controle político nas respectivas épocas. Assim, por exemplo, é possível estudar o filme O bebê santo de Macon (1993) compreendendo que Peter Greenaway buscou na composição das imagens os vícios e virtudes, as alegorias de Cesare Ripa e os Emblemas de Alciato, ambos italianos do século 16.

Sarah Dutra
Maria do Céu Diel com integrantes do Grupo Linha Júnior
Maria do Céu Diel com integrantes do Grupo Linha Júnior

Da ciência para a arte

Professora do curso de Design de Moda da Escola de Belas-Artes e doutoranda sob orientação de Maria do Céu, Adriana Bicalho pesquisa como imagens científicas dos séculos 16 e 17 – especialmente representações de animais – migraram para a arte contemporânea. “Olho para essas imagens da ciência como imagens didáticas e minha pesquisa percebe que a parte maravilhosa delas foi apropriada pelas artes visuais”, diz Adriana, que concentra seus estudos nas obras do espanhol Joan Fontcuberta e do americano David Wilson (que criou um museu de curiosidades na Califórnia e inventa histórias e documentos “científicos”).

O aporte artístico do grupo Linha tem sido traduzido em exposições em espaços como a Casa do Lago, na Unicamp, e no Istituto Brasile-Italia (Ibrit), em Milão, reunindo obras artísticas em técnicas variadas, relacionadas às pesquisas do grupo. Recentemente, integrantes que fazem estudos de doutoramento e mestrado na Europa uniram-se para mostra eletrônica (http://linhaalemmar.com/projetos-al%C3%A9m-mar.htm/) cuja proposta foi que cada um escrevesse poeticamente sobre o trabalho do colega.

Outra experiência internacional deu-se em fevereiro de 2013, quando parte do grupo deslocou-se para Veneza: enquanto Maria do Céu realizava residência artística na Scuola Internazionale di Gráfica, Moema Queiroz, Lucia Santiago e Tai Nunes se envolveram em uma rotina de pesquisas bibliográficas e iconográficas na Biblioteca Marciana. Essa imersão deu origem ao livro Imagens venezianas, lançado em outubro do ano passado, com textos das pesquisadoras e desenhos de Maria do Céu.

Responsável pela organização do livro eletrônico ­Conversações com imagens – hospedado no site da Editora Império do Livro (www.imperiodolivro.com.br) e onde figuram as pesquisas recentes dos membros do grupo – o Linha divide sua atuação em temas como estudos sobre imagem e palavra e a correlação entre as artes; territórios, memória e arte; restauro, patrimônio e estética; e representações da memória na pintura, arquitetura, desenho e cinema.