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Mobilidade exige nova 'engrenagem' para as cidades, defendem participantes de encontro temático

terça-feira, 22 de julho de 2014, às 16h34

Diferentemente do que a distribuição dos espaços de circulação permite supor, a maioria das pessoas não utiliza veículo particular para fazer os seus deslocamentos nas cidades. Segundo dados da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), apenas 30% das pessoas se valem de carros e similares para se deslocar. Outros 30% utilizam o transporte público para ir de um ponto a outro da cidade.

O dado mais surpreendente, no entanto, é o que representa numericamente os cidadãos que se deslocam a pé: eles somam 40% da população. “A distribuição das vias e espaços da cidade não reflete essa realidade. São dados que demonstram desequilíbrio na forma como a cidade é estruturada em relação a cada sistema modal”, ressalta Natália Garcia, do projeto Cidades para Pessoas.

Natália Garcia, que visitou diversas cidades do mundo para colher experiências urbanas positivas e inovadoras, participou do Encontro Temático sobre Mobilidade Urbana, realizado na manhã desta terça-feira no auditório da Reitoria. Ela dividiu o palco do auditório com representantes de outros movimentos que trabalham em favor de mudanças na forma como as cidades se estruturam em relação à mobilidade e ao urbanismo.

Representantes do BH em Ciclo (associação dos ciclistas urbanos de Belo Horizonte) refletiram sobre o uso da bicicleta na cidade e fizeram balanço preliminar sobre a experiência de uso das bicicletas compartilhadas durante o Festival. Outro coletivo representado foi o Basurama, de atuação internacional, que realiza projetos de arte e design com resíduos dos processos de produção da sociedade de consumo.

Inclusão social
Integrantes do movimento Tarifa Zero BH, de Belo Horizonte, também participaram do Encontro Temático. Júlia Nascimento, mestranda em Arquitetura na UFMG e integrante da iniciativa, participou da mesa de debates e falou sobre a necessidade de mudança na compreensão do transporte público no contexto das cidades. “Precisamos deixar de entender o transporte como mercadoria e passar a encará-lo como direito, tal como saúde, educação, o que de fato ele é. Essa é a pauta do Tarifa Zero.”

Júlia lembrou uma realidade muitas vezes desconhecida das periferias e regiões menos abastadas das cidades. “Mais de 5% da população das grandes cidades do Brasil não utilizam o transporte público simplesmente porque não têm como arcar com os custos da tarifa. Portanto, no que diz respeito ao direito à cidade e à inclusão social, é crucial que o usuário deixe de pagar o transporte no momento em que usa”, afirma. Para ela, o custo da tarifa limita o direito de ir e vir.

Em sua pesquisa para o projeto Cidades para Pessoas, Natália Garcia buscou investigar justamente outras possibilidades de construção do urbano mundo afora, de forma a superar a dedicação prioritária ao trânsito de veículos. “No decorrer da história, para que as vias destinadas a veículos ganhassem linearidade, as vias reservadas, por exemplo, ao deslocamento a pé perderam linearidade. E o pior é que sai mais caro para a cidade que as pessoas andem de carro que por outros meios de locomoção, como bicicletas, ou a pé. É preciso repensar essa engrenagem”, pontua.

As conversas do Encontro Temático sobre Mobilidade Urbana foram mediadas pela professora Rita Velloso, da Escola de Arquitetura da UFMG, que coordena o Observatório das Metrópoles e pesquisa questões relacionadas a política e ocupação do território.

Fonte: Agência de Notícias UFMG