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Nº 1854 - Ano 40
10.03.2014

Onde eles estão?

Ferramenta estatística desenvolvida no ICEX permite visualizar distribuição de médicos pelo país

Luana Macieira*

Um aplicativo capaz de observar o deslocamento e a distribuição dos médicos no território nacional. Esse foi o desafio que orientou o trabalho Novas ferramentas para visualização georreferenciada de dados: uma integração entre R e Google Maps, vencedor do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o SUS – 2013, iniciativa da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde (SCTIE/MS). O prêmio incentiva produções científicas que contribuem para o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde, o SUS.

O trabalho, materializado em dissertação de mestrado, foi desenvolvido pelo estatístico Luís Gustavo Silva e Silva. Ele vai ao encontro do Programa Mais Médicos, sancionado em outubro do ano passado pela presidente Dilma Rousseff. Por meio da plataforma Arouca, banco de dados do Ministério da Saúde que agrega informações sobre os médicos que atuam no SUS, o aplicativo desenvolvido pelo pesquisador permite que os dados geográficos dos médicos brasileiros sejam visualizados por meio do Google Maps.

“Desenvolvi um aplicativo chamado aRouca (nome que remete ao banco de dados Arouca), que pode ser muito útil para o Programa Mais Médicos, cuja criação levantou muitas discussões sobre a distribuição dos médicos brasileiros. Nesse contexto, o aplicativo pode ajudar os gestores na tomada de decisões, permitindo a visualização da distribuição segundo a especialidade profissional e a origem e destino dos médicos depois que eles se formam”, explica.

Segundo o pesquisador, a possibilidade de observar o fluxo migratório por meio de uma ferramenta conhecida e de fácil acesso (o Google Maps) é algo inédito. Com o desenvolvimento do aplicativo, observa ele, as informações disponíveis servirão de apoio aos governos nos processos de planejamento, monitoramento e avaliação das ações educacionais, ampliando o conhecimento do perfil do médico brasileiro. “No primeiro momento, nossa pesquisa oferece ao gestor um feedback das demandas educacionais. Por exemplo, que tipos de cursos os médicos de uma certa região querem ou precisam fazer? Depois passamos para a etapa de entender como é a carência de médicos no Brasil, onde faltam porfissionais e qual tipo de especialidade”, diz Luís Gustavo.

O trabalho do estatístico não se preocupou em destrinchar a distribuição de médicos no território nacional. Segundo o pesquisador, seu foco foi criar a ferramenta de visualização para que esse tipo de estudo seja realizado pelos gestores em saúde. Porém, o pesquisador afirma que, durante a elaboração do aplicativo, algumas informações sobre a distribuição desses profissionais acabaram confirmando os argumentos do governo federal usados como justificativas para a criação do Mais Médicos.

“Já sabíamos que no Norte e no interior do Nordeste faltava todo tipo de médico, desde os generalistas até os especialistas, mas uma das ferramentas do nosso aplicativo, o Mapa de carência/mapa de cobertura, conseguiu responder uma pergunta importante: quantos quilômetros uma população cuja taxa de médicos encontra-se abaixo do recomendado deve deslocar-se para encontrar um médico capaz de atendê-la?” Em algumas regiões do país, as pessoas precisam percorrer até 300 quilômetros para receberem atendimento. “Nosso aplicativo mostra que algumas especialidades não precisam estar presentes em todas as cidades do país. Porém, corroboramos com a constatação de que há locais em que faltam até mesmo clínicos gerais”, aponta.

Desenvolvimento

O aRouca foi criado em três passos. Inicialmente, Luís Gustavo Silva e Silva estudou a linguagem do Google Maps, ambiente em que os mapas de médicos seriam visualizados. O segundo passo foi a junção da plataforma Arouca ao aplicativo, uma vez que este utilizaria as informações do banco de dados do Ministério da Saúde para a criação dos mapas. A estatística apareceu no momento da exploração dos dados, por meio do software R, que auxilia na análise e visualização dos dados em grande escala. “O R é um software gratuito e amplamente utilizado pelos estatísticos. Conseguimos integrar as ferramentas do R ao Google Maps, plataforma de interface muito mais simples”, afirma Luís Gustavo.

Embora os dados já pudessem ser acessados na ferramenta Arouca, o aplicativo, na visão do pesquisador, facilita a visualização. “Agora, qualquer gestor, mesmo sem conhecimento de estatística, poderá usar os dados da ferramenta”, assegura Silva, que atualmente é aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Estatística da UFMG e continua trabalhando no projeto aRouca.

Dissertação: Novas ferramentas para visualização georreferenciada de dados: uma integração entre R e Google Maps
Autor: Luís Gustavo Silva e Silva
Orientador: Renato Martins Assunção
Co-orientador: Marcelo Azevedo Costa
Defendida em fevereiro de 2013 no Departamento de Estatística da UFMG

*Matéria publicada no Portal UFMG, seção Pesquisa e Inovação, em 19/02/2014