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O novo curso das águas

Escassez e uso intensivo em várias atividades econômicas fazem da água um recurso cada vez mais valorizado

ITAMAR RIGUEIRA JR.

A ciência ainda investiga e discute a origem da água na Terra – ela teria se formado aqui mesmo ou foi trazida do espaço sideral por corpos celestes? A resposta é provavelmente uma questão de tempo, mas este não é o aspecto mais urgente quando o assunto é água. O solvente universal, dono da mais popular fórmula química (H2O), alcançou nos nossos tempos o status de commodity, recurso que exerce influência e poder nas relações entre homens e países.

O livro Ângulos da água – desafios da integração, lançado este ano pela Editora UFMG, lembra ainda que ela pode ser vista como recurso natural, “passível de agregação de valor econômico, político, social e ecológico”, e ambiente que abriga a biodiversidade e presta variados “serviços ambientais”.

Sob qualquer ponto de vista, a água tem sido maltratada e desperdiçada, e é escassa – mesmo no Brasil, dono da maior reserva de água doce conhecida. “O mundo tem sido perdulário, as pessoas confundem um recurso renovável com inesgotável”, comenta o professor Francisco Barbosa, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e organizador de Ângulos da água. Ele informa que 40% da população mundial, em cerca de 80 países, vive em regime de escassez de água (o que significa que esses países começam a usar os 10% restantes de suas reservas). No Brasil, no mínimo metade do abastecimento vem dos rios e 80% do esgoto devolvido a eles não recebe tratamento. A conta definitivamente não fecha.

Olhar para a água de uma perspectiva ampla e integrada é um caminho vislumbrado para a solução. E esta tem sido a tônica do trabalho desenvolvido por Francisco Barbosa, coordenador do Laboratório de Limnologia do ICB. O objetivo do laboratório é conhecer a qualidade da água, a partir dos aspectos químicos, físicos e biológicos.

“A água em si é uma ótima medida, mas queremos mais que isso. Queremos aliar esses dados aos aspectos socioeconômicos”, diz Francisco Barbosa. “Nosso laboratório tem incorporado grupos de outras áreas – como acontece neste momento com a Faculdade de Ciências Econômicas (Face) – para entender de uma maneira mais completa a qualidade da água.” Barbosa conta que acordou para essa necessidade com a realização, a partir dos anos 1990, de projeto destinado a estudar, de forma integrada, biodiversidade, população e economia em comunidades vizinhas ao Rio Doce.



 


Revista Diversa nº 14
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