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Nº 1880 - Ano 41
13.10.2014


Encarte

Minas tem camarão marinho

Laboratório da UFMG é o único no estado a manter criação intensiva do crustáceo em cativeiro; atividade desponta como opção sustentável, segura e viável economicamente

Matheus Espíndola

Longe da costa e da concorrência com pescadores e banhistas. Assim se configura o ambiente para cultivo de camarões marinhos em tanques e estufas no Laboratório de Aquacultura (Laqua), setor de Maricultura, da Escola de Veterinária da UFMG. A técnica não ameaça o equilíbrio do ecossistema, uma vez que não há risco de fuga de animais para o ambiente, como detalha a professora Cintia Nakayama, uma das responsáveis na Universidade pelo trabalho. “Nas fazendas tradicionais, os camarões exóticos podem fugir para o mar e causar problemas ambientais. No caso do cativeiro, eles morrem se fugirem. É o que se tem de mais sustentável e ecologicamente amigável”, garante professora.

A técnica também é bastante econômica em relação ao uso de recursos hídricos, como destaca o professor Kleber Miranda Filho, que coordena as atividades no Laqua: “As fazendas em cidades litorâneas consomem 64 mil litros de água para produzir 1 quilograma de camarão. Nosso laboratório consegue a mesma produção gastando apenas 160 litros”, compara. Kleber Miranda acrescenta que a água é utilizada no tanque, sem renovação, por até cinco anos, período em que ocorrem de dez a 15 ciclos entre o povoamento dos juvenis de camarão até sua despesca, quando o animal atinge o tamanho ideal para a indústria. “As enormes fazendas de criação, que costumam possuir vários efluentes, despejam no mar a água poluída pelos resíduos do cultivo. Nosso método é isento dessa desvantagem”, garante.

Sopa nutritiva

Como explicam os professores, o ambiente da criação, aquoso e de cor barrenta, consiste em um “ensopado” formado por bactérias, protozoários, fezes e outros organismos benéficos aos camarões, que se agregam formando flocos. O biofloco, como é chamada a mistura, é rico em nutrientes e auxilia na manutenção da qualidade da água usada no cultivo. “O método reduz os gastos com ração, pois os camarões se alimentam do biofloco, e garante a integridade do meio”, observa Cintia Nakayama.

No entanto, os professores alertam que é preciso muita atenção quanto ao controle do sistema (variáveis físico-químicas, volume do biofloco, entre outras). O conhecimento do sistema de bioflocos e a sua manutenção demandam profissionais especializados. “Se o meio se desequilibrar, toda a produção pode ser perdida em poucos minutos”, destaca Kleber. “A ideia é simples, mas deve-se ter atenção redobrada para esse risco iminente”, afirma o professor.

O trabalho já obteve reconhecimento e apoio de instituições de fomento. Foi aprovada pelo CNPq a liberação de R$ 97 mil para aquisição de uma estufa destinada exclusivamente à criação, que será instalada na área externa do laboratório. A estrutura possibilitará a realização de experimentos mais aplicados, oferecendo suporte aos produtores interessados em observar e entender como se dá o processo.

O cultivo de camarão em sistema de bioflocos desperta também a atenção dos produtores do Nordeste brasileiro, região que mais abastece o mercado nacional. No entanto, ainda não existe mão de obra suficiente para essa indústria. “Nossa ideia é qualificar profissionais para o mercado”, diz Cintia.

A tecnologia chegou ao Brasil há cerca de dez anos, trazida dos Estados Unidos pelo professor Wilson Wasielesky Júnior, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg). “Minas Gerais possui clima favorável para o cultivo, além de excelente mercado consumidor. É possível comercializar camarão de melhor qualidade e mais fresco do que o encontrado nos supermercados mineiros”, afirma Kleber.

Segundo o professor, a UFMG prentede se tornar referência na criação de camarão marinho longe da faixa costeira com o uso da tecnologia de bioflocos. “O pacote da UFMG apresenta maior viabilidade econômica. Se deu certo no Rio Grande do Sul, aqui será melhor ainda”, projeta Miranda.