Historiadora boliviana diz que pesquisas transfronteiriças são necessárias para compreender fenômeno da migração
  • 04
  • 10
Maria Luisa Soux, Maria Medianeira, Maria Zilda Coury, Élerson Silva e Francisco Andrade. Conferência internacional sul-americana: territorialidades e humanidades. Foto: Foca Lisboa/ UFMG

Fenômeno que afeta grande parte da população mundial, a migração deve ser, cada vez mais, tema de pesquisas transdisciplinares e transfronteiriças, defendeu a historiadora Maria Luisa Soux [em foto de Foca Lisboa] na mesa-redonda Fronteiras e migrações, no fim da manhã desta terça-feira, 4. A mesa integra a programação da Conferência internacional sul-americana: territorialidades e humanidades.

Em evento que procura debater a recuperação do protagonismo da área de humanas na reflexão dos desafios enfrentados pela sociedade contemporânea, Maria Luisa Soux afirmou que seu país vive uma “espécie de esquizofrenia”, porque 100% das vagas de doutorado oferecidas pelo governo são para pesquisas nas áreas de ciências exatas e naturais.

Tal opção, segundo ela, está mais ligada à visão ocidental, que entende o progresso mirando apenas o futuro, enquanto o conceito nayra pacha, da cultura local, refere-se a um olhar para espaço e o tempo, com referência no passado.

Na palestra Cultura andina e migração boliviana no século 21, a pesquisadora falou de peculiaridades desse movimento migratório, citando princípios que estão na base de práticas comuns àquela população, como o cuidado com a Mãe Terra e o conceito de bem-viver, “que vai muito além da economia, e inclui viver bem consigo mesmo, com a natureza e a sociedade”.

Professora da Universidad Mayor de San André, Maria Luisa Soux afirmou que a migração, tanto legal quanto ilegal, tornou-se um problema generalizado na Bolívia, e listou os países que mais recebem bolivianos na atualidade: Argentina, Brasil, Estados Unidos, Espanha e Chile. Ponderou que o cruzamento da fronteira com o Peru não se caracteriza como migração, pois esse movimento, em geral com retorno no dia seguinte, para comércio e atividades familiares, vem desde a época pré-hispânica.

A historiadora enfatizou que os bolivianos são utilizados como mão de obra não qualificada nos países para onde migram, “mas continuam a ir”. “Mesmo explorados, muitas vezes por seus compatriotas, aprendem ofícios novos e enviam economias para sua família na Bolívia, gesto que faz aumentar seu prestígio na comunidade de origem”.

Refugiados

Outro tema abordado na mesma mesa foi o trabalho desenvolvido pela entidade civil Cáritas, que acolhe refugiados em 18 países. Representante da organização no Brasil, Élerson Silva [em foto de Foca Lisboa], que também é aluno do curso de História da UFMG, falou da diferença entre refugiado e migrante e enfatizou o papel da academia e das ciências humanas “para ajudar a romper muros e fronteiras, uma vez que as diferenças culturais devem nos unir”.

Em sua opinião, “as humanidades têm grande contribuição a dar no sentido de despertar as pessoas para a acolhida do outro, de reacender e redescobrir os valores éticos e o valor da condição humana”.

A professora Maria Medianeira Padoim, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), relatou o trabalho desenvolvido por comitê no âmbito da Associação de Universidades do Grupo Montevidéu (AUGM), que, desde 2003, realiza pesquisas sobre o tema História, regiões e fronteiras.

O professor Francisco Eduardo Andrade, da Universidade Federal de Ouro Preto, falou sobre o tema Escravidões e sociabilidades confraternais da diáspora negra nas Minas na América portuguesa, no qual abordou a forma como era construída a liberdade civil para essa população excluída.

Outras informações sobre o evento e a programação dos próximos dias podem ser consultadas neste site.

Mais Notícias
Professor David M. Lovinger, chefe do Laboratório de Neurociência Integrativa do National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), dos Estados Unidos. Divulgação
  • 21 jun 2017
  • 0
Compreender os mecanismos que impulsionam o consumo habitual de álcool e drogas, incluindo uso excessivo e prolongado e ciclos de abstenção e recaídas, é objetivo...
Foto: Foca Lisboa/ UFMG
  • 9 jan 2017
  • 0
Com 91 depósitos de pedidos de patentes junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a UFMG bateu, em 2016, o próprio recorde histórico em...
Cenário do Museu Giramundo: grupo vai ministrar oficina de bonecos durante o Festival. Foto: Grupo Giramundo
  • 18 jul 2017
  • 0
Cenário do Museu Giramundo: grupo vai ministrar oficina de bonecos durante o Festival. Foto: Grupo Giramundo   Festival de Inverno da UFMG reforça seu caráter...