Você já ouviu falar em Acessibilidade na Web? Tem observado um aumento de sites e conteúdos acessíveis, bem como um crescimento de práticas e visitas acessíveis em museus? Em decorrência do isolamento social obrigatório, as atividades culturais e educativas se viram obrigadas a migrar para o campo virtual. Com isso, um maior número de sites, lives, canais de YouTube, blogs e outros suportes têm sido utilizado para a divulgação e realização das práticas educativas.
Fonte da imagem: Reprodução/Freepik
#Pratodosverem Imagem com ícones que remetem às deficiências motora, visual e auditiva.
A acessibilidade, como abordamos no texto Parcerias Para a Acessibilidade e Inclusão, é condição fundamental para reduzir ou solucionar dificuldades encontradas pelos indivíduos que os impedem de usufruir um serviço ou participar de um processo. Esse conceito pode se apresentar de diversas formas em nosso cotidiano: desde a adequação de espaços urbanos a fim de extinguir barreiras físicas, com a criação de rampas e elevadores, até o uso de textos em braille. Entretanto, como podemos pensar a acessibilidade no caso dos ambientes virtuais?
O nosso dia a dia no mundo virtual está repleto de recursos de acessibilidade. Por exemplo, temos as legendas, que nos permitem assistir a um filme num local barulhento e em outro idioma, além de promover a inclusão de pessoas surdas ou com deficiência auditiva. Além disso, os sistemas de reconhecimento de fala nos celulares, ou mesmo sistemas interativos de voz usados para reservar quartos de hotéis ou passagens de avião, têm sido utilizados por pessoas com alguma deficiência há mais de 30 anos.
Virtualizando o acesso e criando oportunidades
A acessibilidade virtual é apenas uma das diversas formas de acessibilidade e sua implementação, muitas vezes, limita-se à programação dentro da própria mídia digital. Leitores de tela, legendas, textos alternativos para imagens e websites navegáveis pelo teclado são alguns exemplos da implementação da acessibilidade em ambientes virtuais.
Fonte da imagem: Reprodução/W3C Brasil
#Pratodosverem A imagem apresenta o texto “Cartilha Acessibilidade na WEB – Web Brasil” com quatro ilustrações representando deficiência auditiva, motora, visual e duas pessoas sem deficiência.
A Web é um recurso cada vez mais importante em vários aspectos da vida e das relações humanas, como educação, trabalho, política, consumo, saúde, lazer e cultura. Por isso, é essencial que ela seja acessível para todas as pessoas. O acesso à informação e às tecnologias da comunicação, incluindo a Web, foi definido como direito humano na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência – Lei n.º 13.146/2015. O artigo 63 dessa Lei dispõe sobre a obrigatoriedade da acessibilidade em ambientes virtuais:
É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente. (BRASIL, 2015)
Mas o que de fato define um espaço virtual como acessível? Segundo a W3C (World Wide Web Consortium), principal consórcio internacional desenvolvedor de padrões para Web, quatro princípios devem ser considerados para que um conteúdo virtual seja acessível:
Perceptível: O conteúdo deve ser perceptível, ou seja, deve estar disponível em mais de um sentido (visão, audição e/ou tato). Por exemplo, leitores de tela devem ler corretamente o conteúdo para pessoas com baixa visão ou cegueira, e legendas e transcrições de vídeos devem estar disponíveis para pessoas com deficiência auditiva ou surda.
Operável: O conteúdo deve ser operável em qualquer dispositivo, de modo que todos consigam ter acesso e interagir com o conteúdo. Por exemplo, nem todas as pessoas utilizam o mouse para interagir com conteúdos virtuais. Pessoas com mobilidade reduzida utilizam o teclado ou programas de reconhecimento de fala para realizar essas ações.
Compreensível: Além de o conteúdo poder ser acessados por todos, é necessário que ele também seja compreensível para todos. Por exemplo, o uso de uma escrita clara e simples e de interfaces consistentes e previsíveis é importante para garantir que todos consigam compreender o conteúdo ou utilizar um serviço.
Robusto: É necessário que o conteúdo virtual seja construído de forma compatível com os dispositivos. Por exemplo, se uma pessoa utiliza um leitor de tela, o conteúdo deve ser compatível com aquele leitor.
Caso um ou mais dos princípios acima não forem cumpridos, isso significa que o conteúdo virtual não é acessível. Dessa forma, haverá pessoas incapazes de ter interações bem-sucedidas com o conteúdo e de completarem a tarefa que tentavam realizar.
Diante dessa perspectiva, a acessibilidade no meio virtual se concretiza não apenas com a elaboração de reflexões sobre a temática acessível, mas com ações que visem eliminar barreiras ainda existentes. Essas ações devem se aproveitar do terreno fértil da web, considerando suas ferramentas, capacidade de alcance e caráter democrático, bem como seu potencial educativo, como no caso de um site, canal e rede social de um museu. Essas ações devem permitir não só a aproximação e o contato, mas também o pertencimento do maior público possível. Desse modo, a acessibilidade virtual contribui também para modificar e ampliar as possibilidades de uso dos espaços e das práticas virtuais, bem como incentivar a formação de público, principalmente das pessoas com deficiência.
A partir dessas discussões sobre o conceito de acessibilidade virtual, algumas práticas vêm sendo desenvolvidas no Espaço do Conhecimento UFMG, buscando democratizar o acesso a temas, conteúdos e exposições. Entre essas ações, temos a inserção de legendas e janelas de Libras nas produções audiovisuais do Espaço e as realizações do projeto Sábado com Libras Virtual, como vídeos divulgados no YouTube e oficinas virtuais mensais, que buscam discutir temas variados, como astronomia, arte, ciências, jogos e cultura surda. As atividades do projeto também têm como objetivo promover a troca e o intercâmbio linguístico, com pessoas fluentes e não fluentes na língua, por meio da divulgação da Libras. Além disso, o projeto desenvolveu uma série de vídeos curtos que buscou ensinar sinais da Libras ao público das redes sociais do Espaço, material que pode ser conferido nos destaques do nosso Instagram. Desenvolvemos também sessões online de astronomia acessíveis em Libras, intituladas “Descobrindo o céu”, e que acontecem todas as quintas-feiras no canal do Espaço no YouTube.
Fonte da imagem: Acervo do Espaço do Conhecimento UFMG ( 2020) #Pratodosverem: Imagem print da sessão “Descobrindo o céu”. Ao fundo aparece O título “ Descobrindo o céu” e marcas dos patrocinadores. Abaixo ao fundo aparece um desenho com pontos turísticos de Belo Horizonte. Sobreposto ao fundo aparece uma mulher centralizada, branca com cabelos presos e blusa vermelha. Ao lado, na parte de baixo à esquerda aparece a janela de Libras com a intérprete.
Outra ação acessível recente, realizada pela equipe do Espaço, foi relacionada à Mostra Universidade Cidade: gestos, afetos e manifestos de urbanidade, que aconteceu em Belo Horizonte em dezembro de 2020 e fevereiro de 2021. A Mostra foi realizada pelo Espaço do Conhecimento UFMG em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte e aconteceu em diversos espaços da cidade e também nos meios virtuais. Dentre as ações que compuseram a mostra, o Projeto Mirantes teve como objetivo promover o olhar sobre a cidade a partir das janelas das casas, durante a pandemia. Dentro do projeto, foram produzidos postais baseados em fotografias e relatos de alunos e professores de ensino básico das redes públicas de Belo Horizonte. Nesse projeto, foi inserida a audiodescrição das imagens dos postais, visando não apenas tornar acessível o conteúdo da mostra, mas também dialogar de forma poética com o público cego e pessoas com deficiência visual e baixa visão. O resultado pode ser conferido na página do Projeto Mirantes no site da Mostra Universidade e Cidade. Foram realizadas ações acessíveis também em outros projetos da Mostra, como: inserção de legenda nos vídeos do projeto “Ars Nova”, transcrições de imagens do projeto “Flores do Morro” e janelas de Libras nos vídeos do projeto “Janelas Afora, Portas Adentro”.
Para que a acessibilidade aconteça de uma maneira fluida e crescente no Espaço, foi fundamental criar um grupo específico para a realização de pesquisas, proposição de ações e elaboração de encontros e materiais formativos para a equipe do museu. Atualmente, esse grupo inclui dois bolsistas do Programa de Apoio à Inclusão e Promoção à Acessibilidade (PIPA) da UFMG, uma intérprete de Libras, um assessor e uma assistente do Núcleo de Ações Educativas. Outros fatores que contribuem para potencializar as ações de acessibilidade do museu são a presença de pessoas com deficiência na equipe, a interdisciplinaridade do grupo e o diálogo constante entre os diversos núcleos do Espaço.
Temos observado que a experiência virtual tem contribuído para o acesso de públicos que antes não frequentavam o Espaço, mas que agora encontram nessas ferramentas virtuais uma forma de acessar, conhecer e participar das práticas educativas nele desenvolvidas. Com os olhos virados para a web, o conceito de acessibilidade passou a ser aplicado também, de maneira interessante e provocativa, ao universo virtual.
Gostou de conhecer um pouco sobre Acessibilidade na Web? Queremos saber sua opinião sobre o assunto! Escreva para nós pelo e-mail espacoabertoaeducadores@gmail.com.
[Texto de autoria de Bárbara Vítor Silva¹, Dinalva Andrade Martins², Matheus Pessoa Fonseca³ e Priscila G. Martins Silva⁴]
[1] Bárbara Vitor Silva (Bolsista do Programa de Apoio à Inclusão e Promoção à Acessibilidade – PIPA)
[2] Dinalva Andrade Martins (Intérprete de Libras do Espaço do Conhecimento UFMG)
[3] Matheus Pessoa Fonseca (Bolsista do Programa de Apoio à Inclusão e Promoção à Acessibilidade – PIPA)
[4] Priscila G. Martins Silva (Assistente do Núcleo de Ações Educativas, Acessibilidade e Estudos de Público)
Para saber mais:
Para saber mais sobre as diretrizes da acessibilidade virtual, acesse Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web 2.0 (WCAG). Essas diretrizes “abrangem um vasto conjunto de recomendações que têm como objetivo tornar o conteúdo Web mais acessível”
Referências:
AIDAR, Gabriela. Ampliando o acesso. In: INSTITUTO TOMIE OHTAKE. Mediações acessíveis: ciclo de encontros sobre acessibilidade em espaços de educação e cultura. São Paulo: Instituto Tomie Ohtake, 2018.
BRASIL, 2015, Lei n. 13.146, de 6 de jul. de 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso em: 03 Maio 2021.
SARRAF, Viviane Panelli. Acessibilidade em Espaços Culturais: mediação e comunicação sensorial. São Paulo: EDUC: FAPESP, 205.
Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web 2.0 (WCAG). W3, 2008. Disponível em: <https://www.w3.org/Translations/WCAG20-pt-PT/>. Acesso em: 03 Maio 2021.
ACESSIBILIDADE PARA UMA MOSTRA SOBRE E PELA CIDADE: UM NOVO DESAFIO: Projeto PIPA/NAI: Mediação em espaços culturais e acessibilidade para visitantes com necessidades educacionais especiais: uma proposta para o Espaço do Conhecimento UFMG.