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Nº 1828 - Ano 39
08.07.2013

Humanidades em interações

Centro reunirá pesquisadores para ampliar escala e densidade dos estudos sobre temas sociais e políticos

A UFMG precisa estabelecer uma linha de ação que transcenda departamentos e escolas e que supere a fragmentação das iniciativas envolvendo os diferentes campos das humanidades. Essa é a convicção que inspira a criação do Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades, abrigado na Pró-reitoria de Planejamento.

O objetivo central é criar na Universidade um ambiente que favoreça a aproximação dos pesquisadores das ciências humanas, sociais aplicadas e artes, que estariam aptos a, de forma conjunta, pensar o Brasil e o mundo, com foco em temas sociais, econômicos, políticos e culturais.

Cátedras, encontros e publicações serão algumas das iniciativas destinadas a gerar para as áreas das humanidades ganhos em escala, densidade e massa crítica equivalentes aos que beneficiaram, no âmbito da UFMG, as ciências biológicas, da saúde, exatas e engenharias. Grupos da Universidade – como os que integram as diferentes versões do Instituto de Nacional de Ciência e Tecnologia – receberam aportes vultosos do governo federal e tiveram incrementadas sua relevância e excelência.

Outras inspirações para a formulação do novo centro são a implantação do Projeto Biblioteca e Centro de Estudos sobre o Século XVIII, no Campus Cultural de Tiradentes, a série de eventos ligados ao Fórum de Estudos Contemporâneos e a criação do Centro de Referência em Ciências Humanas, instalado em prédio anexo da Fafich e que reúne 18 grupos de pesquisa.

“A proximidade permite a análise de nossos temas comuns, como a corrupção, a partir de diferentes eixos e múltiplas abordagens, ganhando em velocidade, quantidade e qualidade de produção”, destaca a professora Heloísa Starling, que integra o Projeto República e o Centro de Referência do Interesse Público (Crip), sediados no mesmo andar onde estão o Observatório da Justiça e o grupo Democracia Participativa, entre outros. Heloísa lembra que o trabalho conjunto já rendeu a publicação de cinco livros.

O Centro de Estudos e Pesquisas em Humanidades será gerido por comitê formado por representantes das Letras, Fafich, Economia, Educação e Artes.

Créditos para cidadania

Estudantes de graduação e pós-graduação da UFMG poderão em breve compor parte de seus currículos com temas de interesse geral, que extrapolem a formação estritamente técnica, aprofundando-se em áreas como cinema, ecologia, apreciação musical, literatura universal, filosofia das ciências, energia e sustentabilidade.

Essa é a intenção da Formação em Cidadania Cultural, que poderá ser incorporada aos currículos como atividade obrigatória, optativa ou de formação livre. E que será oferecida em diversos formatos: disciplinas, oficinas, ciclos de palestras, clubes de leitura, debates, audições musicais. O projeto admite ainda as modalidades presencial e a distância, ou uma combinação das duas.

“É importante que o aluno desenvolva atividades de cunho transdisciplinar, que possibilitem a ele conhecer e compreender a região onde mora, seu país e o mundo em que vive, avançando para além dos conhecimentos de sua futura profissão”, defende o professor Ricardo Takahashi, do Departamento de Matemática, que participou da elaboração da proposta.

Ainda não há prazo para início das atividades da Formação em Cidadania Cultural. Segundo Takahashi, é preciso definir como inserir essas atividades. “Há algumas questões a serem resolvidas para a institucionalização da proposta. Por exemplo, as disciplinas ou eventos deverão mudar de tempos em tempos, o que foge à lógica da anuência permanente que rege o currículo tradicional. É preciso estabelecer também como escalar os professores, queremos que sejam pessoas capazes de transmitir os conteúdos com profundidade para grande número de alunos”, diz o professor.

A proposta dá sequência a um processo que a UFMG vem liderando desde os anos 1990 e que resultou na flexibilização curricular transformada em norma nacional, segundo Takahashi. “Essa flexibilização modernizou os currículos e os tornou mais ágeis, mas este ciclo está incompleto, falta saber lidar com a interdisciplinaridade, articulando áreas diversas e fazendo convergir alunos de formações distintas”, ele comenta. Algumas sugestões para a nova formação são de que cada atividade compreenda 15 horas-aula (um crédito) e que os estudantes que totalizem 360 horas recebam certificação específica.

No Brasil, a iniciativa é inédita, destaca Takahashi, lembrando que o modelo é enraizado em diversas instituições americanas. “Com a adoção desse tipo de formação, a UFMG se põe em sintonia com as características de uma universidade de classe mundial, capaz de contribuir efetivamente para o debate sobre os rumos da nação e intervir sobre a sociedade”, ele afirma.