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cenários

Terra em Transe

O aquecimento global representa a promessa do não-lugar para a vida no planeta: a distopia finalmente chegou?

Ana Maria Vieira

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O sol, personagem essencial das paisagens, nem sempre surge nítido no Mato Grosso. Cumprindo calendário inesperado, ele e tudo o que desponta no horizonte se escondem sob espessa névoa amarelada que aparece nos meses de agosto e setembro. Não se trata de fenômeno natural, mas de conseqüência das queimadas realizadas no extenso eixo que vai do vizinho Mato do Grosso do Sul até o Pará. Por esse motivo, o céu, em diversos pontos nessa região do país, é invadido por volume tão expressivo de fumaça que não é possível vê-lo durante dois longos meses, todos os anos.

O problema é constantemente monitorado por satélite. Mas talvez seja sob a perspectiva da vida diária que as queimadas assumam dimensão ainda desconhecida para a opinião pública, sintetizando, simbolicamente, o caráter devastador e paradoxalmente transformador de paisagens nativas. Signo de um modelo de expansão econômica em países em desenvolvimento, essa antiga prática de abertura de fronteiras e de cultivo da terra tem sido alvo, no entanto, de novos enfoques em fóruns internacionais devido ao peso de sua contribuição na mudança do clima do planeta. O volume de dióxido de carbono proveniente das queimadas representa 20% das emissões mundiais desse gás, maior responsável pelo acirramento do efeito estufa. Segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a sua concentração na atmosfera em 2007 foi a mais elevada nos últimos 650 mil anos. O Brasil, que lança pelo menos 1 bilhão de toneladas de gás carbônico na atmosfera, encontra-se em quinto lugar no ranking mundial dos países produtores de gases do efeito estufa (GEE). Desse total, 75% são provenientes de mudanças no uso do solo e de queima de florestas.



 


Revista Diversa nº 14
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