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AD ASTRA: A HISTÓRIA DA NASA

Conheça o surgimento de uma das maiores referências atuais em exploração espacial

 

30 de janeiro de 2024

 

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Seja nos registros históricos, nos foguetes, videogames, roupas ou até mesmo em filmes, você com certeza já deve ter visto a logo da NASA: aquela esfera azul, com várias estrelas, uma asa vermelha se estendendo para a direita e as letras da agência no centro. Poucas instituições governamentais no mundo possuem o reconhecimento e a popularidade que a National Aeronautics and Space Administration desfruta, mas antes de se tornar uma referência em exploração espacial e ícone da cultura pop, como é atualmente, a agência percorreu um longo caminho, passando por crises políticas, guerras e desastres. É exatamente esse passado que exploraremos aqui. 

 

Nossa história começa em 1915, quando o mundo ainda se encontrava nos anos iniciais da Primeira Guerra Mundial. Neste momento, o conflito era disputado majoritariamente por nações da Europa, Ásia e do Oriente Médio, mas em prol de defender seus aliados e suas ambições políticas, os Estados Unidos se preparavam para entrar no conflito. Com essa ambição em mente, o governo federal norte americano estabeleceu no mesmo ano a N.A.C.A., um comitê nacional de aviação, com o objetivo de realizar desenvolvimentos tecnológicos que permitissem ao país o uso de aeronaves na guerra.

 

Selo da National Advisory Committee for Aeronautics, 1915. (Créditos: NASA).

 

Contudo, entre sua formação e o estabelecimento de uma infraestrutura que permitiria à N.A.C.A. operar de acordo com sua missão, se passaram mais de cinco anos, e, como em 1920 a Grande Guerra já havia terminado, o comitê passou a operar sobre uma nova missão: “Promover a aviação civil e militar através da pesquisa, com um olhar para além das necessidades do período”, ou seja, voltada para o futuro.

 

Nos anos seguintes, a N.A.C.A. realizou diversos experimentos, como voos de extrema altitude e produção de aviões supersônicos, sendo que muitas dessas pesquisas serviram para auxiliar a força aérea aliada durante a Segunda Guerra Mundial. A própria guerra também levou a um rápido desenvolvimento da aviação no mundo, com projetos buscando produzir aeronaves cada vez mais rápidas e que pudessem voar mais alto, aproximando assim a humanidade do espaço.

 

Com a derrota das forças do Eixo em 1945, um novo conflito surge no mundo: a Guerra Fria, que durou até 1991 e foi marcada pela disputa ideológica e geopolítica entre o Oeste (Estados Unidos e seus aliados) e o Leste (União Soviética, países do leste europeu e da Ásia). A descrição desta guerra como “fria” vem do fato de que não houveram combates diretos entre os principais países, com a luta pela dominância no conflito sendo realizada de forma indireta, como no aumento de produção de armamentos nucleares, espionagem e disputas tecnológicas.

 

Este último item se tornou vital no surgimento da NASA como conhecemos hoje, pois, em uma tentativa de demonstração de superioridade, a União Soviética lançou em 1957 o primeiro satélite ao espaço: o Sputnik I. Um mês depois, os soviéticos também lançam ao espaço o primeiro ser vivo a entrar em órbita, uma cadela vira-lata das ruas de Moscou chamada Laika.

 

Laika, nome que significa “a pequena que late”, a bordo da infraestrutura do Sputnik II antes do lançamento em 1957. (Créditos: Roscosmos).

 

Essas conquistas do Leste geraram um tremendo impacto nos Estados Unidos, que percebeu-se vastamente inferior à União Soviética no quesito da exploração espacial. Com isso, o país viu uma grande necessidade de reestruturar este departamento, que até 1958 era usado para pesquisa somente pelos militares da força aérea, que se mostraram múltiplas vezes incapazes de manter-se a par dos soviéticos. E assim, o governo criou neste ano uma divisão civil voltada para o espaço, transformando a N.A.C.A., com toda sua infraestrutura, seus funcionários e seus anos de pesquisa, na agência que hoje conhecemos como NASA.

 

Selo oficial da NASA e primeiro símbolo da agência. (Créditos: NASA).

 

Esse período da história é conhecido como corrida espacial, na qual os EUA e a URSS disputavam para serem os primeiros a atingirem vários marcos da exploração espacial. Contudo, a vantagem soviética era clara desde o começo, sendo que estes foram os primeiros a mandarem um ser humano ao espaço e os primeiros a enviarem um satélite até a Lua.

 

Seria necessário um grande feito para os americanos ultrapassarem os soviéticos. Por isso, em 1961, o então presidente John F. Kennedy, durante um discurso ao congresso, estabelece aos Estados Unidos a missão de levar um homem à Lua e retorná-lo em segurança para casa, antes do fim daquela década.

 

Kennedy em 1961, durante seu discurso ao congresso. (Créditos: NASA).

 

A NASA foi encarregada para realizar essa missão e pelos oito anos seguintes trabalhou incessantemente para cumprir o projeto antes do ano de 1970. O anúncio de Kennedy provocou uma rápida mudança dentro da agência espacial. O programa Apollo, que havia sido criado um ano antes, teve de ser rapidamente adaptado para cumprir a nova meta e milhares de cientistas, engenheiros, físicos, etc. tiveram de ser redirecionados para a NASA, assim como uma verba astronômica de bilhões de dólares. Tão grande era a vontade de vencer os soviéticos, os americanos estavam dispostos a pagar o que custasse para atingir a Lua. E, mesmo que Kennedy não estivesse vivo para ver, em 20 de julho de 1969, um homem pousou na Lua pela primeira vez com a Apollo 11.

 

Simultaneamente, em torno de todo o globo, estima-se que 650 milhões de pessoas assistiram ao primeiro passo de um homem na Lua. E com o sucesso da Apollo 11, a NASA passou a ser vista como a campeã da corrida espacial, com seu símbolo imediatamente se tornando sinônimo da exploração do cosmos.

 

Os anos 1960 e 1970 foram marcados como parte da era de ouro da NASA, em que não só a verba da agência era bem maior, mas também foram realizados mais cinco retornos à Lua, o lançamento dos primeiros satélites para Marte, e também o das sondas Voyagers, que tinham como destino o final do Sistema Solar.

 

Ilustração artística das sondas Voyager, que passaram por todos os gigantes gasosos e continuaram para fora do sistema solar, ao espaço interestelar. (Créditos: JPL – NASA).

 

A década de 1980 trouxe consigo uma diminuição na competição da Guerra Fria, e com isso, uma redução nos fundos e nas atividades da NASA, uma vez que a disputa contra a União Soviética na exploração espacial não era mais prioridade do governo federal.

 

Desde então, o passar de cada ano trouxe cortes cada vez maiores nas verbas da NASA, gerando uma estagnação no desenvolvimento de novas missões, e uma dependência na reutilização de naves e foguetes, o que veio a resultar em diversos acidentes nos anos seguintes, alguns até mesmo catastróficos e letais. 

 

Mas, como uma frase muito usada pela NASA diz, Per Aspera Ad Astra, ou, “pelas dificuldades, às estrelas”. Mesmo com os problemas de financiamento e infraestrutura enfrentados pela agência há anos, as últimas décadas trouxeram grandes avanços. Como, por exemplo, o lançamento de dois telescópios espaciais, o Hubble e o James Webb, que nos revelaram detalhes dos primórdios do universo; o estabelecimento de uma Estação Espacial Internacional, que contribui vastamente para nosso entendimento sobre vivência no espaço; uma família de rovers em Marte, que nos ajudam a conhecer mais sobre o próximo planeta que planejamos visitar; diversas sondas que tocaram desde a superfície do Sol, com a Parker, até os anéis de Saturno, com a Cassini; isso tudo feito de forma colaborativa, em igualdade com outras agências espaciais e associações civis.

 

E o próximo grande passo? Retornar à Lua! E dessa vez permanecer lá. Pois apesar de já termos visitado nossa vizinha do Sistema Solar várias vezes, em 2022 completamos 50 anos desde a última visita da humanidade à Lua com a Apollo 17. O programa Artemis, que levará a primeira mulher à superfície lunar, pretende alcançar esse objetivo antes de 2030. Caso tudo aconteça como previsto, a Lua, com sua baixa aceleração da gravidade, será usada como base de lançamento para a ida dos primeiros humanos à Marte, lançando a humanidade em uma nova era da exploração espacial.

 

[Texto de autoria de Thiago Araújo, estagiário no Núcleo de Astronomia do Espaço do Conhecimento UFMG]

 

Referências

Space Race Timeline

The Artemis Plan

NASA’s Origins

NASA’s History

Kennedy Speech at Rice University

Kennedy Address to Joint Session of Congress