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“Morei na Escola. Era, onde é a Escola até hoje. [...] Olha, é, por um lado muito interessante porque aquela convivência de, de meninas, moças aliás, vindas de, de vários lugares, mais de Minas Gerais, mas também, às vezes, de outros estados e que dava uma convivência muito interessante. É, agora, era, era um pouco rígido, seguia os padrões de internato da época. [...]”

Silvana Del Carrillo Cure,

Entrou em 1964 e se formou em 1967,
Natural de Dores de Indaiá / MG.

Galeria - Cotidiano

Entrevistas (sobre a vida no internato)

“Lá, na, lá na Rua do Chumbo, nós tínhamos o, voley. Jogávamos voley! Tinha piscina, mas quando nós fomos para lá já não usava a piscina. Não sei porque. Agora, tinha voley! Nós jogávamos voley! Às tardes. No início, no início assim… aí a gente tinha mais tempo, não é?”

DAURA PACHECHO RIBEIRO, ENTROU EM 1945 E SE FORMOU EM 1947, NATURAL DE LEOPOLDINA – MG. SOBRE A PRÁTICA DE ESPORTES NO INTERNATO.

“Ah, o internato era assim simplesmente agradável. Era bom a gente chegar no internato. Nós tínhamos piano. Nós tínhamos radiola, na época, né, agora é som, né [riso], então nós tínhamos radiola, nós tínhamos é, é, como eu já falei, piscina, aquele jardim maravilhoso. E aí nós chamávamos os moleques [riso], chamava os molequinhos para pegar, pegar jaca pra gente, manga, pegar jaca e manga. Então a gente tinha assim aquele, aquele, aquela maneira da gente viver no interior, era, a Escola de Enfermagem era continuação daquilo. Quer dizer, tinha o refeitório, tudo bem, uma mesa para quatro alunas, mas era assim um ambiente super agradável, você ter uma refeição ali naquele refeitório.”

EFIGÊNIA MARIA DAS DORES, ENTROU EM 1955 E SE FORMOU EM 1958, NATURAL DE OLIVEIRA – MG. SOBRE A VIDA NO INTERNATO.

“Então, quer dizer, a gente ia ao [cine] Acaiaca. Depois que nós saímos da Serra, lá da casa da Serra, nós fomos morar no Hospital da Cruz Vermelha, atrás do Parque Municipal. A Escola alugou o 1º e 2º andar para fazer o Internato da Escola. E, e a gente então saía de casa, por exemplo, domingo ou sábado para ir ao Acaiaca, que era o cinema mais próximo, e quando terminava o filme ou antes de terminar, você tinha que voltar correndo, porque na porta da Escola tinha uma freira te esperando [risos] e para marcar qual o horário que você estava chegando. Então era um trem assim meio, meio duro, parecendo assim coisa meio de quartel, mas dava pra gente ficar bem enquadrada lá dentro e bem feliz, porque a motivação que existia de você estar fazendo um, uma, um estudo que você escolheu, que você está mexendo com pessoas, mexendo com gente, na, na, na fase mais difícil da pessoa que é a fase que eu acho que é a fase que ela está doente, é a fase mais carente. Eu sou, eu sou uma pessoa assim simplesmente apaixonada pelo doente. Não é novidade para você, né?”

EFIGÊNIA MARIA DAS DORES, ENTROU EM 1955 E SE FORMOU EM 1958, NATURAL DE OLIVEIRA – MG. SOBRE LAZER.

“Ah, me lembro que disseram que nós tínhamos que mudar porque a casa ia ser vendida, ou que o dono não queria mais que a Escola de Enfermagem ficasse lá, que as meninas da Escola, e de uma hora para outra nos mostraram o Hospital da Cruz Vermelha que estava recém construído, novinho, não tinha doente lá, então disseram que tinham alugado o primeiro e segundo andar para nós, mostraram os quartos, que eram super mais confortáveis do que na Serra. Eram quartos, eram apartamentos para quatro meninas, lá na Serra a gente dormia até dez em um quarto só. É, era mais difícil, né, lá era mais difícil. Então nós tínhamos um apartamento mais confortável, no centro da cidade, bem mais no centro, no, não íamos mais depender nem de bonde, gente andava era de bonde também.”

EFIGÊNIA MARIA DAS DORES, ENTROU EM 1955 E SE FORMOU EM 1958, NATURAL DE OLIVEIRA – MG. SOBRE A MUDANÇA DE LOCAL DO INTERNATO.

“Quando eu entrei o internato já era na Cruz Vermelha. Depois é que nós mudamos lá para, lá para a Av. Getúlio Vargas. Passou para a Getúlio Vargas. Assim com muita dificuldade, porque a casa lá era pequena. Porque a Cruz Vermelha pediu o prédio, não é? E aí nós fomos obrigadas a ir para lá. A casa pequena, inclusive nós tínhamos é, dois quartos grandes. Um quarto onde ficavam onze pessoas morando, não é? E outro de sete, que nós apelidamos até de Praça Sete, não é? E os outros quartos assim de quatro, de seis, tá?, variando. Muito apertado, sabe? Acumulado.”

CARMELITA PINTO RABELO, ENTROU EM 1957 E SE FORMOU EM 1960, NATURAL DE BARRA DO RIO GRANDE – BA. SOBRE A MUDANÇA DE INTERNATO DA CRUZ VERMELHA PARA A AV. GETÚLIO VARGAS.

“A gente deitava às nove horas porque tocava a sineta para a gente ir deitar e levantava às cinco horas também com a sineta. Mas aprontávamos e muito [depois de tocar a sineta]. Às vezes a gente tirava as coisas até na dispensa, sabe? […] A gente colocava pessoas vigiando a ecônoma, porque só tinha a dona, a Jojoca, não é? […] porque a comida não era muito boa, sabe? Então, chegava à noite, a gente… é todo mundo adolescente, naquela fase que dá muita fome à noite, não é? […] E depois que tinha o jantar. Depois do jantar não tinha mais nada, tá? Então a gente roubava as coisas. Eu mesma participei, sabe? [risos] Aí a gente é, pegava cera e colocava na, no sino daquelas que tinha aquela sinetinha lá, a gente colocava cera. Às vezes, quando a gente queria dormir até mais tarde. Aí a gente colocava a cera, não é? Na, na, na sineta para poder ela não tocar a sineta no escuro. Era assim, uma turma muito boa, sabe? […] Agora a, o interessante que eu achava no internato é que as mais velhas, elas sentiam como se fossem as responsáveis pelas mais novas que chegassem. Havia assim, um perfeito entrosamento. Então aquelas que eram mais velhas, então elas tinhas aquela preocupação de integrar dentro do internato. Então davam todas as informações, não é? Faziam trote. Também tinha trote, sabe? Às vezes colocavam boneco na cama da gente. O trote era nesse nível, não é? Pintavam a cama da gente. Desfaziam a cama. A gente chegava, a cama estava desfeita. A gente tinha de chegar e fazer. Havia assim esse ambiente bastante agradável, sabe? Não tinha assim, não tinha briga, não tinha essas coisas não. Era assim, muito interessante.”

CARMELITA PINTO RABELO, ENTROU EM 1957 E SE FORMOU EM 1960, NATURAL DE BARRA DO RIO GRANDE – BA. SOBRE A VIDA NO INTERNATO.

“Olha, é, hoje vendo assim, dando uma distância, eu acho que era de um desconforto, que só a juventude permite, sabe? Eu dormia num quarto com dez pessoas, sabe, assim, o banheiro lá em cima, acho que tinha, sei lá quantas mulheres […]. Internato era na Getúlio Vargas, né? Avenida Getúlio Vargas, numa casa […]. Era uma casa muito bonita, muito grande, né, mas era muito desconfortável. […] Não, não tinha refeições, não. Você acordava, tinha a hora de acordar, no finalzinho quando a gente acho que estava nos últimos meses que aí tinha um jantar, né, mas eu sei que a gente tomava lá, eu nem sei se a gente tomava café lá […]. Então, eu me lembro de uma coisa muito desconfortável, né, nesse sentido e você ter que ter uma, é, forçosamente ter um, uma vida comunitária, você não tinha um, um, você não tinha um espaço privado, não é. Por exemplo, eu, eu tinha uma prisão, coisa mais prosaica, prisão de ventre, né. Eu lembro que minha prisão de ventre piorou, porque eu, eu realmente eu não tinha onde… Eu não podia, não, não, eu tinha que esperar, é não sei quantas pessoas usarem o banheiro, pra eu ir pro banheiro, né, então era desconfortável. Agora, eu nunca, quer dizer que, você com dezenove anos, você não está entendendo, e como a gente é, é a turma era muito amiga e tal, então essa coisa ficava meio o que… Secundária né.”

GEORGINA GOMES DE FIGUEIREDO, ENTROU EM 1959 E SE FORMOU EM 1962, NATURAL DE PEDRA AZUL – MG. SOBRE A VIDA NO INTERNATO.

“Morei na Escola. Era, onde é a Escola até hoje. […] Olha, é, por um lado muito interessante porque aquela convivência de, de meninas, moças aliás, vindas de, de vários lugares, mais de Minas Gerais, mas também, às vezes, de outros estados e que dava uma convivência muito interessante. É, agora, era, era um pouco rígido, seguia os padrões de internato da época. […]. Mas havia aquela coisa de direção religiosa, a diretora do internato era uma, a irmã que era diretora da Escola. Nós tínhamos horário para chegar, nove horas. A gente podia namorar na Escola, por exemplo. […]. Então, de particular, eu acho o fato da gente ser interna, a gente ficava assim meio bela adormecida tipo né, um pouco isso, sei lá, era uma época muito romântica. Agora, mais do que isso acho que era uma época que eu me acho um pouco privilegiada de ter vivido sabe, que foi essa época de 64 a 68 porque primeiro os anos 60, tem um pouco de mística, de magia, mas tem muito também de real porque havia uma grande mudança no mundo acontecendo e a gente estava vivendo aquilo. Então eu digo que é, é claro, havia muito problema de você está interna, essa questão do lugar de, um pouco, um certo isolamento da comunidade fica um pouco exacerbado. Agora, por outro lado tínhamos essa possibilidade de participar de um momento muito especial, a gente sentia isso, e assim muito resguardados né, quer dizer, poucas de nós na verdade participamos efetivamente desses, desse momento político. Mas algumas puderam participar e eu acho que foi uma coisa muito, é, muito benéfica para nós.”

SILVANA DEL CARRILLO CURE, ENTROU EM 1964 E SE FORMOU EM 1967, NATURAL DE DORES DO INDAIÁ – MG. SOBRE A VIDA NO INTERNATO.

Entrevistas (sobre relações externas à vida na escola)

“A gente almoçava no bandejão […] lá a gente encontrava com os acadêmicos da medicina e a gente encontrava já com uma roupinha de assistir aula, porque a gente saía do estágio, trocava de roupa e já estava mas decente, não é, mais gente, não é? Então tinha as paquerinhas, tinha sem dúvida, e eu sempre tão preocupada com as paqueras das meninas, porque não podia paquerar, não podia namorar. E eu lembro que a Ilza tinha uns lance de sedução gente que cousa horrorosa! Ilza, acho que não era muito de ação não, mas o que ela jogava de charme! Então tinha um cara que nós apelidamos ele de abacate porque ele ficou tão encabulado com a sedução da Ilza que derrubou a tigelinha de abacate da sobremesa, então ficou abacate. Então ela sempre jogava muita sedução nessas horas de almoço e ficava muito preocupada com isso porque…”

ANA LÚCIA MAGELA RESENDE, ENTROU EM 1961 E SE FORMOU EM 1964, NATURAL DE BELO HORIZONTE – MG. SOBRE NAMOROS E RELACIONAMENTOS.

“Todo mundo fugia, sabe? Pra namorar. Roubava a chave da Jojoca, não é? Roubava a chave. […] Aí jogava a chave pela janela para a pessoa lá, lá em baixo, sabe? Quando, então a Jojoca fazia a inspeção toda noite para ver. Então uma fazia boneco na cama. Cobria, não é? Ela chegava na porta e via a cama ocupada, não é? Então achava que a gente estava todo mundo lá dentro. Mas a outra estava lá fora namorando.”

CARMELITA PINTO RABELO, ENTROU EM 1957 E SE FORMOU EM 1960, NATURAL DE BARRA DO RIO GRANDE – BA. SOBRE FUGIR DO INTERNATO PARA NAMORAR.

“Namoro lá era um treco sério mesmo, porque, você não podia ficar levando namorado lá. Não podia, que lá era nossa casa, não é? Você não podia levar namorado, como é que fazia? Então você tinha que sair e encontrar com ele até nove horas, quinze pras nove e voltar correndo para a Escola. Você jamais podia conversar com um rapaz estando uniformizada, nunca. Uma vez […] eu tinha um namorado, e, o namorado foi lá no hospital me buscar, no final do, do expediente. E eu vim de mãos dadas com ele […] bastou isso, né, para a casa quase cair em cima de mim. Que não podia, que não podia, que moça menina da Escola de Enfermagem que estava de uniforme não podia dar a mão para rapaz! Falei, mas é meu namorado! Mas não pode, você sabe que não pode, não pode de jeito nenhum, ele não pode te buscar, isso pega mal. E quem falou isso para mim? Você pensa que foi freira? D. Izaltina, professora da Escola. D. Izaltina, formada em filosofia, quer dizer, tinha que ter uma mente mais aberta, né. Então não podia. Além do mais, o meu namorado era oficial. Ele de farda e eu de farda, né [riso], nós dois de farda, desfilando.”

EFIGÊNIA MARIA DAS DORES, ENTROU EM 1955 E SE FORMOU EM 1958, NATURAL DE OLIVEIRA – MG. SOBRE NAMOROS E RELACIONAMENTOS.

Entrevistas (sobre o DAMAR)

“[…] na verdade eu estava participando da luta política estudantil, já estava mais voltada … porque de repente a gente também foi percebendo que haviam coisas que não era só nossas, que haviam né, era um movimento político nacional. A gente queria participar, quer dizer, inicialmente por exemplo, a gente foi participar do, do DCE né, aí já era pelo diretório acadêmico eu era presidente do diretório acadêmico né? […] O que me orgulha no diretório acadêmico foi o nome porque uma das coisas nessa situação de meio sem lugar, uma das coisas que preocupava a gente era o fato de que os diretórios tinham um nome e o nosso não. Sempre a gente estava nessa: nós somos o menor, aquela queixa, aquela busca de, né, do lugar mesmo. […] E demos o nome de Diretório Acadêmico Marina Andrade Resende (DAMAR) vocês já ouviram falar de Marina e que havia falecido há pouco tempo e que nós quisemos homenagear. Era como um, uma nomeação, parece que faltava nomeação, sabe? E conseguimos fazer isso, acho que depois perdeu porque o diretório não teve mais nome, mas nenhum tem, o problema mesmo era nosso, naquela época. […] eu me lembro que aí eu comecei a me preocupar foi com a participação no DCE. E aí já havia um grande movimento político né e que nós começamos a participar pelo DA. né. […] A gente ia às reuniões. […] Havia muitos movimentos estudantis e já havia grupos armados e tudo. Mas isso a gente não sabia muito bem. Tinha uma ideia, mas não sabia tanto no que estava se envolvendo não. Foi mais, a gente acreditava que alguma coisa pudesse ser mudada no país, porque, fazendo enfermagem, a gente convive, convivia na época com muita desnutrição, pobreza e foi muito essa vontade de mudar alguma coisa e acreditar que havia possibilidade no socialismo de, de conseguir isso né. Então havia muitas passeatas, um pouco, nós éramos um pouco festivas na verdade.”

SILVANA DEL CARRILLO CURE, ENTROU EM 1964 E SE FORMOU EM 1967, NATURAL DE DORES DO INDAIÁ – MG. SOBRE O DAMAR.

Entrevistas (sobre o dia-a-dia como estudantes)

“[…] E nós então, tínhamos e, a missa da seis ou seis e trinta tinha o café e saía imediatamente, porque às sete horas tínhamos que, que estar na aula, né. A aula era na rua da Bahia, a escola funcionava a parte de secretaria, esco… de aulas funcionava na rua da Bahia com Bernardo Guimarães. É lá que funcionava. Nós então, íamos para lá assistir aula, depois ia, volta para escola, é, para almoçar e de novo, volta para às aulas. Isso nos seis primeiros meses, porque era o período que a gente estava, é, vendo se realmente a gente tinha vocação para enfermagem. Então, esses seis primeiros meses, nós tínhamos um pouco de aula de técnica de enfermagem, era dado por Dona Rosa, que foi… era vice-presidente, ela era que dava aula de técnica de enfermagem, Rosa de Lima Moreira. E ali então, tinha as aulas de ética e assim o principio de enfermagem, né. É… às quatro horas, cinco horas nós voltávamos para escola, isso durante os seis meses. Depois de seis meses, entrava em uma festa de, de imposição da, da, da, do véu. Nós usávamos um véu, né. É as insígnias de enfermagem. Fazia-se uma festa, então, o pessoal, a, todas as, as alunas que recebia o véu é porque queriam continuar a enfermagem. Então, tinha aquela festa. Então nós já depois disso, que recebíamos o véu, nós primeiro ficávamos no hospital só para olhar o serviço, mas depois, que nós recebíamos o véu, aí já entramos para trabalhar de fato, de verdade, né. E o hospital, era o, o, o Hospital Municipal que ficava lá na Lagoinha. Então, vocês vejam, a gente saia da Serra de bonde, porque aquele tempo só tinha bonde, ia, tomava outra condução para subir a rua da Bahia, outro bonde para subir a rua da Bahia para ir a aula. Depois, voltava para almoçar, ia para o hospital e era assim, a vida da gente, né.”

MARIA ZÉLIA CARNEIRO, ENTROU EM 1947 E SE FORMOU EM 1950, NATURAL DE MARIANA – MG. SOBRE A VIDA DE ESTUDANTES.

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