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Nº 1885 - Ano 41
17.11.2014

Ócio em perspectiva

Livro organizado por professores da UFMG oferece balanço dos estudos do lazer na América Latina

Itamar Rigueira Jr.

Não faz muito tempo, o lazer – como o futebol e outras atividades de entretenimento – ocupava espaço marginal entre os objetos de estudos acadêmicos no Brasil. Hoje, diversos cursos de pós-graduação contribuem para a produção de conhecimento sobre o tema e a Plataforma Lattes registra cerca de 250 grupos de pesquisa que se dedicam ao lazer, vinculados majoritariamente às áreas de educação física, turismo e educação.

Um dos eventos promovidos recentemente – o 13º Seminário ‘O lazer em debate’, realizado há pouco mais de dois anos na UFMG – gerou o livro Produção de conhecimento em estudos do lazer: paradoxos, limites e possibilidades (Editora UFMG). “Os textos reunidos nessa obra introduzem o tema para estudantes, pesquisadores e profissionais de diferentes áreas. Ao mesmo tempo, temos a pretensão de oferecer um balanço e perspectivas de avanço nos estudos do lazer”, afirma o professor Marcus Aurélio Taborda de Oliveira, da Faculdade de Educação, que organizou o livro em parceria com Hélder Ferreira Isayama, professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.

Eles integram o Programa de Pós-graduação Interdisciplinar de Estudos do Lazer, que congrega docentes e pesquisadores de diversas instituições e áreas do conhecimento. “O lazer é essencialmente pluridisciplinar, tem múltiplas entradas e enfoques. É preciso combinar contribuições da história, das ciências sociais, do turismo e da educação física”, afirma o pesquisador.

Marcus Aurélio Oliveira lembra que a sociedade é afetada, direta ou indiretamente, pelo lazer, em torno do qual orbita uma grande indústria, que envolve de uma simples caminhada a grandes pacotes de viagem, passando por sistemas de TV a cabo. “O lazer é investigado como fenômeno social e prática cultural de todos os estratos socioeconômicos. Além disso, tem presença cada vez mais forte nas políticas públicas, porque está entre as preocupações com a criação de oportunidades de desenvolvimento para a população”, afirma o professor.

Poder, comunicação e natureza

Juan Manuel Carreño Cardozo, da Universidade Pedagógica Nacional de Bogotá, que assina o primeiro capítulo da obra, mostra que o lazer não está isento das práticas de dominação e de inclusão/exclusão e esclarece as relações entre formas de poder e utilização do tempo livre. Rafael Fortes, da Uni-Rio, estabelece conexão entre os âmbitos do lazer e da comunicação ao analisar como as mídias, sobretudo na contemporaneidade, cobrem as atividades que podem ser classificadas como lazer.

Em seu texto, Marcus ­Oliveira disseca o conceito de natureza, desde as conquistas dos exploradores ibéricos até a metade do século 20. Ele trata o conceito como “invenção linguística”. “O senso comum em torno de natureza ajudou a afirmar práticas como a ginástica e o esporte. Mas é uma invenção que serve como referência para reformas urbanas, jardins botânicos e passeios públicos, todos objetos de construção social e dominação do homem sobre o mundo físico”, explica.

Hélder Isayama e Victor Melo, da UFRJ, relatam a experiência da Revista Licere, produzida pela UFMG desde 1998 – a primeira e talvez ainda a única publicação no Brasil exclusivamente sobre o lazer. Christianne Luce Gomes, professora da pós-graduação em Estudos do Lazer, em coautoria com o chileno Rodrigo Elizalde, analisa e identifica as principais características da produção teórica do lazer e da recreação no contexto latino-americano. “O texto também discute o conceito de lazer contra-hegemônico e transformacional, perspectiva em construção que pretende contribuir com a superação de limites que marcam a produção de conhecimentos e a vivência do lazer nas sociedades latino-americanas”, comenta a pesquisadora.

Outros autores põem em debate aspectos como relações socioambientais, políticas públicas e a intervenção pioneira do Serviço Social do Comércio (Sesc) na formulação de políticas e na divulgação dos estudos do lazer.

Livro: Produção de conhecimento em estudos do lazer: paradoxos, limites e possibilidades
Organizado por Marcus Aurélio Taborda de Oliveira e Hélder Ferreira Isayama
Editora UFMG
207 páginas/ R$ 48 (preço de capa)