O legado de Affonso e Laís
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lais

Casal de poetas doou importante acervo literário à UFMG

 

POR EWERTON MARTINS RIBEIRO

Affonso e Laís (sentados) e os filhos Cristina, Paulo, Mônica, Carlos e Myriam (da esquerda para a direita). Arquivo pessoal

No próximo dia 6, quarta-feira, às 18h, a família dos poetas Affonso Ávila e Laís Corrêa de Araújo vai receber a Medalha Reitor Mendes Pimentel, que homenageia personalidades ou instituições que trouxeram significativas contribuições à UFMG. Após o falecimento de Ávila, em 2012, a coleção deixada por ele e pela esposa, Laís, foi doado ao Acervo de Escritores Mineiros da Universidade. A cerimônia será no auditório da Reitoria.

O acervo é composto da biblioteca do casal e de documentos como cartas, fotos e recortes de jornais, assim como originais de obras dos escritores. Também foram entregues objetos, como a mesa de trabalho de Affonso Ávila, seus óculos e sua máquina de escrever, além de itens pessoais e de decoração. “Entre os livros, há muitas primeiras edições raras e autografadas pelos autores, e também cartas de escritores de Minas, de outras partes do país e do exterior”, detalha Carlos Ávila, filho responsável pela gestão do espólio do casal.

“Trata-se de uma biblioteca enorme, muito rica, uma das maiores que já recebemos”, destaca o professor Marcelino Rodrigues da Silva, vice-diretor do Acervo de Escritores Mineiros. “E o inventário de tudo está praticamente terminado. Foi a primeira vez que recebi em conjunto o acervo de dois escritores. É uma particularidade que merece atenção especial”, afirma. A UFMG recebeu o material no início de 2014, processo também facilitado por Myriam Ávila, filha do casal, que é professora da Faculdade de Letras da UFMG.

Carlos Ávila – que, a exemplo dos pais, é poeta, além de jornalista – explica os motivos de o acervo ter sido destinado à UFMG. “Meus pais sempre mantiveram laços com a UFMG. Laís, inclusive, formou-se em Letras na antiga Universidade de Minas Gerais e acabou recebendo, mais tarde, uma homenagem como aluna-destaque”, conta. Affonso, por sua vez, contou com o apoio da UFMG para a realização da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em 1963, e para a “concretização e edição de suas pesquisas pioneiras e originais sobre o barroco mineiro”, relata o filho.

Para Carlos, uma universidade – mais especificamente, a UFMG – é o local ideal para abrigar um material desse tipo e valor. “Já conhecia o competente trabalho realizado pelo Acervo de Escritores Mineiros da Faculdade de Letras, que é da maior importância para preservação de nosso passado literário, pois possibilita a guarda adequada dos documentos e o acesso a pesquisadores”, afirma.

As obras completas de Affonso Ávila e Laís Corrêa de Araújo foram publicadas pela Editora UFMG. O volume Inventário 1951 | 2002, que colige as obras de Laís, saiu em 2004, dois anos antes de sua morte. No volume, estão reunidos sete livros de poesia – inclusive ­Geriátrico, obra até então inédita. O volume Homem ao termo – poesia reunida [1949-2005], com a obra de Affonso, saiu em 2008.

Protagonismo na poesia

Affonso Ávila estreou na poesia em 1953, com O açude e Sonetos da descoberta. Ao longo da vida, publicaria mais de 20 livros de poemas. Protagonista de importantes movimentos literários, fundou publicações que se tornariam referência na cena literária brasileira do século 20, como as revistas Vocação e Tendência. Entre os prêmios conquistados, destaque para dois prêmios Jabuti recebidos na categoria Poesia: o primeiro, em 1991, pela coletânea O visto e o imaginado, e o segundo, em 2007, com o volume Cantigas do falso Alfonso el sabio, em que entrelaça as tradições poéticas luso-medievais às mineiro-barrocas.

Quando de sua morte, em 2006, professores da UFMG manifestaram a admiração pela trajetória artístico-intelectual de Laís Corrêa de Araújo. “Será lembrada especialmente pela excelência de sua poesia”, disse Wander Melo Miranda. “Considero-a uma das poetas mais importantes do país”. Jacyntho Lins Brandão afirmou: “Laís foi uma das personalidades literárias mais importantes da segunda metade do século 20 em nosso país.” O professor também destacou sua atuação como diretora da Biblioteca Pública de Minas Gerais. “Em recente pesquisa que fiz, percebi que a mão de Laís estava lá, em vários lugares.”

 

*Reportagem originalmente publicada na edição nº 1989 – Ano 43 do Boletim UFMG, de 4/9/2017

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