Busca no site da UFMG

Nº 1878 - Ano 40
29.09.2014



Encarte


Impacto Brasil

Dissertação propõe nova metodologia para avaliar relevância da produção científica nacional

Ana Rita Araújo

O Fator de Impacto (FI), índice bibliométrico internacional utilizado para medir a qualidade de publicações científicas, não é aplicável ao Brasil, assegura a pesquisadora Norma Eduarda da Fonseca, que acaba de defender dissertação coorientada pelo professor José Rachid Mohallem, do Departamento de Física. Por considerar que a métrica internacional está sujeita a deformações regionais, o estudo propõe um índice brasileiro. Segundo a autora do trabalho, a principal deformação encontrada foi a confirmação quantitativa de que artigos originados no país são publicados em revistas de menor impacto. Outra deformação importante foi o papel desbalanceado, em relação ao FI internacional, das publicações de brasileiros envolvidos em grandes colaborações estrangeiras.

A dissertação sugere que a avaliação científica com base no FI das publicações seja objeto de ampla revisão e que as agências de fomento utilizem métodos coerentes com o cenário brasileiro. Na tentativa de entender a forma mais adequada de calcular o fator de impacto para a avaliação da produção científica dos pesquisadores nacionais, Norma Fonseca comparou a classificação dos periódicos de física e de administração publicados em anos recentes, indexados na plataforma Web of Science, e levantou o número de citações dos artigos de brasileiros nas duas áreas. Por fim, observou que artigos brasileiros ou são menos citados ou publicados em revistas de menor FI. Ao comparar, por exemplo, artigos da área de física publicados em 2012 por pesquisadores do Brasil e do Reino Unido, constatou que “o número médio de citações de artigos brasileiros (acima de 20 citações) é de 30,85, enquanto o mesmo número para o Reino Unido é de 37,16”. Para a pesquisadora, “esse resultado, por si, sugere que o FI internacional não é o mais adequado para a avaliação da produção científica brasileira” e reforça a pertinência da introdução de novo índice, baseado unicamente nas publicações brasileiras. Artigo sobre o tema, envolvendo resultados parciais na área de física, acaba de ser aceito para publicação na Revista Anais da Academia Brasileira de Ciências.

Recursos

Na prática, muitos pesquisadores podem não receber recursos de agências de fomento por não terem seus trabalhos publicados em revista de alto fator de impacto, afirma Norma Fonseca. “Em geral, não é fácil para um brasileiro ter seus artigos aceitos em revistas com maior FI. Entre os critérios de publicação e de citação entra certa desconsideração, inclusive por editores, quanto à pesquisa originária de países em desenvolvimento. Há americanos, por exemplo, que só citam americanos”, comenta o professor José Rachid Mohallem. Tal realidade, segundo ele, pode ser constatada mesmo na área de física, na qual o Brasil tem destaque internacional. “A pesquisa mostrou artigos de brasileiros com o mesmo número de citações, mas publicados em revistas científicas de FI mais baixo”, reitera.

O Fator de Impacto Brasileiro (FIBRAS), proposto pela pesquisa, mede exclusivamente a produção científica de pesquisadores nacionais, excluindo artigos assinados por brasileiros em colaboração com grandes grupos estrangeiros. A aplicação da nova métrica revelou, em alguns casos, enormes diferenças dos valores internacionais. “Tais dados nos levam a questionar a adequação do uso desse indicador para o julgamento de cientistas brasileiros”, ressalta Norma Fonseca.

Para a grande maioria das publicações, os índices caíram com a aplicação do novo fator, enquanto para as demais, subiram. A revista de astronomia e astrofísica Icarus, considerada em 2012 de FI 3.19, foi avaliada pela métrica brasileira com índice 5.44, o que significa um salto positivo de 73%. Já a publicação Journal of High Energy Physics caiu de 5.62 para 1.87 (equivalente a 56%) quando avaliada pelo método proposto no trabalho de Norma Fonseca. “Usamos a mesma definição do FI internacional, mas utilizamos somente as publicações brasileiras e as citações feitas a elas”, explica o coorientador. Se consideradas, essas mudanças fariam o índice Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), usado para avaliação de projetos pelas agências de fomento, “sofrer mudanças sensíveis”, assegura a autora da pesquisa, que há quase 20 anos integra o quadro permanente de servidores técnico-administrativos da UFMG, como assistente em administração.

O estudo, orientado pela professora Maria Celeste Reis Lobo de Vasconcelos, da Fundação Pedro Leopoldo, constatou que, a partir de 2006, a área de Ciências Sociais Aplicadas (subárea administração) passou a incrementar a sua internacionalização com o aumento do número de artigos publicados em revistas indexadas na Web of Science. “Embora sem dados suficientes para gerar estatística confiável por periódico, a administração mostra globalmente as mesmas tendências da física”, observa Norma Fonseca. A pesquisa também recomenda calcular o FI brasileiro para outras áreas de conhecimento e considerar as semelhanças e particularidades interdisciplinares. 

Dissertação: O fator de impacto dos periódicos sob a ótica da avaliação científica no Brasil: estudo das áreas de física e administração
Autora: Norma Eduarda da Fonseca
Defesa: junho de 2014, no Mestrado Profissional em Administração da Fundação Pedro Leopoldo
Orientadora: Maria Celeste Reis Lobo de Vasconcelos (Fundação Pedro Leopoldo)
Coorientador: José Rachid Mohallem, professor do Departamento de Física da UFMG