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Nº 1854 - Ano 40
10.03.2014

40 anos de uma esquina

Livro sobre o principal movimento musical nascido em Minas será lançado na UFMG

Ewerton Martins Ribeiro

Em 1972, Milton Nascimento e Lô Borges lançavam o disco Clube da Esquina, que se tornaria a pedra fundamental de um movimento musical homônimo, marcado por sonoridade “que fundia as inovações trazidas pela bossa nova a elementos do jazz, do rock, da música folclórica dos negros mineiros, da música erudita e da música hispânica”, como aponta em ensaio o músico Ivan Vilela. As quatro décadas seguintes estão registradas no livro Clube da Esquina 40 anos, organizado por Márcio Borges e rodado pela Imprensa Universitária. Na UFMG, a obra será lançada nesta terça-feira, dia 11, no auditório da Reitoria.

A obra reúne vasto acervo fotográfico, além de textos críticos, ensaios e resenhas, e uma apresentação do projeto do Museu Clube da Esquina/Centro de Referência da Música de Minas, iniciativa da Escola de Música da UFMG, da Associação de Amigos do Museu Clube da Esquina, da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais e do Ministério da Cultura.

“Trata-se de síntese sobre o movimento feita com base em entrevistas com os principais músicos e atores. Márcio Borges desenvolveu ótima compilação de informações, oferecendo uma boa ideia de como se constituiu o Clube”, explica o professor Mauro Rodrigues, da Escola de Música da UFMG.

Rodrigues destaca o caráter de vanguarda que envolveu os bastidores da produção do disco. “É bastante inovador o processo colaborativo por trás de sua produção. As análises das fichas técnicas dos discos e os relatos mostram com clareza que tudo o que foi feito, naqueles registros e performances, estava permeado por esse espírito. Era um clube, de fato. Com tudo girando em torno da figura do Milton Nascimento”, aponta.

Para o professor João Antonio de Paula, pró-reitor de Planejamento e Desenvolvimento da UFMG, a publicação de dossiê sobre o movimento em livro reafirma as intenções da Universidade de levar a cabo a instalação do museu. “Ele será o testemunho vivo da grandeza da cultura mineira e de seu lugar central como instrumento do nosso desenvolvimento econômico, político e social”, diz.

Um clube no museu

Coordenador do projeto do MCE/CRMM, o professor Rodrigues conta que o museu será implantado no edifício do Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas), que funciona na caixa d’água erguida na época da construção de Belo Horizonte, nas imediações da Praça da Liberdade. “A ideia que surgiu e que passou a nortear o trabalho foi a de que esse espaço, além de servir para a guarda e exposição de acervos, estaria também destinado a atividades artísticas e acadêmicas, algo que poderia ser sintetizado sob a fórmula de um museu vivo”, conta. “A música feita por esse grupo de artistas está marcada pela diversidade cultural do estado. Eles vieram de diferentes regiões, e seu encontro na capital possibilitou o surgimento de uma produção singular, que inclui e concilia a diversidade regional e está em conexão com outras manifestações musicais do seu tempo mundo afora”, analisa o professor.

Segundo Rodrigues, o projeto do museu tramita na Prefeitura de Belo Horizonte. “Trata-se de um estágio mais burocrático, em que repassamos para a Prefeitura as documentações na medida em que elas vão sendo solicitadas. Hoje dependemos da aprovação desse projeto para passar à fase seguinte, a de elaboração do projeto executivo. É ele que possibilitará maior precisão da nossa demanda por recursos”, explica.

Nacional e internacional

“A trajetória do Milton é curiosa: ele talvez seja o único artista que eu conheço que começa uma carreira nacional e uma internacional praticamente ao mesmo tempo”, diz Mauro Rodrigues, ao lembrar que, nos anos 1960, o compositor lançou um disco com arranjos de Luiz Eça, um dos maiores pianistas e arranjadores do Brasil [Travessia, de 1967: orquestrações e regência de Luiz Eça].

Gravar com Eça, frisa Rodrigues, era o sonho de Bituca. “E isso no ano em que participou do Festival Internacional da Canção com Travessia. Na ocasião, o arranjador Eumir Deodato, que fazia parte do júri, se encantou com Milton e decidiu levá-lo para gravar um disco nos Estados Unidos, onde trabalhava. Milton gravou com os grandes nomes do jazz daquela época e pouco tempo depois lança o álbum [Courage, de 1969: arranjos e regência de Eumir Deodato] que o projetaria no cenário internacional”.