Boletim UFMG – Charges na História

BOLETIM UFMG
CHARGES NA HISTÓRIA
POR GABRIEL ARAÚJO. PESQUISA E SELEÇÃO DAS CHARGES POR GERALDO PERPÉTUO. COLABORARAM FLÁVIO DE ALMEIDA E ITAMAR RIGUEIRA JR. | PUBLICADO EM 10/5/2017
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Em 27 de setembro de 1974, circulava a primeira edição do Boletim UFMG, informativo oficial da Universidade criado com o objetivo de veicular atos da Reitoria e “notícias das unidades e outras informações de interesse da comunidade universitária”, segundo informava o texto da ordem de serviço 270/74, de 18 de setembro daquele ano, assinada pelo reitor Eduardo Osório Cisalpino.

Um ano antes do surgimento do Boletim, um médico e futuro colaborador do veículo começa a publicar desenhos, sem desconfiar que seus cartuns  fariam sucesso e ganhariam visibilidade no futuro. Natural de Jesuânia (MG), Luiz Oswaldo Carneiro Rodrigues, que assinaria seus trabalhos artísticos com a sigla LOR, iniciou sua carreira de chargista ainda como estudante de Medicina na UFMG – ele se formaria em 1972. À época, LOR já se equilibrava entre o que define como suas personalidades anárquica (a  do cartunista) e ordenadora (a do médico).

Ao mesmo tempo em que desenhava e conquistava premiações nacionais e internacionais do campo do humor em tiras, LOR concluiu mestrado e doutorado, atuou como professor titular da área de Fisiologia do Exercício da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG e como médico e pesquisador do Centro de Referência em Neurofibromatoses do Hospital das Clínicas da Universidade.

“Eu até convivo com essas duas personalidades: o cartunista, totalmente crítico e cético; e o médico, que é obrigado a construir perspectivas futuras, organizar, consolar e ajudar. E o cartunista sempre fala assim: ‘isso não vai dar certo não’.” (Lor)

VÍDEOS DE GABRIEL ARAÚJO E MARCOS BECHO

A trajetória do cartunista se cruzaria com a do Boletim UFMG em 1988, quando o criador do veículo, o jornalista Manoel Marcos Guimarães, convidou LOR para colaborar com sua equipe. Eram tempos de mudança editorial, e o Boletim buscava ampliar e qualificar sua abordagem sobre temas da universidade, do país e do mundo.

De 1988 a 1997, LOR publicou charges no Boletim, trabalho que lhe valeu, por exemplo, o primeiro lugar no Salão Internacional de Humor de Piracicaba. No desenho premiado, um pai mostra um mapa do Brasil para o filho e diz, com pesar: “nada disso será seu”.

LOR também colaborou com os jornais Diário Popular, de São Paulo, e O Dia, do Rio de Janeiro. Seu trabalho na imprensa culminaria, em meados dos anos 1990, no projeto Engenho & Arte, do jornal O Tempo, lançado à época.

O programador visual Geraldo Perpétuo, do Centro de Comunicação da UFMG (Cedecom), resgatou algumas charges do artista. Guiado pelo que chama de “atualidade histórica”, Gegê, como é conhecido entre os colegas, selecionou desenhos que, mesmo retratando fatos de décadas passadas, se ajustam aos tempos atuais. O trabalho resultou nas galerias virtuais que se seguem.

1988

Dois dias após a promulgação da Constituição de 1988, a chamada “Constituição Cidadã”, LOR dava asas a sua veia política para publicar, na edição de 7 de outubro, uma crítica à negligência da Carta no que se refere à urgência de uma reforma agrária. O cartunista também chama a atenção para as relações entre a política brasileira e o capital estrangeiro.

1989

“Por isso eu digo que nós, os ricos, somos as maiores vítimas da sociedade.” A ironia é endereçada à elite brasileira, e LOR foca num dos problemas mais antigos do país: a corrupção. A indignação do artista também alcança as eleições históricas de 1989 – as primeiras diretas após o fim da ditadura –, marcadas pela oposição personalista entre o “caçador de marajás” (Collor) e o sindicalista (Lula).

1990

O pleito de 1989 reuniu personagens emblemáticos da política brasileira. Além de Luís Inácio Lula da Silva e Fernando Collor, aquela disputa eleitoral foi protagonizada por Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Mário Covas e Paulo Maluf. Collor venceu em segundo turno, e logo no primeiro ano de mandato, tomou uma série de medidas polêmicas. Foi alvo da acidez bem-humorada de LOR, que se dedicava ainda a destilar ironia sobre o cenário internacional, conturbado pela Guerra do Golfo.

1991

Com seu traço facilmente reconhecido nas páginas do Boletim UFMG, LOR personaliza a crise brasileira na figura do presidente Collor. O cartunista confronta a urgência reformista de Collor com a realidade das pessoas afetadas pelas reformas, de tendência neoliberal.

1992

Ano da Conferência Mundial do Meio Ambiente, a Rio-92, realizada pela ONU no Rio de Janeiro, marcado também pelo agravamento das denúncias de corrupção no governo Collor e por processo de impeachment contra o presidente. O país se paralisa, mas também protesta, e LOR não dá trégua ao seu personagem narigudo. Diante da iminente renúncia, o cartunista o põe sob o fio de um machado, implorando, em lágrimas, “ai eme a inocenti!”

2017

Aposentado, LOR é voluntário no Centro de Referência em Neurofibromatoses e publica suas charges na web, motivado pela necessidade de se expressar.

Ele deixa uma mensagem de aniversário à UFMG, nos seus 90 anos. Ainda que preocupado com as políticas recentes do atual governo, LOR deseja um futuro brilhante para a instituição.

LOR: 11/01/2017
LOR: 11/01/2017