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Nº 1803 - Ano 39
10.12.2012

O corpo ensina e aprende

Projeto de extensão do curso de Dança leva proposta metodológica de uso da linguagem corporal a unidades de educação infantil de BH

Jaqueline Corradi

Acervo Projeto Linguagem Cultural

Atividade do projeto em Umei: pelo corpo criança expressa seu conhecimento

Atividade do projeto em Umei: pelo corpo criança expressa seu conhecimento

As cadeiras dão lugar a colchonetes; em vez de lousa e giz, bolinhas, tecidos, elásticos e jornais. Com o elástico trabalham-se a força, a forma e a fluência; no rolamento, o foco é o apoio e o deslocamento; com o jornal vislumbra-se o ritmo; já o tecido dá forma ao movimento, permitindo que a criança o visualize. “Parece com aquela brincadeira de imaginar que tipo de desenhos as nuvens formam. As crianças fazem o mesmo com o próprio movimento”, compara a estudante Nathalia Ridolfi.

Nathalia é a bolsista que desenvolve a oficina de Residência Corporal, que integra o projeto de extensão Linguagem Corporal na Educação Infantil, do curso de licenciatura em Dança da Escola de Belas-Artes. A atividade vem dando novo sentido ao ensino infantil ministrado nas Umeis Alaíde Lisboa, no campus Pampulha; Granja de Freitas, no conjunto habitacional do mesmo nome, na Zona Leste da capital, e Vila Conceição, na região Centro-Sul.

O projeto foi idealizado pela professora Ana Cristina Carvalho Pereira, que participou da redação do documento Proposições curriculares da educação infantil da rede municipal de Belo Horizonte, no qual apresenta princípios organizadores para o trabalho sistematizado da linguagem corporal na educação infantil. Segundo ela, o projeto busca conscientizar os professores de que, a exemplo das linguagens oral, escrita e matemática, a corporal também faz parte do processo de aprendizagem da criança.

“Tudo é muito novo na educação infantil, principalmente trabalhar com a visão de um corpo cognitivo, um corpo que aprende. O projeto foi uma forma de materializar a proposta do documento”, explica. Para ela, essa visão se opõe ao que chama de “aprendizagem mentalista”, baseada na ideia de que a criança deve se limitar a sentar e a prestar atenção. “Trabalhamos com o movimento, a criatividade, a expressividade, além dos cinco sentidos, que são as grandes portas de entrada do conhecimento. É a partir do corpo que a criança o apreende e o expressa”, argumenta professora.

Sensibilidade para ouvir

O trabalho nas Umeis é desenvolvido em três momentos: no primeiro, os professores são preparados para trabalhar com linguagem corporal a partir da fundamentação teórica e de vivências com o próprio corpo; em seguida os alunos participam, junto com os professores, de oficinas e, por último, a equipe que ministra a atividade se afasta para que os professores desenvolvam os conteúdos de linguagem corporal com as crianças, para depois relatar suas experiências com a equipe do projeto, tornando-se propositores de práticas com a linguagem corporal.

Ana Cristina salienta que o objetivo do projeto não é passar fórmulas ou impor uma maneira de trabalhar. “O professor deve ter a sensibilidade de escutar a criança”, defende. A criança, afirma ela, deve ser vista como um sujeito que aprende e constrói conhecimento, mesmo quando não domina a fala: “Seu pensamento, escolhas, sensibilidade e expressividade são manifestados pela linguagem corporal.”

Segundo a vice-diretora Jane Menezes, da Umei Vila Conceição, o trabalho de residência corporal com os professores “serviu para desmitificar a ideia de que trabalhar com o corpo é algo difícil”. Lá a professora Gardênia Dantas desenvolve atividades de rolamento, em que as crianças de dois anos devem fingir que são um lápis e rolar pelos colchonetes como se estivessem saindo de dentro de uma caixa de lápis de cor.

A equipe pretende registrar e socializar essas experiências desenvolvidas nas Umeis por meio de instrumentos como o blog Projeto Linguagem Corporal (http://projetolinguagemcorporal.blogspot.com.br/), desenvolvido por Nathalia Ridolfi, supervisionada pela coordenadora do projeto. Entre os planos, estão a ampliação do projeto para outras unidades de educação infantil e a criação de curso de formação para professores na Escola de Belas-Artes, a fim de que possam estreitar suas ligações com o ambiente universitário, conhecer melhor a área de dança e aprofundar conhecimentos em linguagem corporal.