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Nº 1885 - Ano 41
17.11.2014

A serviço da saúde

Reuniões científicas coordenadas pela UFMG discutem tecnologias aplicadas ao controle, diagnóstico e tratamento de leishmanioses e doença de Chagas

Teresa Sanches

De 8 a 10 milhões de pessoas no mundo estão infectadas pelo Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, e 120 milhões estão expostas ao risco de contraí-la. Cerca de 30% dos infectados desenvolverão a forma grave da doença, a cardiopatia chagásica, com alto índice de mortalidade. Já as três manifestações da leishmaniose – tegumentar, mucosa e visceral – registram a prevalência de 12 milhões de casos distribuídos em 88 países das Américas, Europa, Ásia e África.

Essas enfermidades são alvo de dois grandes encontros científicos: a 30ª Reunião Anual sobre Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e a 18ª Reunião Anual sobre Pesquisa Aplicada em Leishmanioses, que estão sendo realizadas nesta semana (17 a 19 de novembro), em Uberaba, no câmpus da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

“Trata-se de momento propício para congregar os conhecimentos adquiridos ao longo desses anos e aproveitar as tecnologias disponíveis que ainda não são utilizadas no combate a essas endemias e que poderiam ser aplicadas para resolver os problemas práticos associados ao controle, diagnóstico, vacinas, tratamentos e atenção básica ao paciente”, explica a coordenadora do evento, a professora e imunologista Walderez Ornelas Dutra, do Departamento de Morfologia do ICB. “Essa é uma área em que o Brasil se destaca internacionalmente. Acreditamos que poderemos contribuir de maneira significativa para a solução desses problemas”, afirma a coordenadora.

As discussões serão norteadas pelo tema Tecnologias a serviço da saúde. Um exemplo prático será apresentado pela pesquisadora do ICB Lisa Figueiredo Felicori Vilela, que desenvolveu tecnologia – premiada em 2013 pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos – baseada na busca de biomarcador para doença cardíaca. “Como a doença de Chagas é uma patologia que também vem associada a alterações cardiovasculares, talvez seja possível adaptar essa estratégia para prever se um paciente infectado pelo Trypanosoma cruzi desenvolverá a forma grave da doença”, sugere a professora Walderez Dutra.

A citometria de fluxo é outra tecnologia que será apresentada durante o evento, em um minicurso. É considerada pela professora do ICB “extremamente sensível, com potencial para aplicações inovadoras e que pode ser utilizada para diagnóstico”.

As drogas e seus efeitos colaterais também serão abordados, com participação de representantes da organização Medicamentos para Doenças Negligenciadas (Drugs for Neglected Diseases Initiative – DNDi, sigla em inglês). Essa entidade suíça, sem fins lucrativos, acaba de receber recursos da Gates Foundation para levar adiante o desenvolvimento de drogas para a doença de Chagas e leishmanioses.

“Vamos avaliar os processos de tratamento para essas doenças. Isso porque temos medicamentos com efeitos colaterais muito graves, com formulações inadequadas para determinadas populações, como crianças ou mulheres grávidas, que não podem utilizar a medicação. É muito importante encontrar tratamentos alternativos que possam ser estendidos para toda a população”, observa.

Tratar ou sacrificar?

Representantes do Ministério da Saúde, veterinários e pesquisadores discutirão uma questão delicada durante a reunião: como lidar com a leishmaniose visceral e a interface da população humana com a de animais? A professora Walderez Dutra lembra que algumas pessoas nem sempre estão dispostas a autorizar a eutanásia de cães infectados, o que leva a impasses: “Deve-se tratar ou sacrificar os cães infectados positivos? Até que ponto as vacinas são efetivas? O cão que a princípio parece curado ainda seria um reservatório do parasito? Se esse for o caso, qual seria a melhor solução?”

Nessa área, a UFMG também tem participação efetiva, com a vacina desenvolvida por grupo coordenado pelo professor do ICB Ricardo Gazzinelli. Outras linhas de pesquisa também se destacam, como os trabalhos coordenados pelo professor Rodolfo Giunchetti, do ICB, em colaboração com pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnlogia de Doenças Tropicais (INCT-DT), sediado na Universidade Federal da Bahia. Um dos objetivos do grupo é criar plataforma de diagnósticos e de terapias alternativas para leishmanioses (humana e canina), já na segunda fase de testes.