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Nº 1859 - Ano 40
14.04.2014

Encarte

Novo, como há um século

Depois de três anos, fachada do prédio do Centro Cultural UFMG recupera características originais

Hugo Rocha

O Centro Cultural UFMG comemora aniversário de cara nova. Mais precisamente, com sua fachada restaurada. Exemplar da arquitetura eclética, com características neoclássicas, o prédio foi tratado como testemunho histórico dos primeiros anos da nova capital. Segundo as arquitetas responsáveis pelo projeto, Alethéa Moreira Lessa e Marina Laguardia, do Departamento de Planejamento Físico e Projetos, foi adotado processo chamado de “crítico-conservativo”.

“Analisamos a obra de forma crítica partir do reconhecimento do objeto, da sua autenticidade e de seu estado de conservação, buscando o máximo de conservação possível e evitando o falso testemunho”, explica Alethéa. O trabalho teve início há três anos: metade desse tempo foi necessária para levantamento de dados, elaboração do projeto arquitetônico e sua aprovação; mais seis meses para definição do orçamento da obra e um ano para a execução.

A elaboração do projeto de restauração foi precedida de longa pesquisa histórica e das características arquitetônicas da edificação para que nenhuma decisão corresse o risco de “apagar os registros do passado”, de acordo com Marina Laguardia. Isso foi importante, por exemplo, para a escolha da tonalidade da tinta da fachada (terracota), feita através de processo de prospecção das camadas de tintas existentes. Pela mesma razão, decidiu-se manter uma porta como parte integrante de uma janela. Manter os registros, segundo as arquitetas, visa permitir a formulação de novas perguntas.

Investigação

Além das pesquisas histórica e arquitetônica, foi necessário analisar o uso do espaço desde a sua construção, descobrir técnicas construtivas utilizadas e as intervenções que o edifício sofreu ao longo do tempo.

“As etapas de levantamento de informações e de mapeamento dos danos precisam ser muito bem realizadas, porque há o risco de se intervir de forma negativa. Um edifício histórico pode sofrer danos irreversíveis se não houver a devida análise e entendimento do processo construtivo da época em que foi erguido. Essa é a fase que exige mais atenção, trata-se de um processo investigativo”, ressalta Alethéa, acrescentando que o trabalho deve ser realizado em integração com profissionais de outras áreas de conhecimento, como historiadores, químicos, engenheiros e profissionais que preservam a arte dos ofícios da marcenaria e serralheria. Como exemplo, ela cita a escolha da tinta de emulsão acrílica siliconada, com base em pesquisa realizada por Sandra M. Almeida e Luiz Antônio Souza, este último professor da Escola de Belas-Artes da UFMG. O processo de restauração foi acompanhado pelo Instituto Estadual do Patrimônio e Histórico e Artístico (Iepha).

Outro princípio que guiou o processo de restauração foi o da reversibilidade, segundo o qual é preciso identificar elementos novos adicionados à edificação, principalmente em caso de réplicas. Essa prática tenta impedir que tais elementos sejam classificados como mais antigos do que efetivamente são. “O objetivo é determinar os elementos característicos da edificação, valorizá-los, fazer a restauração e alguma recomposição exclusivamente quando necessária”, explica Marina Laguardia.

Descobertas

As obras na fachada do Centro Cultural duraram cerca de um ano, entre 2012 e 2013. A execução revelou aspectos não visíveis na época da elaboração do projeto. A restauração das janelas levou à descoberta de uma porta cortada transformada no postigo (peça de madeira por trás do vidro) de uma janela. Aparentemente irrelevante, essa constatação, aliada à análise de fotografias antigas, permite cogitar a possibilidade de as janelas terem sido portas da edificação original. Também é possível perceber, pela divisão dos vidros das janelas, que foram feitas intervenções nas esquadrias, mas não se pode precisar a divisão original (seis ou nove partes) uma vez que não foram identificadas. “Fotografias antigas auxiliaram na suposição da originalidade da divisão dos vidros, mas é interessante saber que as diferenciações marcam épocas e demonstram que cada janela foi reparada em momentos e de modos distintos”, comenta Marina.

A restauração, que abrangeu área de 1.634,49 m², custou pouco mais de R$ 1,2 milhão, recurso financiado pelo PAC das Cidades Históricas. A obra foi acompanhada pela Superintendência de Infraestrutura e Manutenção da UFMG por meio, respectivamente, dos departamentos de Projeto e de Manutenção e Operação da Infraestrutura (Demai).