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Nº 1828 - Ano 39
08.07.2013

Entrevista / Eduardo Vargas

“Queremos uma UFMG mais cosmopolita, mas com a cara de Minas”

A recente criação de cinco centros de estudos especializados em temas relacionados à África, Europa, China, Índia e América Latina já despertou o interesse de outros países, como Canadá e Estados Unidos, que também querem ser objeto de iniciativas similares. “Já recebemos mais de uma delegação para discutir o assunto, e a visita do diretor executivo da Comissão Fulbright, que esteve na DRI para propor a criação de uma cátedra de estudos sobre os Estados Unidos da América”, conta o diretor de Relações Internacionais da UFMG, professor Eduardo Vargas. Em entrevista ao BOLETIM, ele comenta que o Centro de Internacionalização, cujo prédio será inaugurado em 2014, materializa e catalisa diversas iniciativas que envolvem a internacionalização da UFMG, incluindo o investimento em convênios com países e instituições, o envio de alunos e docentes para o exterior e a formação de estudantes que falem mais de uma língua. “Queremos que a UFMG seja mais cosmopolita, mas com a cara de Minas. É como disse o Milton, sou do mundo, sou Minas Gerais. Para tanto precisamos logo enfrentar o problema do monolinguismo”, ressalta Vargas.

Ana Rita Araújo

O atual Reitorado tem feito referência a uma internacionalização solidária e de excelência. Em que consiste esse conceito?

Essa ideia resume a preocupação com a produção do conhecimento de alto nível em interação com o estrangeiro sem esquecer de outras dimensões que estão além da excelência propriamente dita. Com isso buscamos não apenas alargar as fronteiras do conhecimento, mas também ampliar as possibilidades de entendimento entre os povos. É o que chamamos de internacionalização solidária, que nos põe em conexão com uma série de povos e lugares do mundo com os quais temos uma história comum, em especial a América Latina e a África.

Como os centros de estudos internacionais se inserem nesse propósito?

Eles têm relação com as duas vertentes. A questão dos rankings é fundamental, mas não devemos nos iludir nem ficar obcecados com eles. Esse tipo de quantificação não orienta isoladamente as ações de internacionalização da UFMG. Não ignoramos os rankings, mas os levamos em conta cum grano salis. A produção do conhecimento não é apenas concorrência pela excelência universitária – a ideia é também contribuir para a construção de um mundo melhor para se viver, em que seja possível conviver com as diferenças.

Quais as principais conquistas da DRI?

Conseguimos um desenvolvimento notável nesses últimos anos, em vários aspectos. Um deles tem a ver com a reestruturação da DRI, seu modo de funcionamento, passando a dar resposta às demandas da Universidade de maneira mais ágil e efetiva. Outra dimensão é a institucionalização das relações internacionais, que está presente em várias situações, como nos nossos editais públicos, nas nossas linhas de fomento e na própria mudança das resoluções da Universidade a esse respeito. Também houve significativo incremento no número de convênios internacionais, de países e universidades parceiras – são mais de cem programas de intercâmbio e 332 convênios. Criamos e ampliamos a oferta da disciplina de Inglês para fins acadêmicos, e firmamos convênio com a Fump, para que a DRI gerenciasse 50 vagas na Moradia Universitária, dedicadas a estrangeiros. Também cresceu o financiamento com recursos da Universidade tanto para mobilidade estudantil, no âmbito do Minas Mundi, com aporte de R$ 1,5 milhão, quanto no edital de apoio à realização de convênios internacionais, o que tem permitido a vários dos nossos professores seguir para o exterior para realizar missões focadas na concretização de acordos e convênios em diferentes áreas, ou atrair estrangeiros com os mesmos propósitos. Sem citar os centros de estudos dedicados a países ou regiões e o Centro de Internacionalização.

Qual o papel deste Centro?

O Centro de Internacionalização, que será um espaço multicultural, interdisciplinar e multisseriado, catalisa todas as iniciativas que envolvem a internacionalização da UFMG e a ação da DRI em particular. Já a criação dos centros de estudos internacionais chamou a atenção de outros países do mundo, dois em particular: os Estados Unidos e o Canadá. Já recebemos mais de uma delegação para discutir o assunto, e o diretor executivo da Comissão Fulbright, interessado na criação de uma cátedra de estudos sobre os Estados Unidos.

Quais os maiores desafios nesse momento?

Um deles, e fundamental, é a questão da língua. Precisamos ampliar a proficiência dos nossos estudantes, sobretudo os de graduação, em línguas estrangeiras. Estamos ministrando, em acordo com a Faculdade de Letras, disciplinas de idiomas com propósitos acadêmicos. Começamos com o inglês e a novidade é que estamos trabalhando para garantir a oferta de francês e espanhol na mesma modalidade, neste segundo semestre. E em um futuro próximo, o alemão.

No entanto, não se aprende língua de um dia para outro, o ideal seria que os alunos chegassem ao ensino superior com um nível de proficiência bem maior do que o que ocorre hoje. Enquanto isso não acontece, fazemos o que está ao nosso alcance. Agora, por exemplo, abrimos inscrições para teste de nivelamento que não apenas selecionou para a disciplina Inglês para Fins Acadêmicos como também para medir essa demanda. Mais de mil estudantes se inscreveram para o exame .

Também estamos estudando a possibilidade de lançar edital de incentivo para que os cursos, sobretudo os de graduação, passem a ofertar regularmente, em inglês ou em outra língua estrangeira, algumas de suas disciplinas curriculares. Outro gargalo é nossa capacidade de atração de alunos estrangeiros. Queremos que a UFMG seja mais cosmopolita, mas com a cara de Minas. É como disse o Milton, sou do mundo, sou Minas Gerais. Para tanto precisamos logo enfrentar o problema do monolinguismo.