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Como as informações viajam pelo ar?

Nossas formas de interação, das cartas até a internet 

 

07 de novembro de 2023

 

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Se vocês, caros leitores, também nasceram por volta dos anos 2000, é muito provável que nunca tenham enviado uma carta na vida. E me refiro à uma carta de verdade: um papel onde escrevemos uma mensagem endereçada à alguém, colocada em um envelope e enviada pelos correios para viajar até o destinatário. 

 

Simplificando bastante o nosso passado, por muito tempo, cartas foram uma das formas mais recorrentes para trocar informações diretamente com alguém. Seja para saber como a pessoa tem passado, para enviar notícias da política local, ou até para tratar de assuntos, como “o que você tem lido ultimamente?”. Através de informações, as cartas conectavam as pessoas.

 

O texto de hoje é sobre cartas. Bom, não exatamente cartas… Na verdade, nós vamos falar sobre como a internet funciona e como as informações circulam entre as pessoas hoje em dia. E, para isso, as cartas serão nosso fio condutor!

 

Uma característica essencial da correspondência manuscrita é que ela demora bastante para chegar. Se eu quiser, por exemplo, enviar uma carta de Belo Horizonte para o Mato Grosso, ela vai demorar cerca de quinze dias para chegar pela entrega padrão dos correios. Então, imaginem: quinze dias para ir, outros quinze para a resposta voltar… sem contar quando o pneu do caminhão dos correios estoura no meio da estrada, a chuva atrapalha ou acontece algum problema logístico que pode atrasar ainda mais.

 

Máquina de escrever. (Créditos: Reprodução/Pixabay)

 

Nem é preciso dizer que essa demora pode se tornar um grande problema. Especialmente no contexto de velocidade dos tempos modernos, em que tudo precisa ser feito para ontem. Pensando em um exemplo extremo, imagine que uma cidade sitiada por um país inimigo decide enviar uma carta de rendição, mas, infelizmente, o mensageiro erra o caminho e a carta não é entregue. Provavelmente a cidade seria bombardeada devido a uma informação que não chegou ao seu destino.  

 

Apesar das questões logísticas, não havia muito a ser feito na época. Na verdade, houve um tempo em que as cartas foram o meio de comunicação mais rápido e prático entre longas distâncias… até a criação de outros meios de comunicação

 

Jornais, linhas telefônicas, telégrafo, fax, televisão e rádio foram alguns dos meios que mudaram a forma com que nos comunicamos mutuamente e também a forma com que as informações circulam. Pensem na revolução da primeira ligação telefônica da história ou como deve ter sido ouvir uma transmissão de rádio pela primeira vez.

 

Na época, poderia parecer estranho que aparelhos estivessem transmitindo vozes e depois imagens a partir de fios ou pelo ar, no caso do rádio, mas cada uma dessas transformações tecnológicas pavimentou o caminho para a criação da internet

 

Com a internet, não é preciso esperar quinze dias para ter notícias da família, já que é possível simplesmente pegar o celular, mandar uma mensagem que chegará na mesma hora, para assim ter uma ágil resposta, independente da distância. Não há trânsito, não há espera, não há chance alguma de que a mensagem se perca. 

 

Mas, como as mensagens circulam na internet?

 

Dentro da internet, qualquer recurso, seja um site, rede social, mensagem ou vídeo, faz um caminho muito parecido — e muito mais rápido — com o das cartas que chegavam até nós.

 

Quando uma carta sai da casa de alguém, a primeira parada é a agência dos correios. De lá, ela vai ser encaminhada para um centro de distribuição que irá enviá-la para a cidade de destino da forma mais conveniente possível, por meio de trem, ônibus, caminhão, barco ou avião. Quando a carta chega à essa cidade, a correspondência é encaminhada até outro centro de distribuição que, por sua vez, manda a carta para o ponto de correio mais próximo ao endereço do destinatário. Os entregadores designados para aquele bairro ou região vão pegar a carta, juntamente com outras entregas, e passar de casa em casa. Eventualmente, a carta chega ao seu destinatário.

 

Infográfico do percurso de uma encomenda nos Correios. (Reprodução/UOL Notícias)

 

Qualquer informação na internet também passa por várias etapas parecidas. Porém, antes de conhecer o caminho, precisamos compreender que tudo que está na internet pode ser visto como informação. Cada vídeo que você assiste, cada post, e-mail, mensagem, áudio, pix, foto, pdf, podcast, texto de um blog… tudo isso é informação. E toda informação que colocamos na internet é formada por dados, que são a parte mais básica e simples de tudo que existe on-line

 

Em termos de medidas, uma unidade de dados virtual é um bit, mas qualquer coisa que é feita na internet pode produzir centenas de milhares de bits. A escala de dados gerada diariamente ao redor do mundo gira em torno de 2,5 quintilhões de bytes e tudo isso é convertido em informação mais tarde. 

 

Para que essa escala absurda de dados não vire uma bagunça completa, é preciso que exista uma linguagem padronizada para o processamento desses bits. Assim, quase tudo que está na internet é codificado em uma forma única, chamada de código binário, que é basicamente um montão de números 0 e 1 que são lidos pelas máquinas e que se tornam os conteúdos que usamos por aqui.

 

Voltando à metáfora das cartas, podemos pensar que tudo que existe na internet é o conteúdo delas, a informação que é transmitida. Já o código binário é como o alfabeto que permite a comunicação entre computadores diferentes. Depois da informação ser convertida em dados, chega o momento de envelopar todos esses bytes em um pacote digital, que é bem parecido com o envelope dos correios.

 

Códigos em computador. (Créditos: Shahadat Rahman/Unsplash)

 

Cada pacote precisa ter algumas informações básicas, conhecidas como metadados, para não se perderem nos vários caminhos e computadores que a internet tem. São informações que vão ajudar a discriminar esse pacote dentre os bilhões de outros que existem na internet, como o nome dos arquivos, tamanho, formato, o código de identificação do computador de origem e também do local de destino. Tudo isso é basicamente o endereço daquela informação on-line

 

Já temos a mensagem, temos os endereços e tudo que identifica o nosso pacotinho. Agora só falta enviar.

 

O primeiro destino de todos os dados na internet é, quase sempre, um roteador. Roteadores são pequenos computadores que funcionam como as estações de tratamento de distribuição dos correios. Lá, os metadados serão lidos e os pacotes serão encaminhados até o seu destino apropriado na internet. Os dados, normalmente, chegam até o roteador na forma de ondas de rádio ou através de cabos em conexões com fio. 

 

Após achar os endereços, o roteador mandará nosso pequeno pacote ao mundo. À essa altura nosso pacote de números 0 e 1 já foi convertido para sinais de rádio, pulsos elétricos ou até mesmo para feixes luminosos, que vão circular pelo planeta através de cabos submarinos e fiações, indo e voltando entre servidores, computadores e máquinas do mundo inteiro até chegar no destinatário. 

 

Quando, enfim, chegar lá, o pacote em forma de energia, luz ou rádio vai ser convertido para linguagem binária. O computador vai ler o código e transformar aqueles números em informação, que pode ser literalmente qualquer coisa que você consuma na internet, como esse texto. Se o destinatário for outro computador, a informação vai chegar na hora, como uma mensagem no Whatsapp ou um e-mail. Entretanto, se o destino do que você quer enviar for uma plataforma, como o WordPress que publica este texto, o pacote de dados é enviado até um servidor que hospeda o conteúdo, podendo ser acessado por qualquer pessoa no planeta com acesso à internet.

 

Exemplo de processamento de dados simplificado. (Créditos: Reprodução/Mundo Educação)

 

A humanidade se tornou excelente em construir redes complexas e estáveis de transmissão e circulação de dados entre computadores pelo mundo. Tão bons que, atualmente, a maior parte dos dados em circulação no mundo atravessam qualquer distância terrestre em milésimos porque viajam em velocidade próxima à da luz. 

 

Eu sei bem que a nossa geração e as próximas que estão vindo já estão extremamente acostumadas com a internet e essa velocidade toda, mas pensar que, há pouco mais de um século, a forma mais rápida de conversar com alguém que morava longe era por meio de pedaços de papel torna a internet muito mais impressionante e cativante.

 

[Texto adaptado de Gabriel Barcelos, estudante de Jornalismo na UFMG]