Lançamento a mostra Docência Negra – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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Exposição Docência Negra é lançada com presença de autoridades no Espaço

 

Abertura da exposição Docência Negra (Créditos: Kayke Quadros)

 

A abertura da exposição Docência Negra, no último sábado, 16 de novembro, fez com que o vão livre do quinto andar do Espaço do Conhecimento UFMG fosse completamente tomado pelo público. Coordenadora do grupo de estudantes que concebeu a mostra, Letícia Reis dos Santos resumiu a cena: “Tem muita gente preta aqui, e isso me deixa muito feliz. Mas eu não sei se seria assim se não fosse essa exposição. É sobre isso”, apontou a graduanda em história pela UFMG na fala que marcou o lançamento do projeto. Ela e mais cinco estudantes — Camila Mendes Moreira, Gabriel Nunes da Silva, Roberth Daylon dos Santos Freitas, Thiago Cordeiro Almeida e Michelle Correa de Souza — foram os responsáveis por criar e dar forma à exposição, que exibe trajetórias de professores negros das mais diversas áreas do conhecimento da UFMG.

 

Curadores da exposição Docência Negra (Créditos: Kayke Quadros)

 

Trata-se de uma mostra multimídia, que apresenta fotos e trechos de entrevistas realizadas com os professores. Estudante de Arquitetura e Urbanismo, Michele de Souza foi a responsável pelo espaço expositivo e explica que o objetivo é promover uma experiência: “Não é só contemplativo, é sensitivo”, pontua a curadora. Roberth Freitas, aluno da História, esclarece que essa presença dos educadores, na forma de imagem e som, não representa apenas a docência institucionalizada, mas outras formas de aprendizado: “A presença deles e a vida deles ensina também”, completa.

 

Tarcísio Mauro Vago, Pró-reitor de Assuntos Estudantis, e Diomira Faria, Diretora Científico Cultural do Espaço (Créditos: Kayke Quadros)

 

O estalo inicial para a criação da exposição partiu de discussões sobre a ausência de professores negros com Vanicléia Santos, docente da História e orientadora de Letícia e Roberth. A temática, que já era pesquisada pelos estudantes, pôde ganhar forma no museu de ciência e cultura da Universidade a partir do Programa de Apoio às Ações Afirmativas da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, a PRAE, que financiou a ação. “Esse é um momento histórico. Desconfio que essa seja a primeira exposição do Espaço do Conhecimento proposta inteiramente por estudantes negros e negras da UFMG”, pontuou Tarcísio Mauro Vago, que está à frente da PRAE, sobre a importância do projeto.

O momento escolhido para o lançamento da mostra não foi por acaso. Para o curador Roberth Freitas, esse é um assunto que deve ser discutido ao longo de todo o ano. No entanto, ganha mais visibilidade no Novembro Negro: “Foi mais pela facilidade do que pela necessidade de falar sobre isso em novembro”, conclui.

 

Caminhadas em exibição

Nilma Lino Gomes (à dir.) e sua mãe, Dona Glória (à esq.). (Créditos: Kayke Quadros)

 

O momento mais marcante da abertura de Docência Negra foi a fala de Nilma Lino Gomes, primeira mulher negra a ser reitora de uma universidade federal e primeira professora negra emérita da UFMG. Recebida com um abraço coletivo dos curadores e acompanhada de sua mãe, Dona Glória, Gomes falou sobre sua trajetória nos espaços acadêmicos, ilustrada por uma frase da filósofa norte-americana Angela Davis: “Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Para a docente, que se tornou uma pesquisadora das relações raciais e atuou na construção do programa de Ações Afirmativas da Universidade, a ocasião foi o coroamento de uma longa trajetória na UFMG. Ela, que se lembra de um momento em que a não presença dos estudantes negros na Universidade não era falada, vê na exposição mais um passo na luta por mais diversidade: “Então, hoje, ver os estudantes e as estudantes negras serem protagonistas de um projeto como esse e ver como esses estudantes conseguiram mobilizar gerações de professores e professoras negras e tornar pública essa presença é muito emocionante”.

 

Rosy Isaias, professora do ICB-UFMG (Créditos: Kayke Quadros)

 

Quem também teve sua história compartilhada com a exposição foi Rosy Mary Isaias, professora do curso de Ciências Biológicas. A cientista, que costumava ser a única negra em uma sala de aula onde todos os seus alunos eram brancos, reforça a importância da pluralidade para evitar o estranhamento direcionado aos docentes negros. “’Ah, essa pessoa não deve ser o professor, deve ser um secretário ou secretária, um técnico-administrativo.’ Essa foi a minha vivência. Muitas vezes, eu fui confundida com discente ou com um funcionário técnico administrativo. Causava estranhamento eu ser a professora”, conta.

 

Mês da Consciência Negra

Sibelle Diniz, diretora adjunta do Espaço do Conhecimento UFMG (ao centro). (Créditos: Kayke Quadros)

 

O lançamento da mostra acontece em meio a uma programação especial sobre representatividade negra. Ao longo de todo o mês, professores que participaram da mostra conduzirão também atividades e oficinas no museu. Coordenadora do Núcleo de Ações Educativas do Espaço do Conhecimento UFMG, Sibelle Diniz acredita que a proposta de Docência Negra está completamente casada com as ações já realizadas no museu. “A nossa missão é a divulgação científico-cultural, então é muito importante receber projetos como esse e construir também, junto com esses projetos, reflexões sobre a própria Universidade e sobre os processos de produção de conhecimento”.

Diniz, que é Diretora Adjunta do museu, apontou ainda para o protagonismo dos estudantes na exposição, uma premissa da atividade extensionista que guia também as ações do museu. Para ela, a mensagem que fica é a de que “mais importante do que pensar o estudante executando, é pensar o estudante concebendo essas atividades”.

 

Mônica Ribeiro, Diretora Adjunta de Ação Cultural da UFMG, e Diomira Faria, Diretora Científico-Cultural do Espaço do Conhecimento UFMG (Créditos: Kayke Quadros)

 

A Diretora Científico-Cultural do Espaço do Conhecimento UFMG, Diomira Faria, ressaltou a importância da divulgação das reflexões acadêmicas para além do campus: “Se queremos um público amplo e diverso para a Universidade, temos que falar sobre isso nas nossas exposições.” Representando a Diretoria de Ação Cultural (DAC) da UFMG, a Diretora Adjunta Mônica Ribeiro reforçou o papel do museu como lugar de saberes diversos: “O Espaço do Conhecimento, até como parte da DAC, está aí pra isso — entender a cultura de uma maneira muito mais ampla do que arte e patrimônio”, afirma.

“Trajetórias possíveis”. Para a estudante e futura professora Letícia Reis, essa é a mensagem que fica diante de tantas histórias em exibição.

 

Letícia Reis, uma das curadoras da mostra (Créditos: Kayke Quadros)

 

A exposição Docência Negra pode ser visitada até 30 de novembro, no quinto andar do Espaço.