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Nº 1609 - Ano 34
12.05.2008

Nas entranhas da economia da cidade

Ipead completa 60 anos com planos de crescimento

Ana Maria Vieira

Foca Lisboa
Antonio
Antônio Carlos: planos incluem apoio à pesquisa

 

Diariamente, duas dezenas de pesqui- sadores carinhosamente apelidados de formiguinhas cumprem roteiro há muito conhecido. Em contínuo vai-e-vem percorrem farmácias, supermercados, lojas de material de construção e outros estabelecimentos comerciais. Juntos, cobrem quatro mil endereços em Belo Horizonte. Nesses locais, coletam preços de consumo de diversos produtos, que, lançados posteriormente em bancos de dados, totalizam 40 mil itens de informação. Tão logo, no entanto, finalizam a visita a todos os pontos, as formiguinhas recomeçam sua vida andarilha.

Tal rotina tem razão de ser: ela alimenta alguns dos indicadores econômicos mais conhecidos pela população da capital, como o índice de preço ao consumidor e o valor da cesta básica. Sob a coordenação da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), a geração desses dados tem orientado decisões de consumidores e de entidades públicas e particulares de Belo Horizonte, há pelo menos duas décadas. Não apenas eles, pois a Fundação está à frente de outras prospecções de grande interesse para a comunidade, como as de tarifas do setor bancário, taxas de juros do mercado, índice de confiança do consumidor e comportamento do mercado imobiliário.

“Além de contar com equipe própria de 50 profissionais e realizar tais pesquisas, o Ipead capta recursos e disponibiliza indicadores para a sociedade. Com os excedentes financeiros, apóia a UFMG, dando suporte a outras investigações e à administração de cursos de extensão e de especialização”, esclarece o professor Antônio Carlos Ferreira Carvalho, diretor do Ipead. Ligada à Faculdade de Ciências Econômicas (Face), a entidade acaba de completar 60 anos de criação. As comemorações, por enquanto, se destinam a um público interno. Sua direção pretende organizar série de eventos, ao longo do ano, abertos à participação da comunidade.

Mais significativa é a consolidação de planos que prevêem ampliação de suas atividades. Conforme relata Carvalho, o próximo passo será intensificar ações de apoio à pesquisa na UFMG, nos moldes da linha de trabalho adotada pela Fundep. “Não temos interesse em disputar espaço com as fundações da Universidade. Na verdade, pensamos em dividi-lo de acordo com o que cada uma faz melhor”, explica.

De instituto a fundação

Criado como instituto em 1948, o Ipead transformou-se, há cinco anos, em fundação, para atender resolução do Conselho Universitário da UFMG. Desde então, de acordo com o instrumento, as atividades de apoio devem alocar 30% de suas sobras financeiras no Fundo de Desenvolvimento Institucional da Universidade. Essa modalidade de transferência já era, no entanto, praticada pelo Instituto, como observa o professor Antônio Carlos. “O índice não era 30%, mas contribuíamos com aquisição de periódicos para a Biblioteca, numa época em que não havia recursos para tal”, exemplifica. Além disso, a entidade doou R$ 1,5 milhão de seu patrimônio para a construção da nova sede da Face no campus Pampulha.

Há três anos, a Fundação Ipead se credenciou para atender demandas de municípios interessados em elaborar seu Plano Diretor, obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes. “Essa linha de trabalho não nos é estranha, pois produzimos regularmente levantamentos das vocações econômicas, políticas, sociais, das potencialidades e dos
interesses das comunidades”, diz o professor.

A inserção do Instituto nesse campo de pesquisa pode contribuir, por outro lado, para a consolidação de uma cultura de maior racionalidade administrativa no setor público. “Hoje se trabalha muito mais qualitativamente na administração pública e a Fundação tem desenvolvido instrumentos para aperfeiçoar métodos de controle de compras, orçamentos e arrecadação”, comenta Carvalho. Em 2007, pelo menos oito cidades integrantes da Associação dos Municípios do Lago de Furnas usufruíram desse know-how do Ipead.

Fundada por professores da Face para aglutinar pesquisadores, além de produzir e divulgar pesquisas destinadas à sociedade, a entidade, desde seus primeiros anos, contou com a parceria de associações e federações dos setores bancário, comercial e industrial. Elas tanto demandavam informações geradas pelo Ipead, como integravam o conselho do Instituto. A experiência permitiu a construção de interesses comuns entre a entidade e seus parceiros, ainda que a Fundação tenha mantido autonomia nas definições metodológicas e no financiamento das pesquisas. “Se recebêssemos recursos da Federação Brasileira dos Bancos, por exemplo, para produzir informações sobre taxas de juros, ficaríamos sob suspeição”, pondera Antônio Carlos. De acordo com o diretor, a entidade também não conta com recursos públicos.