Estrutura multiusuária e multidisciplinar para pesquisa e desenvolvimento, considerada modelo para o país, o Centro de Microscopia da UFMG vai abrir as portas de seus laboratórios para visitação pública, no próximo dia 18.
A atividade, que integra as comemorações de seus dez anos de funcionamento e dos 90 anos da UFMG, começa às 10h, com solenidade que reunirá pesquisadores, autoridades e representantes de agências de fomento. Em seguida, terão início as visitas monitoradas, que se encerram às 17h.
De acordo com o diretor, professor Wagner Nunes Rodrigues [foto ao lado], a intenção é divulgar a potencialidade de atendimento do Centro e ampliar o número de usuários, pois mesmo dentro da UFMG ainda há pesquisadores que não conhecem a estrutura do Centro.
Atualmente estão registrados como usuários 500 pesquisadores, 900 alunos de instituições de todo o país e 50 empresas, especialmente nas áreas de mineração e metalurgia, siderúrgicas, indústrias do setor de microeletrônica, de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia, de transformação de bens de consumo, hospitais e laboratórios de análises.
“Elas vêm porque sabem que o Centro de Microscopia da UFMG é diferente de todos os centros no Brasil, devido à multidisciplinaridade, à facilidade de acesso e à qualidade das instalações e da equipe”, destaca o diretor.
Ele explica que normalmente os centros de microscopia são voltados para a área de materiais ou da vida, enquanto o da UFMG é multidisciplinar. “Temos biólogos, farmacêuticos, veterinários convivendo e trocando ideias com físicos, químicos, engenheiros, geólogos, o que proporciona uma grande sinergia”, comenta o professor. Tal característica deve-se à maneira como o Centro foi concebido, isto é, com o intuito de servir a todas as áreas da Universidade e não vinculado a uma unidade acadêmica específica, assegura.
Como lembra Wagner Rodrigues, a criação do Centro foi uma iniciativa de diversos grupos de pesquisadores da Universidade, já usuários de microscopia eletrônica, que não dispunham de uma estrutura à altura da pesquisa que se realiza na UFMG.
Localizado no campus Pampulha, o Centro dispõe hoje de infraestrutura de excelência em microscopia e microanálise, que abrange microscopia eletrônica de varredura e de transmissão, microscopia de feixe iônico, microscopias de varredura por sonda, microscopia de fluorescência, microanálise por fluorescência de raios-X e por perda de energia de elétrons. A relação detalhada de equipamentos encontra-se na internet.
“Ter máquinas desse quilate e manter uma estrutura com esta é inviável para pesquisadores isoladamente, por isso, é necessário ter o suporte de um grupo ou ter caráter institucional, como ocorre em outros países”, explica o Wagner Rodrigues, que é professor do Departamento de Física.
Usuário do Centro, o pesquisador Thiago Cunha, do Centro de Tecnologia em Nanotubos de Carbono (CT-Nanotubos), tem utilizado atualmente equipamento de análise de amostras. “Para o tipo de material com o qual trabalhamos, que é nanométrico, é fundamental fazer a caracterização por imagem eletrônica, para sabermos quais suas propriedades em termos estruturais, e a análise química, que revela como as mudanças de parâmetros realizadas durante os processos afetam a qualidade do material”, diz. Em sua opinião, dispor de acesso a esse tipo de equipamento “é um grande diferencial na UFMG”.
Microscopista Érico Freitas em microscópio eletrônico de transmissão. Foto: Foca Lisboa/ UFMG
Histórico
Em 2003, pesquisadores de diversas áreas do conhecimento se organizaram de maneira inédita e apresentaram, com apoio da Reitoria, proposta unificada em edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que permitia a aquisição de grandes equipamentos. O próximo passo foi a construção de uma estrutura para abrigar esses microscópios, tendo sido o Centro de Microscopia criado formalmente como órgão suplementar, ligado à Reitoria, que seria inaugurado em 2006.
O trabalho envolveu a elaboração de regimento e a construção do prédio. Para isso, pessoas ligadas ao projeto visitaram laboratórios na Europa e no Japão, bem como empresas fabricantes de microscópios eletrônicos, para obter informações sobre infraestrutura predial e de equipamentos.
A construção exigiu planejamento especial. “A localização, por exemplo, só foi decidida após cuidadosa medição dos níveis de vibração mecânica e de campo eletromagnético em diversas áreas do campus”, relembra Wagner Rodrigues. Para evitar vibração mecânica, o edifício tem fundações especiais, e a fiação elétrica é especialmente disposta de forma a não criar campos magnéticos prejudiciais à qualidade das imagens. Também foram adotadas soluções para impedir variação térmica e vibrações acústicas.
O Centro integra o Sistema Nacional de Laboratórios em Nanotecnologia (Sisnano) e também se notabiliza por sua liderança na organização da Rede de Microscopia e Microanálise de Minas Gerais, cadastrada na Fapemig desde 2013, e que congrega 11 instituições de ensino e pesquisa no estado.
O Centro conta hoje com equipe de 30 pessoas, metade das quais do quadro permanente de servidores da Universidade. Essa equipe apoia os pesquisadores de várias áreas do conhecimento, com a preparação de amostras e análise nos diferentes tipos de microscópios.
Para ter acesso aos equipamentos do Centro, pesquisadores devem apresentar proposta de pesquisa, através da página web do Centro, para que seja analisada quanto à sua exequibilidade com a infraestrutura disponível. Aprovado o projeto, é possível agendar períodos de uso dos microscópios, e há duas maneiras de usar os equipamentos: uso assistido, isto é, com a presença de um microscopista da casa, e uso autônomo, quando o dono do problema se capacita, aqui, para pilotar o aparelho.
Microscópio MLA, utilizado em análise de materiais, sobretudo para indústrias minerometalúrgicas. Foto: Foca Lisboa/ UFMG