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Nº 1848 - Ano 40
09.12.2013


Encarte
09.12.2013

Guia para uma viagem saudável

Hospital das Clínicas mantém serviço de orientação a viajantes

Ana Rita Araújo

Ao preparar roteiro de viagem dentro ou fora do país, poucos brasileiros pensam em incluir um item fundamental – orientação especializada para prevenir ou minimizar o risco de adoecimento. E para os que acreditam que essa precaução se aplica apenas aos que visitam regiões pobres ou inóspitas, um dado surpreendente: todos os atuais casos de sarampo no Brasil são importados de países como Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e China. Os milhares de torcedores do Atlético que nos próximos dias se deslocam para o Marrocos para acompanhar a participação da equipe no Mundial de Clubes devem ficar atentos a especificidades locais (leia na página seguinte) e também à qualidade da água e de alimentos.

Os fatores a que o viajante está exposto ultrapassam o âmbito individual e alcançam o contexto da saúde coletiva, especialmente no campo das doenças transmissíveis, alerta a infectologista Marise Oliveira Fonseca, idealizadora e coordenadora do Centro de Atendimento aos Viajantes, vinculado ao Hospital das Clínicas da UFMG. Diante do crescente contingente de pessoas em circulação pelo mundo, o risco de reintrodução de doenças sob controle e de surgimento de novos agentes repercute no perfil epidemiológico de diferentes regiões do globo, destaca a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina.

Lembrando que a busca por essa modalidade de atendimento ainda não é rotina entre a população brasileira, Marise Fonseca explica que o aconselhamento e a instituição de medidas preventivas representam as providências de maior benefício nessa área, “uma vez que reduz a necessidade de consultas durante e após o retorno”.

De malas prontas para percorrer Ásia e Oceania durante um ano, o casal Andrea Márcia Xavier e Hélio Maciel de Paiva Júnior agendou consulta no Centro de Atendimento aos Viajantes. “Já estivemos em outros países, mas esta é a primeira vez que ficaremos fora por tanto tempo, por isso achamos necessário procurar orientações seguras”, explica Andrea. Ela destaca que visitarão países com alta incidência de doenças infecciosas, precário atendimento de saúde e áreas de difícil acesso a tratamentos. Residente em Natal (RN), o casal descobriu o serviço pela internet. “Só havia atendimentos assim em Belo Horizonte e em São Paulo”, relata Andrea, graduada em Odontologia pela UFMG.

Orientação dirigida

A coordenadora do Centro explica que a consulta deve ocorrer preferencialmente de quatro a seis semanas antes da viagem, para que a pessoa tome providências como atualização de vacinas e visita a dentista. Para agilizar o atendimento, que dura cerca de 40 minutos, o viajante, ao agendar a consulta, deve enviar informações prévias, como o roteiro e tempo de estada, e tipo de atividade programada – como safári, canoagem ou visita a grandes centros urbanos. “Isso nos ajuda a avaliar riscos e a dirigir nossas orientações”, pontua a professora. Segundo ela, a equipe do Centro – composta por alunos de graduação em Medicina e residentes de infectologia – precisa estar atenta a informações oficiais e extraoficiais de todo o mundo, pois a dinâmica de surtos de doenças é muito variável.

Para os que seguem para Marrocos e pretendem permanecer em centros urbanos, os riscos relacionam-se com o trânsito e encontros de massa. “É importante se afastar da movimentação, no caso de brigas, e estar junto de conhecidos”, sugere a professora. No caso dos turistas que agendaram pacotes que incluem dormir em tendas no deserto, os cuidados devem girar em torno de hidratação, uso de repelentes e roupas adequadas.

Embora doenças cardiovasculares e acidentes automobilísticos estejam entre as principais causas de morte de turistas, o aconselhamento do Centro focaliza sobretudo orientações quanto ao uso de vacinas e os cuidados com água e alimentos, iniciativas que figuram entre as mais importantes medidas de prevenção. “As doenças infecciosas apresentam elevada morbidade entre esse tipo de público, sendo a diarreia o agravo mais comum, mesmo quando o destino é um país desenvolvido”, destaca Marise Fonseca.

Outras situações de risco são as relações sexuais sem preservativo, doenças de altitude entre alpinistas, doença por descompressão entre mergulhadores e violência urbana. Durante as consultas, o viajante também é orientado a se precaver após o retorno. O recomendável é que ele procure assistência médica se, por exemplo, apresentar quadro de febre até três meses após sua volta e relate detalhes da estada. “A malária é um típico problema que se manifesta posteriormente. Por isso, o paciente deve informar que esteve em área endêmica, e a equipe de saúde precisa ser treinada para suspeitar e proceder ao diagnóstico rápido e ao tratamento imediato de doenças não endêmicas no local de moradia do viajante”, diz a professora.

Vacinas atrasadas

Levantamento realizado pelos alunos que integram o Centro revelou que de novembro de 2011 a setembro de 2013 foram atendidos 81 viajantes, mulheres em sua maioria (64%). O continente africano foi o destino mais visitado. “Chama a atenção o fato de que 45% dos viajantes estavam com o esquema vacinal para a idade desatualizado”, comenta a coordenadora.

O projeto de extensão funciona no Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias Orestes Diniz, no campus Saúde. As consultas, gratuitas, acontecem às terças feiras, das 17h30 às 21h, e devem ser agendadas pelo telefone (31) 3409-9825 ou 8600-1624. O Centro também atende grupos, como os de alunos de intercâmbio dos programas Ciência sem Fronteiras e Minas Mundi.

A Medicina de Viagem teve início informalmente nos anos 1970 como resposta à demanda de cidadãos de países desenvolvidos que se dirigiam para regiões em desenvolvimento. Hoje tem alcance multidisciplinar e conta com sociedade internacional (Internacional Society of Travel Medicine) estabelecida em 1991, congresso bienal e prova de título, o que exige do profissional capacitação e atualização. “No Brasil, é um campo relativamente novo e em expansão, ainda com poucos serviços de referência tanto na rede pública quanto na privada. Mas já começam a surgir pesquisas que geram teses e dissertações”, informa Marise Fonseca. Segundo ela, o núcleo também tem por objetivo a formação de profissionais de medicina e infectologia para esse campo de trabalho.

PARA QUALQUER LUGAR

Independentemente do destino, os viajantes são orientados a levar fotocópia do passaporte ou de outro documento, óculos extras e receita médica em inglês ou na língua do país a ser visitado, caso esteja utilizando medicamentos. Para evitar contaminações, devem tomar água engarrafada, de preferência gasosa, inclusive para higiene dentária, ou de fonte confiável, além de consumir alimentos cozidos, quentes, e carne bem passada.

Em caso de percursos aéreos ou rodoviários muito longos, devem-se movimentar ativamente as pernas ou usar meias elásticas compressivas, especialmente se houver casos de trombose na família. “Fazer alongamentos, beber bastante líquido e evitar uso de álcool são medidas muito importantes durante trajetos longos”, ensina a professora Marise Fonseca. Ela informa que piscinas cloradas são consideradas seguras, mas comenta que é desaconselhável nadar em lagos e lagoas desconhecidos.

Em deslocamentos para regiões com elevada incidência de insetos, devem-se usar repelentes e de preferência roupas claras, com mangas e calça compridas e calçados com meias sobrepostas à calça. “Perfumes provocam alergia e atraem insetos”, avisa a professora, sugerindo o uso de produtos de higiene sem fragrâncias. Ainda para evitar picadas de insetos, ela aconselha que o viajante, quando possível, procure dormir em locais com ar-condicionado, telas protetoras ou mosquiteiro, cuidando de manter a porta do quarto fechada ao sair para evitar a entrada de insetos.


Hélio Maciel e Andrea Xavier: orientações para um périplo pela Ásia e Oceania
Hélio Maciel e Andrea Xavier: orientações para um périplo pela Ásia e Oceania


Rumo a Marrocos

As orientações para o contingente de torcedores que estão se deslocando para Marrocos incluem a atenção com água e alimentos, em função principalmente da chamada Diarreia do Viajante, e com doenças prevalentes na região. Confira:

Cuidados

Riscos comportamentais

Rede de saúde

Rabat, Casablanca e Marrakech: boas condições de atendimento para casos que não se caracterizam como emergência. Pagamento em dinheiro.

Riscos urbanos

Trânsito intenso: recomenda-se prudência durante os trajetos, principalmente nas estradas de montanha e nas pistas não sinalizadas no sul do país. Viagens noturnas devem ser evitadas.