17ª Jornada de Extensão
Encontro consagrou Extensão como espaço de escuta e questionamento e estimulou sua incorporação automática às ações acadêmicas
A participação em ações de extensão universitária promove o contato com novos valores e crenças, estimula o amadurecimento pessoal e o questionamento das experiências acadêmicas e sociais. Esse parece ser um consenso entre os mais de 360 estudantes de graduação dos campi Pampulha e Montes Claros que participaram da 17ª Jornada de Extensão, na tarde desta quarta-feira, 23, no auditório do CAD1. O evento também reuniu representantes de comunidades parceiras, que apresentaram impressões e relataram experiências sobre a extensão na UFMG.
Luís Augusto Lopes de Oliveira, aluno da Faculdade de Medicina, bolsista do projeto de extensão Janela da Escuta, usou o nome do projeto para transmitir sua experiência. “Assim como uma janela transpassa a parede de uma casa iluminando o seu interior, o Janela da Escuta joga luz sobre o indivíduo, que passa a ser visto de outra forma. Nós valorizamos a subjetividade e individualizamos os cuidados, aliando assistência e capacitação ao tripé formado por extensão, ensino e pesquisa”, disse Luís Augusto.
Acolhido pelo projeto, Jessé Barbosa, graduando da UEMG, também deu seu depoimento: “Imagino que a maioria, como eu, deve estar vendo o ambiente hospitalar de uma forma diferente agora. E pensar que eu precisava estar doente para ir ao ambulatório. Hoje vou mais para pintar, desenhar, interagir com o grupo e até tomar um café.”
Sobre o projeto Morar Indígena, a bolsista Gabriela Tavares afirmou que “a participação é ampliada principalmente pela valorização da aproximação com o outro. Dialogamos muito com os indígenas, tanto nas reuniões quanto nas visitas à Praça Sete, à Feira Hippie. Conhecemos bem os desafios que eles enfrentam na cidade, e isso valoriza muito a relação”, disse Gabriela.
Uma das representantes dos indígenas, a socióloga Avelin Buniaka Kambiwá, da etnia Kambiwá, destacou que a vivência no projeto é uma oportunidade para os indígenas de Belo Horizonte saírem do isolamento e da situação de criminalização. “A cidade é inóspita para o indígena, e a abordagem do Morar teve a forma de escuta, não adianta chegar com um projeto pronto. Foi muito importante para nós, indígenas, fazer parte e construir junto com o Morar Indígena esse nosso espaço em Belo Horizonte”, afirmou Avelin, que é fundadora do Comitê Mineiro de Apoio à Causa Indígena.
A outra ação de extensão que integrou a Jornada foi o Observatório da Juventude. A bolsista Luísa Nonato, que integra o programa desde o início da graduação, enfatizou que a iniciativa trata os jovens como detentores de saberes. “O tempo inteiro sou agente, participo da construção, da prática, aprendo junto porque a realidade deles [os jovens atendidos] também é a minha. Também sou jovem, mulher, negra, moradora de periferia, e estar nesse lugar me fortaleceu para escrever um projeto social para o lugar onde eu vivo”, revelou a estudante.
Extensão incorporada
Em sua fala para os participantes, a reitora Sandra Goulart Almeida citou o intelectual português Boaventura de Sousa Santos. Para ele, lembrou Sandra, a extensão vai fazer sentido quando estiver automaticamente incorporada às ações da instituição. “É com esse espírito que temos trabalhado nos últimos anos, pensando a extensão não como um apêndice das ações da Universidade, mas como uma ação integradora e integrada com o ensino, a pesquisa e todas as outras ações”, disse. “Para nós, a extensão é uma atividade de formação, assim como as da graduação, da pós-graduação e da pesquisa.”
A pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga, afirmou que a extensão é a dimensão mais recente, mas vem se consolidando e contribuindo “imensamente” com a produção de conhecimento. “Queremos que isso alcance toda a Universidade. Nós sabemos, e vocês vivem isso na pele, que há ainda um certo desconhecimento sobre a extensão universitária. Mas cabe a todos nós multiplicar essas concepções, ampliar o espaço de debate e fortalecer o pensamento crítico”, disse a pró-reitora.
Mediadora do encontro, a professora Marlise Matos, do departamento de Ciência Política, disse que, durante a Jornada, escutou duas palavras que dão a dimensão da urgência e da necessidade do trabalho de extensão: encontro e território. “A gente precisa transformar o encontro em pedagogia, o nosso ‘encontrar’ está construindo as pontes. Precisamos refletir sobre como produzir mais e melhorar os encontros, pois eles têm potencial transformador e de produção de diálogo e de conhecimentos”, disse Marlise.
Sobre a palavra território, ela lembrou que “vivemos numa bolha, que é a Universidade, campo de produção de conhecimento e de saber socialmente legitimado”, mas que existe também um território lá fora. “Vimos aqui a importância de romper essas barreiras territoriais, pois há conhecimento onde há ser humano. A universidade institucionalizou uma forma de produzir saber, e, hoje, mais do que nunca, a gente precisa trazer aqui para dentro a experiência de saberes plurais que estão lá fora”, completou Marlise, que coordena o Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre a Mulher, da Fafich.
O encontro contou com a presença também do vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira, do pró-reitor adjunto de Extensão, Paulo Sergio Nascimento Lopes, e com a apresentação do bloco formado por mulheres do projeto de extensão Para Elas: por elas, por eles, por nós, da Faculdade de Medicina.
Texto: Bárbara Gonçalves e Zirlene Ramos