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Nº 1878 - Ano 40
29.09.2014
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Encarte
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Itamar Rigueira Jr.
| Foto Fabíola de Paula |
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| Fialho: reorganização didática dos princípios da animação disneyana |
Em suas aulas no curso de Cinema de Animação e Artes Digitais da UFMG, o professor Antonio Fialho percebeu, em trechos de filmes que utilizava para mostrar movimentos diferenciados, que princípios fundamentais da animação de personagens sustentavam os experimentos. Motivado por essa constatação, Fialho, que havia destrinchado a metodologia da produção clássica em sua pesquisa de mestrado, optou por estudar no doutorado o experimento na construção do movimento.
A tese afirma que princípios há muito conhecidos continuam sendo aplicados na animação experimental de personagens, principalmente em ações secundárias envolvendo partes moles e apetrechos da figura (barriga, bochecha, cabelo e bijuterias, por exemplo). “A sugestão de movimento orgânico, com ações em tempos diferentes das partes articuladas, se mantém no trabalho experimental”, explica Fialho.
O pesquisador ressalta que o trabalho do animador é possibilitar que o personagem se mova por esforço próprio e sustentado por seus membros articulados, lançando mão da variação de ritmo nas ações e de seu impacto nas partes móveis do corpo. Segundo ele, o artista domina a prática, por exemplo, pela criação de posições intermediárias do personagem. Quando essas posições se tornam inventivas, a atitude do personagem sintetiza a expressão artística do animador, principalmente quando ele se movimenta de maneira singular (não naturalista).
“Um dos recursos criativos mais comuns envolve recriar a percepção de velocidade, deformando e reduzindo posições intermediárias ou suprimindo-as da ação do personagem”, diz o professor da Escola de Belas-Artes.
A tese começa por sugerir uma reorganização didática dos chamados princípios fundamentais da animação disneyana, considerando sua aplicação na atividade prática do animador: são eles os responsáveis por recriar o movimento com sustentação de peso e flexibilidade de personagens. A seguir, identifica e descreve o que é singularidade na animação de personagem com base nesses princípios, que foram amadurecidos na produção da indústria, desde as primeiras décadas do século 20, e influenciaram o mercado independente. Finalmente, Antonio Fialho utiliza a sistematização teórica desenvolvida na pesquisa para propor categorias para os tipos de movimento experimental.
Um dos caminhos para a construção dessas categorias é a distinção entre efeitos implícitos e explícitos. Os primeiros enfatizam a sucessão temporal na percepção do movimento, geralmente por meio de movimentos rápidos, em situações que exigem reação ou decisão abrupta. Um caso típico é o borrão na imagem que representa velocidade na ação do Papa-léguas.
Os efeitos explícitos realçam a sucessão formal, por meio de ações e reações exageradas que reorganizam as formas da figura. No filme Cinderella (EUA, 1950), dos Estúdios Disney, a protagonista sobe uma escada de maneira naturalista, enquanto o movimento do gato é estilizado, em deformação sinuosa do corpo para acompanhar os degraus, sugerindo que ele quer passar despercebido ao seu lado.
Nessa etapa de categorização, o pesquisador tece uma série de combinações de recursos, baseados em posições principais e intermediárias, que podem caracterizar a experimentação na construção do movimento. “O movimento experimental combina temporização e posicionamento das imagens para criar ações alternativas que acontecem em tempos diferentes, aparecendo como orgânicas”, comenta o pesquisador.
Antonio Fialho uniu experimentos próprios a ideias de autores como o animador da Disney Eric Goldberg e o canadense Richard Williams para apontar caminhos que ajudem animadores e pesquisadores a ampliar a normatização de movimentos alternativos. “Meu objetivo principal é instigar a experimentação na maneira de mover personagens, sempre com base na associação com os princípios fundamentais”, conclui.