Povos Indígenas na Internet – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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Povos Indígenas na Internet

07 de junho de 2022

 

Não existe uma maneira certa de como devemos interagir com os conteúdos na internet, mas essa ferramenta pode ser uma ótima oportunidade para conhecermos um pouco mais sobre pessoas que fazem parte de povos e culturas diferentes dos nossos. A partir disso, faço uma pergunta: você segue pessoas indígenas nas suas redes sociais?

 

Por séculos, criamos uma ideia distorcida do que é ser indígena, como se essas comunidades vivessem todas de uma mesma forma, sem contato algum com as áreas urbanas e sem utilizar ferramentas como computadores e celulares. Em consequência, cometemos o erro de mencionar esses povos quase sempre no passado, sendo que eles vivem também no presente e são parte do nosso futuro. Segundo o Censo Demográfico 2010, do IBGE, existiam mais de 305 povos indígenas vivendo no Brasil naquele ano, falando mais de 274 línguas, totalizando uma população de 896.917 pessoas. Não tem como tanta gente, pertencente a tantos territórios, viver da mesma forma, não é? Pois fique sabendo que parte dos indígenas vivem nas cidades (324.834 pessoas, segundo Censo Demográfico 2010 do IBGE), estudam em universidades, trabalham com carteira assinada, e claro, estão também na internet, produzindo e compartilhando conteúdos muito diversos.

 

Por isso, hoje trazemos indicações de pessoas indígenas para seguir e ampliar um pouco a percepção sobre as diversas existências indígenas.

 

Célia Xakriabá

Célia Xakriabá se define como uma mulher da Lutalitura. Célia é uma das curadoras da exposição Mundos Indígenas, que está em cartaz no Espaço do Conhecimento UFMG e é representante das causas dos povos e das mulheres indígenas. Além disso, possui graduação em Formação Intercultural para Educadores Indígenas pela UFMG e é mestra pelo Programa de Pós-Graduação Profissional em Desenvolvimento Sustentável, na área de pesquisa em sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais na Universidade Federal de Brasília(UNB). Atualmente, é doutoranda em Antropologia na Universidade Federal de Minas Gerais. 

 

Em suas redes sociais, Célia compartilha principalmente conteúdos relacionados às lutas indígenas, como textos, denúncias, eventos, imagens e vídeos. Além disso, posta registros de seu cotidiano, sempre acompanhados de falas muito afetivas e também firmes ao compartilhar a força dos povos originários e da Mãe Terra. Nesse sentido, acompanhar seu trabalho é uma ótima maneira de começar a ser aliado das causas indígenas.

 

Em um de seus posts do Instagram, ela nos conta: “O indígena não é aquele que você conhece dos antigos livros de história, porque não foi ele que escreveu o livro então nem sempre a sua versão é contada. Ele não está apenas na aldeia tentando sobreviver, ele está na cidade, na universidade, no mercado de trabalho, na arte, na televisão, porque o Brasil todo é terra indígena.”

 

Créditos: Thiago Yawanawá e Maihara Marjorie

 

Twitter: @CXakriaba | Instagram: @celia.xakriaba | Site: https://www.celiaxakriaba.com/

 

Noah Álef

Noah Álef é indígena do povo Pataxó, nascido em Jequié, na Bahia.  Ganhou destaque nas redes sociais e hoje trabalha como modelo, tanto no Brasil quanto internacionalmente. Suas redes sociais são recheadas de imagens do cotidiano, registros do seu trabalho como modelo, conteúdos humorísticos, vídeos de “dancinhas”, e ele também utiliza seus canais como ferramenta para discutir pautas indígenas que considera importantes. Uma de suas intenções é dar visibilidade e alertar sobre as lutas dos povos indígenas por meio da moda e dos espaços por ele ocupados.

 

Acompanhar o Noah nos possibilita perceber, na prática, como as pessoas indígenas muitas vezes compartilham interesses cotidianos parecidos com os de pessoas não indígenas. Isso quebra uma ideia estereotipada do que essas pessoas precisam fazer ou onde devem estar para serem vistas como realmente são.

 

Créditos: Cris Vidal

 

Instagram: @noahalef | TikTok: @noahalef

 

Edgar Kanaykõ

Edgar Kanaykõ é assistente dos curadores Xakriabá na exposição Mundos Indígenas. Edgar é artista fotógrafo e suas imagens são compartilhadas em seu Instagram @edgarkanayko, além de algumas de suas imagens estarem também presentes na exposição. Além disso, Edgar possui graduação em Formação Intercultural para Educadores Indígenas pela UFMG e é mestre em Antropologia pela mesma Universidade, formação concluída com a apresentação da dissertação “Etnovisão: o olhar indígena que atravessa a lente”. Edgar foi contemplado com o Prêmio de Fotografia Ciência & Arte do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2020 com a fotografia “Iny: o brilho dos espíritos”, que está alinhada aos seus temas de pesquisa. Seu trabalho guarda e apresenta muitos elementos: pessoas, paisagens, festividades indígenas e também atos políticos. Além disso, em sua segunda conta de Instagram, @kanayko_art, compartilha desenhos que cria, tanto manualmente quanto digitais, dentro da ferramenta de Stories do Instagram. 

 

Autorretrato de Edgar Kanaykõ – Créditos: Edgar Kanaykõ

 

Instagram: @edgarkanayko e @kanayko_art | Twitter: @edgarkanayko | YouTube: youtube.com/EdgarCorrêaKanaykõ

 

Em 2020, lançou dentro da programação do 52º Festival de Inverno UFMG a exposição virtual “Siwettet: resistência”, onde reflete de forma imagética o contexto pandêmico, a força da terra e a importância dos povos indígenas. Em sua exposição, Edgar discorre que: “em um mundo pandêmico corroído por um sistema que se mostra cada vez mais fadado ao fracasso, vemos, mais uma vez, que os povos indígenas não podem ser vistos apenas no passado, pois são o presente e principalmente o futuro deste planeta.”

 

Edgar Kanaykõ está presente também no YouTube. Em seu canal, há diversos vídeos com conteúdos das vivências Xakriabá, registros de conferências, de atos políticos e encontros de povos indígenas de comunidades diferentes.

 

Fotografia de Edgar Kanaykõ, presente nas exposições “Mundos Indígenas” e “Siwẽttêt: resistência”

 

Ao observar o trabalho do Edgar, é possível notar a importância de conhecer um povo a partir da percepção de alguém que faz parte dele. Uma fotografia carrega, nos ângulos, nas cores e nas escolhas do que é registrado, muitas subjetividades e vivências próprias de quem faz aquele clique.

 

Ian Wapichana

Ian Wapichana é compositor, músico, beatmaker e produtor audiovisual. Pertencente ao povo Wapichana, seu trabalho em música mistura o rap com referências sonoras indígenas e suas letras têm um forte cunho de resistência. 

 

Sua música mais recente se chama “Reparação Histórica .v2” e um dos versos traz, entre outros, o seguinte recado: “quem vai justificar a morte de milhões de indígenas? / não recordo como é ser criança / abro portas com pontapé ou calmaria / somos a retomada, não te espanta.”

 

Ian, com seu trabalho, nos leva a refletir que os limites dos tipos de vozes, melodias e batidas que povos originários podem fazer não cabem no imaginário dos brancos.

 

Créditos:  Ian Wapichana

 

Instagram: @ianwapichana | Youtube: https://www.youtube.com/c/IanWapichana | Spotify: https://open.spotify.com/artist/5h6H12oLgqwBKzrPIccLb2

 

Deborah Martins

Deborah Martins se define como uma mulher Pataxó que está ocupando e resistindo através da culinária. Em abril de 2020, ela começou o projeto Alecrim Baiano como meio de lidar com a pandemia e para dialogar sobre as mudanças que esse contexto trouxe na relação de todos com a alimentação. 

 

Esse projeto consiste em uma conta de Instagram onde Deborah compartilha de forma simples e acessível diversas informações, dicas e curiosidades sobre alimentação, além de receitas tradicionais indígenas e outras já conhecidas pela maioria das pessoas.

 

Deborah Martins mostrando sua publicação Cozinha Anticolonial Pataxó na Revista Odú – Créditos: Deborah Martins

 

Instagram: @alecrimbaiano

 

Em uma publicação de 2021 da Revista Odú, Deborah compartilha conosco o seguinte pensamento: “A culinária na minha família parece algo genético, porque todos nós cozinhamos muito bem e nossas escolas foram e são os nossos ancestrais”. (MARTINS, 2021, p. 64)

 

Acompanhar seu trabalho nos ensina muito da diversidade de possibilidades que as dietas alimentares de povos indígenas podem ter. Não existe só mandioca e carne animal nas culinárias indígenas não, viu?

 

No texto acima, conhecemos cinco pessoas indígenas que compartilham nas redes sociais muito sobre si, sobre seus povos e seus interesses. Vale destacar que a partir dessas cinco já é possível verificar a diversidade existente entre os povos indígenas no Brasil, e perceber que não cabe aos brancos definir o que os povos originários devem ou não fazer. É preciso aproximar a existência dessas pessoas ao nosso imaginário e ao nosso cotidiano, de forma ativa e respeitosa. Estar próximos a eles por meio das redes sociais pode ser uma forma fácil e proveitosa de começar a conhecer as causas, as culturas e as artes indígenas. Além disso, é possível aprofundar um pouco mais nesse tema na exposição Mundos Indígenas, em cartaz no Espaço do Conhecimento UFMG. Na mostra, são apresentados ao público os modos de viver, de saber e de cuidar dos povos Maxakali, Pataxoop, Xakriabá, Yanomami e Ye’kwana a partir de conceitos escolhidos pelos curadores e curadoras indígenas.

 

[Texto de autoria de Abraão Veloso, aluno das Artes Visuais e estagiário do núcleo de ações educativas, acessibilidade e estudos de público]

 

Referências Bibliográficas

ESPÍNDOLA, Matheus. Antropólogo indígena com mestrado pela UFMG vence prêmio nacional de fotografia. Disponível em: <https://www.cedefes.org.br/antropologo-indigena-com-mestrado-pela-ufmg-vence-premio-nacional-de-fotografia/>. Acesso em 29 de maio de 2022.

GQ BRASIL. Jovem indígena e modelo trans são destaques da SPFW N51. Disponível em: <https://gq.globo.com/Estilo/Moda-masculina/noticia/2021/06/jovem-indigena-e-modelo-trans-sao-destaques-da-spfw-n51.html>. Acesso em 15 de maio de 2022.

IBGE. Conheça o Brasil – População – Indígenas. IBGE, s/d. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/20506-indigenas.html>. Acesso em: 24 de maio de 2022.

KANAYKÕ, Edgar. Siwẽttêt: resistência. Disponível em: <https://medium.com/culturaufmg/siw%E1%BA%BDtt%C3%AAt-resist%C3%AAncia-963b37dc999a>.  Acesso em 10 de maio de 2022.

MARTINS, Deborah Santos. Cozinha Anticolonial Pataxó. In: Revista ODÙ. ODÙ Contracolonialidade e Oralitura. Disponível em: <https://issuu.com/revistaodu/docs/revista_od_-_online_-_vers_o_issuu>. Acesso em: 15 de maio de 2022.

XAKRIABÁ, Célia. Sangue indígena nem uma gota mais. Disponível em: <https://www.celiaxakriaba.com/>. Acesso em 10 de maio de 2022.