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Nº 1803 - Ano 39
10.12.2012

Frutos de um legado

Em workshop na UFMG, pesquisadores apresentam resultados de estudos que se beneficiam das nanociências e nanotecnologias, área de interesse de Mildred Dresselhaus

As iniciativas brasileiras – em especial na UFMG – que se beneficiam e buscam dar continuidade à herança da pesquisadora Mildred Dresselhaus, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA, serão discutidas nesta segunda-feira, 10, pelo professor Rubén Dario Sinisterra, do Departamento de Química, no workshop NanoUFMG.

Realizado a partir das 14h, no auditório da Reitoria, o evento antecede a solenidade de entrega do título honorífico e conta com a participação de outros três pesquisadores da Universidade – Marcos Pimenta, do Departamento de Física; Ricardo Gazzinelli, do Departamento de Bioquímica e Imunologia; e Omar Paranaíba, do Departamento de Ciência da Computação.

Enquanto Rubén Dario e Marcos Pimenta vão falar sobre os laços acadêmicos e humanos entre a UFMG e a professora homenageada, Gazzinelli e Paranaíba pretendem oferecer panorama em duas áreas fundamentais do conhecimento – vacinas para doenças negligenciadas e nanocomputação – que se beneficiam da nanociência e da nanotecnologia, campo principal de atuação da professora Dresselhaus.

Avanços e desafios

“Pretendo mostrar o que temos feito para continuar o legado que ela nos traz, além dos avanços e desafios que temos pela frente para consolidar uma área tão estratégica para o país e o mundo”, resume Sinisterra. Ao traçar o panorama nacional de nanobiotecnologia, ele vai informar à professora Dresselhaus que o Brasil ocupa a 13ª posição na produção de conhecimento mundial, embora o número de patentes ainda seja relativamente baixo.

Em seu relato, Sinisterra também abordará os esforços que o país tem feito na área, tanto do ponto de vista do financiamento público da pesquisa, quanto da iniciativa privada e da interação universidade/empresa. “Talvez possamos, com a contribuição da nossa nova doutora, encurtar caminhos para vencer os novos desafios que enfrentam o Brasil e instituições como a UFMG”, sugere, ao lembrar que “a Universidade se engrandece ao associar seu nome ao da professora Dresselhaus”.

Já o professor Marcos Pimenta vai relembrar seus primeiros contatos com a pesquisadora – que o orientou há 15 anos em ano sabático passado por ele no MIT – e os desdobramentos desse encontro, que começaram com a criação na UFMG de grupo de pesquisa em nanociência. “Desde então, temos feito visitas anuais ao MIT e recebido periodicamente a professora Dresselhaus, que também acolhe alunos nossos e nos envia pesquisadores sob sua orientação”, relata Pimenta. Ele destaca que, além de sediar o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em nanomateriais de carbono, a UFMG é liderança nacional e referência mundial na área.

Pimenta conta que em 1997 procurou orientador para o tema que despertava seu interesse – os nanotubos de carbono – e Mildred Dresselhaus era o nome que aparecia com destaque nas revistas científicas. “Eu já trabalhava com a técnica experimental espectroscopia ótica e buscava estudar um novo tipo de problema, que eram os nanotubos”, relembra. Pimenta e Sinisterra foram contemporâneos no MIT, embora atuando em diferentes laboratórios.

Pesquisa aplicada

“A convergência da nanotecnologia e da computação possibilitará ambiente perfeito para avanço científico e tecnológico sem precedentes”, afirma o professor Omar Paranaíba, que vai abordar em sua palestra a nanotecnologia computacional e nanocomputação. Segundo ele, o desenvolvimento de modelos computacionais de sistemas químicos e físicos, somado ao avanço na capacidade de processamento dos computadores, permite a simulação de possíveis nanomateriais, nanodispositivos e aplicações.

Essas duas novas áreas de pesquisa fazem, em sua opinião, “ligação perfeita entre teoria e experimento, permitindo aos especialistas a descoberta de informações escondidas na grande quantidade de dados hoje gerados por laboratórios e ferramentas de simulação”. Paranaíba destaca ainda que o uso de ferramentas de nanoinformática permite a automatização de processos laboratoriais – e até mesmo industriais, em determinadas escalas – e o gerenciamento dos dados coletados, o que facilita a reprodutibilidade, a síntese e aplicação em massa sem perda de qualidade e eficiência.

O professor Ricardo Gazzinelli vai apresentar a Mildred Dresselhaus o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas, que tem por missão atuar no desenvolvimento de vacinas contra doenças infecciosas, dando prioridade àquelas que afetam o Brasil e têm sido negligenciadas pela indústria farmacêutica. Também é papel do INCT-Vacinas contribuir para elevar a pesquisa tecnológica nas áreas de imunologia e vacinas a um patamar de excelência internacional. As nanociências oferecem importantes ferramentas para os estudos, principalmente em âmbito molecular.

“De forma mais específica estamos trabalhando com vacinas contra cinco doenças: dengue, doença de chagas, leishmaniose, leptospirose e malária (Plasmodium vivax)”, comenta Gazzinelli, informando que pretende apresentar as atividades de pesquisa do Instituto, com ênfase nos casos de sucesso. Ele também vai apontar as frentes de atuação do INCT, que são a pesquisa básica, para maior entendimento dos mecanismos imunológicos de proteção; plataformas tecnológicas para descoberta de novos adjuvantes imunológicos e novos antígenos, expressão de proteínas recombinantes, construção de vetores recombinantes atenuados, assim como elaboração de formulações e protocolos de vacinação; e desenvolvimento de formulações vacinais com parceiros industriais.